Preparando um povo para o século XXI

Não sei por que alguns pastores continuam tão apegados a algumas das tradições antigas que deixaram de ser funcionais nos dias de hoje. Mudam-se os costumes, nem por isso muda-se a ortodoxia da igreja. A sã doutrina estabelecida pelos apóstolos do primeiro século que ensinaram sobre vida de retidão e de mudança social continua igual, o que mudam são os costumes conforme a cultura de cada povo.

Comecemos pelos usos e costumes.

1. Muitos pastores ainda confundem espiritualidade com vestimentas e adereços. Os usos e costumes de alguns grupos pentecostais são ainda frutos do velho catolicismo romano. Quando a igreja pentecostal chegou ao Brasil a igreja católica romana não permitia que as mulheres assistissem missas de calças compridas e de cabelos curtos. Era um costume social da época.

Os pentecostais para não ferirem nem escandalizarem a igreja católica mantiveram os costumes da época. Os costumes mudaram, mas os pastores pentecostais não. Os primeiros missionários mantiveram a mesma estratégia dos costumes para não escandalizar a sociedade. Mas esta mudou, enquanto os crentes continuam se vestindo como nas primeiras décadas do século XX.

Lembro-me de meu pai, na década de 1950 saindo aos domingos para o parque da Redenção e para tomar chope na Praça XV de Porto Alegre de terno e gravata, porque na época, a moda era que os homens colocassem seu melhor traje aos domingos (terno e gravata) e que as mulheres usassem seu melhor vestido. Era a moda. O mundo mudou. Hoje só usam terno e gravata aos domingos os crentes… Quando se vê alguém de terno e gravata num domingo já se sabe que é pastor ou um crente pentecostal.

Como você pensa que vai ganhar os jovens e adolescentes vestindo-se como se vestem os executivos durante a semana?

Tivemos uma overdose de usos e costumes. Gostávamos de pregadores que se vestiam de lindos ternos. Empurrávamos as pessoas para o altar na hora do apelo. Desenvolvemos um tipo peculiar de maneiras de usar o púlpito. Mas, isso tem de desaparecer. Os jovens estão fartos dessa falsidade. Não precisamos agir assim para aparecermos sobrenaturais.

Usar bonés nos cultos e roupa esporte é questão cultural. O mais difícil é quando os jovens vêm à frente de bonés para receber imposição de mãos. Mas, é um problema deles!

2. Muitos pastores resistem em inovar na arte musical e intercambiar o antigo e o novo nos cultos da igreja.

Na década de 1960-70 nos fixávamos nos hinários, e cantávamos os “corinhos” para dinamizar o culto (desde aquela época as pessoas queriam inovar sem perder os cânticos dos hinários). Mas, tem gente que vive do passado e quer cantar apenas cânticos dos hinários. A nova geração está mais além dos hinários. É possível mudar a liturgia e ainda assim manter alguns cânticos antigos, corais, etc. Aliás, corais com vozes e com expressões corporais. A nova geração tem estilos musicais diferentes de nosso tempo, e se quisermos alcançá-la teremos que atualizar nossa hinódia.

Sempre é bom unir o antigo ao novo. Corais bem ensaiados ao lado de bandas e grupos de louvor mais dinâmicos. Podem-se mesclar os grupos e estilos. Pode ser que os mais velhos não consigam adaptar seus ouvidos às novas linhas melódicas, mas não devem impedir que os jovens se expressem com cânticos diferentes. Algumas denominações perderam uma geração de adolescentes e jovens por não atualizarem sua lista de cânticos.

3. Resistem em trazer para os cultos uma ordem de culto mais dinâmica. Gosto muito dos cultos dinâmicos, e não me refiro àqueles em que as pessoas ficam uma hora em pé entoando cânticos numa mesma linha melódica, mas aos cultos em que os estilos musicais variam; em que as pregações não sejam tão demoradas, mas que sejam também mais dinâmicas. Hoje podemos usar da tecnologia para projetar no telão os pontos de nossas pregações, slides e filmes ilustrativos. As pessoas estão cansadas de cultos demasiadamente litúrgicos e também demasiadamente longos. O meio termo é possível. Vivemos numa sociedade tecnológica dinâmica em que as celebrações do povo de Deus têm de ser dinâmicas.

4. Certos pastores são como eucaliptos: Não deixam crescer nada ao redor deles. São os pastores faz-tudo! As pessoas querem participar mais das atividades, e os obreiros querem se fazer mais presentes nas decisões da igreja. Não existe mais espaço para o pastor ditador; aquele que não costuma consultar seus colegas. Um sobrinho meu costuma chamar esses pastores de pastores-eucaliptos porque nada cresce ao redor deles; abafam tudo que estiver ao seu lado.

Algumas igrejas se tornaram mais dinâmicas porque não adoraram uma forma de governo episcopal nem congregacional em sua forma de governo: Conseguiram fazer que os dois sistemas funcionassem juntos. O epíscopo (líder, bispo, pastor presidente) toma as decisões com o presbitério ou ministério (composto por pastores, evangelistas e presbíteros) que representam o povo. Isso é liderança em equipe.

No Novo Testamento Paulo tinha em sua equipe pessoas multirraciais e com idades diferentes, incluindo algumas mulheres. Veja Romanos 16.1-16.

5. Os pastores precisam saber que o povo anda à procura de um discipulado relacional. No passado os crentes eram espectadores que edificavam suas vidas espirituais em torno de cruzadas e grandes campanhas. Na era digital deve-se pastorear fazendo-se uso da tecnologia. Os jovens não querem ouvir pregadores que chegam em carros de luxo e depois da pregação fogem pela porta dos fundos do templo. Eles querem interagir com os pregadores e pastores. Os jovens querem se relacionar com seus líderes ou pais espirituais que estejam dispostos a gastar tempo com eles.

Mas, alguns pastores de igrejas são mais ausentes de suas congregações que certos pregadores. Tais pastores não querem ser incomodados, e não gostam desse discipulado relacional, até porque num discipulado assim as fraquezas se tornam mais evidentes.

6. É necessário fazer uso da tecnologia para alcançar a nova geração. Muitas igrejas tentam conquistar a geração jovem sem uma mídia digital. Não fique com medo de mudar. Se uma criança consegue usar um celular, um iPhone, você também pode aprender a usar dos recursos tecnológicos. Hoje a maioria das pessoas mantém uma página de relacionamento (Orkut, MSN, Twitter, Facebook, etc.). Deus quer usar todos os novos meios de comunicação para levar a verdade do Evangelho. E, com esses meios de comunicação pode-se pastorear eficazmente. Visitas pastorais? Só as emergenciais! Ou as relacionais, isto é, quando visita-se uma família para almoçar ou ter um tempo de comunhão!

7. Não fique parado e estacionado no lado de lá da velhice. O Espírito Santo é dinâmico. Em lugar algum das escrituras o Espírito Santo deixou modelos de cânticos e de cultos, e agiu assim para não inibir as futuras gerações de se expressarem livremente diante de Deus em sua cultura e com a utilização de seus avanços científicos. Abra sua vida e ministério para o novo que Deus quer lhe dar.

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