Nova Era, já era!

Antes que o leitor pense que estou descartando totalmente a existência da Nova Era, religião que quer se tornar dominadora universal, quero afirmar que o que quero dizer é o contrário do título que epigrafa meu artigo. É que nas décadas dos anos 70 e depois nos anos noventas a Nova Era como religião era um bicho aterrador aos evangélicos.

Metia medo porque víamos nela a precursora, a onda profética da vinda do anticristo e de um governo mundial. Na ocasião, lutamos, escrevemos, combatemos e oramos contra essa praga religiosa engendrada nos subterrâneos do Inferno.

Durante alguns anos a Nova Era parou de fazer congressos e de se apresentar com sua verdadeira identidade, certamente por haver encontrado entre os verdadeiros cristãos muita oposição. Pois a Nova Era como religião não morreu. Seus membros de maneira inteligente e sutil, aliás, peculiaridade apontada por Jesus como própria de Satanás, vem atuando de maneira progressiva para se tornar um agente da religião universal, ou de um governo mundial.

Eu até havia parado de pensar na Nova Era achando que ela estava morta, quando fui despertado por um artigo do filósofo Olavo de Carvalho, O estupro das soberanias nacionais, publicado no Diário do Comércio de 20 de março de 2006. Na realidade, quero ser justo e honrar um de meus leitores que me enviou um correio eletrônico pedindo minha opinião sobre o artigo. Como sou admirador e leitor de Olavo de Carvalho e como ele mesmo em seu site nos autoriza a publicar e mencionar seus artigos citando a fonte, transcrevo a seguir, que diz o articulista, no seu site www.olavodecarvalho.org:

A ONU está firmemente decidida a tornar o abortismo obrigatório em todas as nações do mundo, sob pena de sanções econômicas. É a mais vasta e brutal interferência uniformizante que um poder transacional já ousou fazer em países nominalmente soberanos. A intromissão vai furar a casca jurídica e administrativa e ir direto aos fundamentos de cada sociedade. Será a extirpação completa das raízes morais e religiosas milenares de culturas inteiras – e não é preciso dizer que junto com esses fundamentos irão embora as respectivas identidades nacionais.

Nomeada e paga por Estados independentes, a burocracia internacional da ONU e da CE se empenha ativamente em destruí-los e em erguer-se acima deles como governo mundial. A decisão explícita nesse sentido já está tomada desde 1994: “Os problemas da humanidade já não podem ser resolvidos pelos governos nacionais. O que é preciso é um Governo Mundial. A melhor maneira de realizá-lo é fortalecendo as Nações Unidas” (Relatório sobre o Desenvolvimento Humano).

Até o momento, a imposição desse novo poder era camuflada e sutil. Decisões da alçada dos governos e parlamentos iam sendo, pouco a pouco, transferidas para comissões técnicas transnacionais, inteiramente protegidas de qualquer fiscalização pelos eleitorados. A soberania política, jurídica, econômica e militar das nações ia sendo cortada fatia por fatia, lentamente, sem que os povos afetados recebessem informação em tempo de organizar-se para reagir. Uma autêntica “operação salame” em escala global. Foi assim que a burocracia internacional conseguiu impor programas uniformes em matéria de educação, saúde, economia, etc., até mesmo às nações mais fortes e orgulhosas (a total devastação do ensino público americano foi obra da ONU, implantada com a cumplicidade de Jimmy Carter e George Bush pai). A obra-prima do maquiavelismo anestésico veio quando a Inglaterra, tradicionalmente refratária à promiscuidade internacional, consentiu em ceder ao escritório da Comunidade Européia, em Bruxelas, os poderes de decisão do governo de Londres quanto a orçamento, comércio, transportes, defesa nacional, relações internacionais, imigração, justiça e direitos humanos, reduzindo o Parlamento à condição de assembléia local subordinada (v. <http://www.olavodecarvalho.org> ). Uma pesquisa do jornal The Sun mostrou que 84 por cento dos ingleses ignoravam tudo a respeito.

A decisão quanto ao aborto assinala o que Mao Tsé-tung chamaria “salto qualitativo”: uma lenta acumulação quantitativa de fatores homogêneos muda, de repente, a natureza do processo. Décadas de manipulação sorrateira tornaram as nações suficientemente passivas para curvar-se, sem o mais mínimo questionamento, à imposição ostensiva de uma nova lei moral, contrária a tudo em que acreditaram durante séculos ou milênios.

Se há uma situação em que faz sentido falar de “genocídio cultural”, é essa. E não é preciso dizer que novas medidas do mesmo teor virão nos próximos anos, varrendo do mapa símbolos, valores, costumes e tradições que desagradem ao autonomeado governo do mundo. A profundidade e abrangência da mutação planejada vai além de tudo o que a imaginação banal dos politólogos acadêmicos e dos analistas econômicos da mídia pode hoje conceber. De um lado, a substância ideológica dessa revolução é extraída diretamente do materialismo revolucionário do século XVIII: trata-se de criar uma sociedade global totalmente administrada e controlada por uma elite de intelectuais iluminados, porta-vozes da razão científica contra o obscurantismo das religiões e culturas tradicionais.

Mas todo esse racionalismo é somente uma casca brilhante construída para engodo das multidões (nisto incluído o “proletariado intelectual” das universidades). Por dentro, o iluminismo inteiro foi um amálgama tenebroso de ocultismo, magia, gnosticismo, sociedades secretas, rituais entre cômicos e macabros. Não há um só historiador sério que ignore isso.

Do mesmo modo, o laicismo “esclarecido” da nova ordem global é puro teatro. Suas fontes são as mesmas do ocultismo da “Nova Era”. Seus gurus são Helena Petrovna Blavatsky, Alice Bailey, Aleister Crowley e outros saídos do mesmo esgoto espiritual. Se duvidam, informem-se sobre um movimento denominado United Religions Initiative. Já mencionei aqui o livro de Lee Penn, False Dawn: The United Religions Initiative, Globalism and the Quest for a One-World Religion , Hillsdale, NY, Sophia Perennis, 2004. Está tudo lá. Apelo ao leitor para que estude essa obra enquanto é tempo. São centenas de páginas de documentos de fonte primária, que não deixam a menor margem a dúvidas. O governo mundial que se forma diante dos nossos olhos tem um programa “religioso” bem definido: criar uma nova “espiritualidade global” biônica que domestique as religiões tradicionais e as nivele a qualquer seita ocultista, mágica, ufológica ou satanista, e na qual o objetivo essencial da atividade religiosa não seja o culto a Deus, mas a “reforma social” – na linha, é claro, escolhida pela burocracia.

A intelectualidade brasileira está radicalmente desqualificada para discutir essas mutações e suas conseqüências para o país. O destino nacional está sendo decidido por forças que ninguém, no Congresso, na mídia, nas universidades ou nas Forças Armadas, entende nem mesmo por alto. Nunca os cérebros foram tão pequenos para desafios tão grandes.

As discussões a respeito são meros concursos de literatice provinciana, enquanto em volta tudo é arrastado na voragem de uma revolução que não é compreendida nem pelos seus próprios agentes locais.

Vindo de um autor conhecido, o que ele escreve merece profunda reflexão pelos cristãos, e especialmente pelos evangélicos e pentecostais de que faço parte.

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