Ciúmes e inveja são duas coisas distintas. Ter ciúmes não é pecado; o pecado é deixar o ciúme arder de inveja. Explico. A escritura afirma que Deus sente ciúmes de seu povo; o Espírito Santo sente ciúmes de nós. Ciúmes é o zelo por aquilo que nos pertence e que não queremos perder. Diferentemente da inveja. Esta é o desejo de possuir aquilo que não é nosso. Aí reside a diferença.
Nos dez mandamentos Deus fala da inveja, a obsessão de querer possuir o que o vizinho tem, por isso, não devemos cobiçar a mulher do próximo nem a propriedade do vizinho. Não nos pertencem. Quanto ao ciúme, ou zelo, é bem diferente. Temos de zelar por aquilo que nos foi dado. Não podemos cobiçar o carro do próximo, mas podemos zelar pelo nosso carro. Quando emprestamos o carro, nos preocupamos como nos será entregue; se amassado, sujo ou o quê. É zelo. Nos pertence. Não queremos perdê-lo. É ciúme por algo que nos sai caro e que nos pertence. Diferentemente do desejo incontrolável – inveja – em ter um carro como o do vizinho.
Deus sente ciúmes de nós porque lhe pertencemos e não quer nos perder para o diabo. “Fez Judá o que era mau perante o Senhor; e, com os pecados que cometeu, o provocou a zelo, mais do que fizeram os seus pais” (1 Rs 14.22). Ou como afirmou Tiago: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg 4.5).
A diferença entre as duas palavras no idioma português e seu sentido passou desapercebida aos tradutores da Bíblia que deveriam cuidar para colocar “zelo” em lugar de ciúmes e “inveja” no seu lugar apropriado. A Lei de Moisés trata da questão do ciúme do marido, quando sua esposa o abandonar com outro homem e orienta o tipo de sacrifício a ser feito. Não é errado ter ciúmes da mulher que o abandona; errado, é ter inveja da mulher do próximo. Deus formou a igreja, e além de outros propósitos com ela, no seu plano eterno quis colocar em ciúmes o povo judeu, porque esta era a nação de Deus. Como o povo de Israel não lhe foi fiel, ele, se “casou” com a igreja; “Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes” (Rm 11.11).
Por exemplo, a palavra ciúmes no texto de Romanos 10.19, não é apenas Zeloo no grego, mas parazeloo, indicando comparação. Os judeus haveriam de ver um outro povo sendo chamado pelo nome de Deus e teriam ciúmes deste povo. “Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira”.
Os apóstolos orientavam os irmãos a não terem ciúmes um do outro, porque na igreja de Atos não poderia haver ciúmes, visto que todos eram iguais, especialmente entre os obreiros. Isto é, por que ter ciúme de meu irmão? Ambos somos propriedades de Deus, e isto basta! “Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem” (1 Co 3.3). E que ciúme era este? Os irmãos passaram a ter problemas entre eles porque uns seguiam a Paulo, outros a Pedro e outros a Apolo, e os mais espirituais, a Cristo. Havia ciúmes entre eles pela liderança!
O ciúme existia entre os discípulos antes da descida do Espírito Santo, e houve até mesmo uma disputa entre eles para saber quem era o maior. Jesus tratou deste assunto com muita clareza. Ele usou o desejo da grandeza, ou ambição por querer ser o maior no reino, e redimiu este desejo – pois existe lugar para ambição no Reino: “Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Mc 10.43). O desejo de ser grande é correto – agora, torne-se grande sendo servo dos demais. Ele transformou o egoísmo em “outrosísmos”: servir aos outros. Ele colocou a necessidade da pessoa em querer ser grande no seu lugar certo e pôs, o desejo e a pessoa a funcionarem a favor do reino.
Depois, continuou: “e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos” (Mc 10.44). Se você quer ser grande, tem de primeiro ser servo de todos; se quiser ser o primeiro, entre os grandes, tem de ser escravo de todos. Assim, o grau de grandeza é determinado pelo grau da auto-doação. Torne-se um servo e será grande; um escravo, e será o primeiro.