Não costumo partir da experiência para a Bíblia, mas, neste caso preciso fazê-lo.
Hoje consigo entender a importância do louvor, da adoração e da gratidão do povo de Deus e do que isso representa no céu a partir de uma experiência que tive aos oito anos de idade.
Nossa família era recém convertida e eu durante três meses fui atacado por demônios que me apareciam em sonhos e em visões (de olhos abertos). O medo se apoderou de mim, uma criança. Todas as noites, à mesma hora, eu tinha que acordar meus pais, aos sobressaltos, aterrorizado com os sonhos e visões. Mãos decepadas, cabeças que rolavam fora do corpo, serpentes, aranhas e figuras terríveis me assombravam todas as noites. Foram cenas que permanecem vívidas na memória.
Até que numa madrugada, às cinco da manhã vi luzes no forro da casa. O forro era de madeira, e pelas frestas entre as tábuas brilhou um enorme clarão. Um coral começou a cantar um cântico que nós não conhecíamos. Duas vezes o coral cantou: “Ó quão bom é o nosso Deus; tudo preparou para os seus; que por ele chegarão, satisfeitos à sua mansão”. Quando acordei meus pais para lhes relatar o que estava ouvindo, mamãe comentou: “São os anjos de Deus que vieram te libertar”.
No sábado seguinte quando fomos ao culto, ouvi o mesmo cântico entoado pela congregação: “Mamãe! É o mesmo cântico que ouvi de madrugada alguns dias atrás”. E só então fomos ver que o cântico era o 511 da Harpa Cristã. Uma das estrofes diz: “Se aqui trevas há, me iluminará; na tribulação nele os crentes firmados estão”.
Então os anjos aprendem os cânticos dos remidos!
Anos mais tarde como pastor e dirigente de louvor da igreja, depois de haver escrito meu livro O Ministério de Louvor da Igreja tive experiências semelhantes. Numa das ocasiões, durante uma conferência nos dias de carnaval no templo católico do seminário Maior de Viamão, durante um bom tempo os irmãos ouviram instrumentos musicais e vozes altissonantes. E todos os instrumentos musicais haviam cessado seu sonido. Os músicos largaram seus instrumentos para adorar, mas a mesma música e letra estavam sendo entoada por anjos. Um irmão gravou aquele momento durante uns três minutos.
David Tame afirma em seu livro O Poder Oculto da Música que os chineses acreditavam num tom celestial, isto é, quando os sons terreais misturavam-se aos celestiais. Acreditavam que havia um momento em que a música da terra tocava o céu, e encontravam o tom celestial.
Talvez por isso o cântico de Moisés (e do Cordeiro) é entoado pelos remidos que passam por grande tribulação (Ap 15.2-4).
Como os anjos me libertaram entoando um cântico da Harpa Cristã? Onde o aprenderam? Obviamente ouvindo os remidos cantarem no culto a Deus! E onde aprenderam a cantar e a tocar instrumentos musicais, ecoando “aleluia” durante a adoração na conferência da igreja? Aprenderam com a igreja!
A partir dessas experiências pessoais entendo por que existem tanto louvor e cânticos nas escrituras. E também me pergunto se hoje os anjos estão aprendendo alguma coisa com o louvor da igreja – com músicas e letras tão banais, desprovidas de conteúdo bíblico? Essas duas frases me levam a considerar alguns pensamentos com meus leitores.
Acredito que Samuel foi o idealizador e executor de uma estratégia de louvor que começou em seus dias e se estendeu pelo reino de Davi, de Salomão até o reino de Ezequias 350 anos depois.
As escolas de profetas. Samuel começou escolas de profetas ainda no tempo dos juízes, escolas que tiveram continuidade até os dias dos profetas Elias e Eliseu 350 anos depois. Havia música nessas escolas de profetas? Não só havia música: A música era essencial na vida dos adoradores. Saul, depois de ser ungido por Samuel rei de Israel foi avisado de que haveria de se encontrar com um “grupo de profetas que descem do alto, precedidos de saltérios, e tambores, e flautas, e harpas, e eles estarão profetizando” (1 Sm 10.5). Profetizando como nós, os pentecostais, dizendo, “assim diz o Senhor?”. Não. Os discípulos dos profetas aprendiam que antes de falar aos homens, tinham que bendizer e louvar a Deus. Profetizavam para Deus. Diziam a Deus de sua bondade, amor, cuidado. Lembravam a Deus dos seus feitos na história de Israel; engrandeciam-no por tudo que fizera ao povo, como no Salmo 136. Seus tambores rufavam, os acordes ressoavam, e a língua deles declarava a grandeza e majestade de Deus.
Como você acha que Deus se sentia? Feliz. Muito feliz. E os anjos mais felizes ainda por verem seu Senhor tão feliz!
Por isso, quando Saul e seu servo chegaram a Gibeá “um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; o Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles” (1 Sm 10.10). Esses profetas não estavam profetizando prosperidade, pujança, nem dando palavras de ânimo para Saul; estavam profetizando para Deus, e Saul caiu no “embalo” e começou a glorificar a Deus, profetizando!
Quase quarenta anos depois Saul experimentou novamente o que é viver no meio de adoradores. Em sua ferrenha perseguição a Davi enviou três guarnições de soldados para o prenderem. “Então, enviou Saul mensageiros para trazerem Davi, os quais viram um grupo de profetas profetizando, onde estava Samuel, que lhes presidia; e o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram” (1 Sm 19.20).
Samuel liderava o louvor profético diante de Deus. Os soldados começaram a profetizar, isto é, a engrandecer a Deus. Depois que os três grupos de emissários ficaram na casa dos profetas profetizando diante de Deus, veio o próprio Saul – não para profetizar, mas prender a Davi. Só não contava com um detalhe: O Espírito de Deus estava no meio do louvor daqueles profetas.
“Então, foi para a casa dos profetas, em Ramá; e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, que, caminhando, profetizava até chegar à casa dos profetas, em Ramá. Também ele despiu a sua túnica, e profetizou diante de Samuel, e, sem ela, esteve deitado em terra todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?” (1 Sm 19.23-24).
Que escola de adoradores! Que escola de profetas! E o velho Samuel não abandonou seu ofício: Estava ali presidindo os louvores dos profetas e dos seus discípulos. E os anjos felizes, tomando os louvores e levando para Deus os tributos de seu povo.
E como afirmei, trezentos e cinquenta anos depois nos dias de Elias as escolas de profetas ainda funcionavam. Portanto, havia louvores contínuos a Deus em Israel (2 Rs 2.3-5).
O turno de louvor 24 horas. Creio que Samuel orientou a Davi para que estabelecesse uma ordem levítica que permanecesse as vinte e quatro horas em adoração, profetizando diante de Deus. E quando tudo começou? No dia em que a arca foi trazida para Jerusalém. “Naquele dia, foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos o Senhor” (1 Cr 16.7). E ali estavam Asafe ressoando os címbalos, Obede-Edom e Jeiel com alaúdes e harpas, Hemã e Jedutum com trombetas, e címbalos, e instrumentos de música de Deus. Quenanias tinha o encargo de dirigir o canto, porque era perito nisso! (1 Cr 15.22; 16.5).
Atenção músicos despreparados! Atenção dirigentes de louvores. Quenanias era entendido não apenas em música, mas entendia o que Deus queria ouvir; sabia que tipo de letra e que tipo de música entoar! Se fosse hoje Quenanias não copiaria músicas de CDs nem a música de sucesso, só porque toca na FM ou é anunciada pela Sony. Quenanias consultava a Davi, que consultava a Deus, e sabia o que agradava a Deus. E os anjos viviam atarefados, subindo e descendo para levar os louvores do povo a Deus!
Dói o coração participar de alguns cultos em que os dirigentes e o grupo de louvor parecem perdidos, sem direção. Pulam de uma música pra outra porque não têm direção espiritual. Não sabem se agradam a Deus ou aos irmãos. E preferem agradar aos irmãos.
Sim, porque quando Davi estabeleceu a ordem de músicos levitas para entoarem a Deus as vinte e quatro horas, ele mesmo se tornou chefe dos músicos (1 Cr 25.6). Asafe, Hemã e Jedutum ficavam debaixo das ordens do rei!
Seguindo uma linha de louvor. Samuel deve ter orientado bem seu pupilo. Porque os 288 cantores e músicos deveriam engrandecer, bendizer, louvar e enaltecer a Deus seguindo sempre a mesma linha: Louvar ao Senhor porque ele é bom e a sua misericórdia dura para sempre. “Porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre” (2 Cr 5.13).
E assim, o sonho de Samuel perpetuou-se em Davi. Agora, noite e dia, turnos de doze cantores ficavam a cada hora diante de Deus, entoando, profetizando e louvando a benignidade do Senhor (Veja isto em 1 Crônicas 25.1-8 e 2 Cr 5.1-14). E essa prática se perpetuou durante séculos e pode ser vista nos dias de Josafá (2 Cr 20).
No dia da inauguração do templo os 288 cantores e músicos uniram-se num único turno, e sua música e seus louvores trouxeram a Presença do Altíssimo. Uma nuvem de glória desceu dentro do templo e os sacerdotes nem podiam ficar em pé “por causa da nuvem, porque a glória do Senhor encheu a Casa de Deus” (2 Cr 5.14). Claro, com tanto anjo descendo, o próprio Deus desceu para participar do evento!
Hoje os templos retinem com a música; as caixas de som estremecem nossos ouvidos; levam-nos a ter taquicardia; ensurdecem-nos, mas não trazem a Presença. Que tipo de música estamos entoando? Porque, ao que parece os anjos andam meio distantes de nossos cultos de celebração!
Imagine esta cena dos anjos que descem a terra e participam de nosso culto a Deus. Ao retornarem, eufóricos, dizem aos demais: – Aprendemos um novo louvor. Um grupo de remidos estava exaltando a obra do Redentor; e exaltando a obra do Criador. E como estavam felizes. Querem ouvir a canção? E entoam para os demais anjos o que ouviram na terra!
No entanto, são sábios tais anjos, porque devem conhecer parâmetros claros para identificar o verdadeiro louvor. Sim, música e letra devem ser teologicamente corretas! E os anjos aprendem os cânticos, sem se deixar levar por novidades.
Do ponto de vista bíblico os cânticos nunca devem exaltar o homem; nunca falar do que eu posso ter ou conquistar. Os cânticos sempre falam do Redentor e do Pai. São estes que os anjos devem aprender. Imagine os cânticos que falam de nossas conquistas; de tudo o que ganhamos; de nossos sonhos… Deus não vai querer ouvir tais coisas, porque faz parte de seu domínio e caráter não dividir sua glória com ninguém.
O louvor deveria ser em alta voz e com alegria (1 Cr 15.16), porque quando se exalta a Deus e quando se exalta a obra redentora de Jesus Cristo, a alegria deve brotar dos corações dos adoradores. Alguns cultos são mais tristes que cultos fúnebres; outros parecem festas o tempo todo. Alta voz e alegria podem servir para celebrar a Deus, engrandecendo-lhe o Nome.
Preste atenção nas letras dos cânticos. Se exaltam a obra de Cristo, se exaltam a obra do Criador; se falam das grandezas de Deus, se exaltam as vitórias de Deus, encontram ressonância no céu; mas quando falam do que eu quero ser – a menos que eu queira ser como Jesus – do que quero fazer e dos meus sonhos, não encontram eco nos ouvidos de Jesus e do Pai.
Talvez por isso aprenderam o hino 411 da Harpa Cristã, porque exalta a obra libertadora de Deus. Talvez por isso alguns cânticos dos hinários sejam mais apreciados pelos seres celestiais do que as novas melodias que se ouvem na terra, mas cujas letras são para o homem e não para Deus.
Você viu como é o cântico de Moisés do Cordeiro em Apocalipse 15? Percebeu a letra? Percebeu a letra do Salmo 136? Do Salmo 29?
Por isso os discípulos de Samuel, e todos os que freqüentavam a escola dos profetas aprenderam que todo louvor e honra e glórias sejam dados a Deus o Pai; e nós a igreja aprendemos que devemos louvar também ao Filho, como em Apocalipse 5.
Se a igreja entendesse a importância do louvor a Deus e da adoração ao nome do Senhor Jesus Cristo não limitaria os cânticos a um ou dois hinos do hinário, nem tão pouco limitaria seu louvor a cânticos que estão na moda. A igreja aprenderia que Deus se alegra quando o seu povo lhe presta honras e louvor, e escolheria cânticos que levassem o louvor nessa direção. E perpetuaria o sonho de Samuel e de Davi. Afinal, a igreja por ser povo remido tem um louvor que os anjos anelam conhecer.
Quem sabe os anjos querem aprender novos hinos, mas não os encontra em nossos cultos. Quem sabe descem até nós buscando levar para Deus o precioso louvor, e não o encontram.
Ainda ouço a melodia dos anjos no forro do quarto onde eu dormia – e lá se vão cinquenta e cinco anos. Por isso em 1982 escrevi o cântico do Salmo 138: Na presença dos anjos a ti cantarei louvores!
Em Números 11.25 os líderes profetizaram diante de Deus. Os discípulos dos profetas também profetizavam diante de Deus. Neste sentido somos o povo que profetiza diante de Deus!
Depois escreverei mais sobre este tema.
Prezado pastor, sei que já faz alguns anos que o senhor postou isso, mas só agora achei no site.
Eu tive uma experiência parecida; estava ministrando louvor, num culto simples, meio de semana, igreja vazia… o grupo tinha apenas violão, bateria e um saxofone, além das vozes. De repente ao entoar a música “Meu respirar” do Vineyard, comecei a ouvir sons de orquestra, baixo, muitas vozes cantando junto. imediatamente o Espírito disse ao meu coração: hoje o som da terra se uniu ao som do céu!
Foi uma experiência incrível! Nunca mais ocorreu isso e lá se vão uns 10 anos e nunca tinha ouvido alguém falar de uma experiência parecida. Deus é maravilhoso!!!
Quando o som da terra se funde com o som do céu. Fantástico!
A paz do SENHOR JESUS CRISTO
Pr. João de Souza, primeiramente quero louvar a DEUS por ter usado o senhor para escrever este livro; ele está me ajudando muito no ministério de louvor, é uma benção de DEUS e eu ainda não o terminei de ler mas já aprendi muito com ele. Gloria a DEUS.
Pr. Quero lhe pedir para o senhor me enviar o link do YouTube ou de algum outro lugar desse louvor que sitou nessa parte do livro: “Por isso em 1982 escrevi o cântico do Salmo 138: Na presença dos anjos a ti cantarei louvores!”
Desde já agradeço. Que DEUS continue abençoando e te usando em nome de JESUS