Confissões de um sessentão!

Quando somos jovens, costumamos esconder sentimentos e faltas, na tentativa de parecermos perfeito, sem pecado. Um santo. Nenhum jovem gosta de se mostrar fraco ou de confessar fraquezas. Mas, quando passamos dos sessenta anos de idade, e conquistamos tudo o que queríamos – que não é o meu caso – já não escondemos nossas fraquezas, e falamos francamente sobre os temas da vida sem qualquer problema.

Dizem que aos sessenta entramos na terceira idade. Bobagem. E que entramos na melhor idade. Não sei quem inventou essa bobagem de que depois dos sessenta entramos na melhor idade. Mas, que melhor idade! O INSS vai minguando a aposentadoria; e quando mais precisamos de consultas médicas já não conseguimos pagar planos de saúde, de tão exorbitantes que são os preços. Diferentemente se a pessoa é aposentada como funcionário do governo ou de alguma empresa mista do governo. Neste caso, os “velhinhos” podem passear porque dinheiro não lhes falta! Mas, se você é aposentado apenas pela iniciativa privada, seu salário minguará na mesma proporção que você míngua! Você murcha e o salário também! Dizem que é a idade do condor – começa a doer em tudo que é lugar do corpo.

Faz quatro anos que entrei na chamada “melhor idade”, que nada de melhor idade tem. Sim, existem algumas vantagens na minha idade, como ter preferência em filas, etc., mas, raramente fico em filas, porque pagamentos faço-os pela Internet. E, quando preciso entrar numa fila, como não tenho cara de sessenta anos sempre desconfiam de mim, e me olham de soslaio imaginando que sou um aproveitador, um fura-fila. O que esperam? Que eu com sessenta e quatro anos ostente uma cara de velhinho?

Mas, uma coisa boa dessa idade é que a gente pode fazer confissões. E todos nos ouvem. Talvez nos ouvem por respeito ou porque nos acham loucos; com cara de bobos!

Pois eu estava confessando minhas fragilidades enquanto ministrava a palavra de Deus para os meus pares – os obreiros, a maioria bem jovens!

Falei pra eles que hoje os obreiros fazem muito, mas têm uma vida pobre espiritualmente. E comecei a comparar os dias de hoje com o passado, e de como desperdiço meu tempo precioso. Quando jovem, não tínhamos computador, Internet, sites de relacionamentos, celulares, tantos canais de televisão e aproveitávamos o tempo para orar, estudar a Bíblia e visitar nossos amigos. A gente levava duas horas de ônibus ou a pé pra ficar um tempo com os amigos. Os bondes eram lentos e sacolejavam.

Hoje damos os parabéns pela Internet, e se possível dentro de cento e quarenta caracteres no Twitter, no MSN, no Orkut, no Facebook e em tantos outros sites de relacionamentos. Nem nos lembramos dos amigos, quem nos lembra mesmo é o computador! Até os cartões são virtuais, frios, gelados, impessoais. À medida que o mundo ficou menor, menor ainda ficamos nós! Claro que voltei a fazer contatos com amizades antigas, que nem sabia onde andavam, graças aos sites de relacionamentos.

E quanto tempo desperdiçamos na frente da televisão e no computador. Este, então toma nosso precioso tempo. Liga-se o computador, e, logo que você liga, mesmo estando offline imaginam que você está on line e lhe chamam. Aí você precisa abrir vários sites para ver o que seus amigos estão lhe dizendo, ou fazendo. E lá se vai uma hora de seu precioso tempo.

Indiscutivelmente, o computador me facilitou a vida. Não preciso datilografar na velha Remington Rand, errando e usando corretivos. Posso pesquisar, copiar, colar, investigar, pagar as contas sem ir ao banco, ver meu saldo. Mandar livros para as editoras, contratos, artigos etc. Sem sair de casa. Isso é bom? É e não é! Porque ainda acho que preciso ir ao Banco, porque lá sempre encontro algum amigo; um irmão da igreja. E também aos correios onde vejo novas caras todos os dias.

Que a tecnologia nos facilitou a vida, disto não tenho dúvidas. Que meu celular faça tudo e tenha TV é bom. Mas, meu tempo com Deus vem sendo prejudicado sistematicamente por toda essa modernidade.

E falei pra eles de quando era jovem e gastava a noite toda, em vigília pessoal, à luz de lampião, estudando a Bíblia e orando na mesa da cozinha, aquecido pelo fogão a lenha acompanhado de meu gatinho. A família dormia e eu vigiava. Deus viu tudo e me recompensou com sua graça. Viajava 40 ou 50 horas de ônibus para pregar pra uma meia dúzia de irmãos; mostrar-lhes o propósito eterno de Deus, fazer novos discípulos. E Deus viu.

Mas, hoje, quanto tempo jogado fora! Desligo o computador e ele fica ali me tentando. Desligo a televisão, parece que a sala fica vazia e que o jogo de futebol me chama. Enquanto isso vou perdendo aquele desejo de Deus. E não estou só! A maioria dos pregadores não precisa orar nem estudar a Bíblia para pregar, basta acessar algum site, até mesmo o meu, e copiar esboços! Vou tirar meus esboços do site! Os caras estão até escrevendo livros tendo por base meus sermões!

Confesso, portanto, que preciso voltar a ter fome de Deus! Preciso voltar a ter fome das coisas espirituais como acontecia no passado. Preciso ficar na companhia de pessoas, dos velhos amigos… Mas, este último desejo foi frustrado várias vezes. Porque quando chego na casa deles, estão tão ocupados nas mesmas coisas que eu estava, que não me dão atenção.

Na sala deles a TV está ligada. Tem outra na cozinha atrapalhando nossa conversa. Em cada quarto dos filhos uma TV e um computador ligados na Internet. E tem outra na sala íntima da família!

E, ao regressar pra casa, desolado, descubro que a tecnologia e a modernidade afetou também os meus amigos. E meu desejo de ter amigos e de revê-los vai pro brejo!

Vou recorrer a Deus. Pelo menos sei que ele não é viciado em computador. Seus auxiliares se encarregam disso. Quando falo, ele me ouve!

Se com sessenta e quatro anos de idade fiz essas confissões, imagine quando eu chegar aos oitenta!

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