A afinação do mundo

SINOPSE:

Vivemos imersos em um mundo de sons embora não tenhamos consciência disso durante a maior parte do tempo. O grande marco da transformação das cidades em um universo de sons desagradáveis é a Revolução Industrial, com a chegada das máquinas e o desenvolvimento da indústria automobilística. Compositor e estudioso de teorias sobre o som, o canadense, R. Murray Schafer propõe um sistema de estudo dos sons, apresenta um glossário de termos relativos à paisagem sonora e inclui uma pesquisa internacional de preferências sonoras.

ORELHAS:

Para recuperar os sons perdidos no passado. R. Murray Schafer serve-se de fontes literárias, documentais e científicas. Iniciando com a paisagem sonora primordial dos vulcões, da água e do clima, vemos (e, com nossos ouvidos mentais, ouvimos) nossa vizinhança sônica crescer em complexidade. Ouvimos um exército de novos sons, à medida que a civilização se desenvolve: o guinchar da roda, o barulho do martelo do ferreiro (até a Revolução Industrial, provavelmente, o som mais forte que uma única mão humana já produzira), o distante resfolegar dos trens a vapor. E ali onde, na floresta fronteiriça, a audição era nossa mais importante faculdade (“Quando o homem tinha medo … todo o seu corpo transformava-se em um ouvido”), agora a cacofonia assume o poder. “Hoje o mundo sofre de uma superpopulação de sons: há tanta informação acústica que bem pouca coisa dela pode emergir com clareza.” Nossa tarefa, sustenta Schafer, é ouvir, analisar e estabelecer distinções. Nesse aspecto ele ajuda bastante, fornecendo sistemas de notação facilmente utilizáveis, mostrando de que modo classificar os sons, entender sua morfologia e simbolismo, avaliar sua beleza e fealdade. Há “exercícios de limpeza de ouvidos” destinados a nos tornar mais sensíveis à paisagem sonora, sugestões para “passeios sonoros”, uma discussão a respeito do projeto acústico (em que se inclui um irrefutável ataque à abominação chamada “ruído branco”) e até uma proposta plausível para um “jardim sonoro” – um espaço agradável, construído com sons naturais, incluindo o silêncio. Do princípio ao fim, Schafer faz um apelo à nossa imaginação cm fascinantes descobertas e fatos a respeito do som – da fantástica acústica do anfiteatro de Epidauro (onde um alfinete que cai pode ser distintamente ouvido de qualquer um dos 14 mil assentos) ao padrão preciso do coaxar dos sapos, à noite, nos arredores de Vancouver, e a uma pesquisa mundial da legislação anti-ruído (Júlio César criou uma lei a esse respeito em 44 a.C.). Schafer combina a profunda sensibilidade ao som do compositor com a curiosidade científica sobre o som e a capacidade do humanista para sintonizar os nossos sentimentos com os dele. Vivo, culto e pungente, A afinação do mundo é, com efeito, uma alegria para o ouvido, um livro na fronteira de transformar o modo pelo qual vivemos com o som.

Quarta capa

A paisagem sonora – termo cunhado pelo próprio R. Murray Schafer – é nosso ambiente sonoro, o sempre presente conjunto de sons, agradáveis e desagradáveis, fortes e fracos, ouvidos ou ignorados, com os quais vivemos. Do zumbido das abelhas ao ruído da explosão, esse vasto compêndio, sempre em mutação, de cantos de pássaros, britadeiras, música de câmara, gritos, apitos de trem e barulho da chuva tem feito parte da existência humana. A afinação do mundo é uma exploração pioneira da paisagem sonora – uma tentativa de descobrir como era ela no passado, de analisar e criticar o modo como é hoje, de imaginar como será no futuro.

Sobre o autor

R. MURRAY SCHAFER é compositor e autor canadense, conhecido do público brasileiro pelo seu livro O ouvido pensante (Editora UNESP). Tem se envolvido cada vez mais com o estudo do som e do ambiente sônico. De 1970 a 1975, foi professor de Estudos da Comunicação na Universidade Simon Fraser na Colúmbia Britânica, onde idealizou muitos dos experimentos e projetos de pesquisa cujos resultados são apresentados neste livro. Vive atualmente em Indian River, Ontário.

Autor: Schafer, R. Murray

Editora Unesp

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Opinião do Pastor João A. de Souza Filho

A Afinação do Mundo, lançado pela UNESP Editora deveria ser um “must”, isto é, uma obrigação de leitura de todo músico e compositor. O autor R. Murray Schaffer pesquisou os sons do mundo tanto os sons da natureza quanto os sons mecânicos e eletrônicos, especialmente estes últimos que tanto perturbam a sociedade.

Até o início da era industrial, ainda lá pelos idos de 1680 os únicos sons mecânicos que se ouviam eram a bigorna do ferreiro, o barulho do machado cortando as árvores, o martelo do sapateiro e outros pequenos sons. A natureza até esta época ainda podia ser ouvida, e os habitantes sabiam distinguir o cântico dos pássaros e os sons do universo. O som do vento que podia ser ouvido quando passavam por entre as árvores, o ribombar dos trovões atemorizavam as pessoas.

Mas, veio a era industrial e, a partir de 1850 o som dos navios a vapor, os apitos dos trens e das fábricas encobriram os sons naturais. Hoje, agreguem-se a esses os sons eletrônicos, buzinas, motores de carros, motos e ônibus, aviões e trens estão levando as pessoas a perderem a audição. E, como falei num artigo no meu site, as músicas que se ouvem hoje são frutos desse ruído, sim, porque as músicas de hoje são mais ruídos que sons.

A questão do barulho, e as leis do silêncio não são de hoje. Na cidade de Berna, na Suíça em 1628 havia leis que proibiam as pessoas de cantar e gritar nas ruas ou nas casas em dias festivos. Em 1661 não se podia gritar, chorar ou fazer barulho aos domingos. E em 1784 havia lei proibindo o latido de cachorros. Não é sem razão que a Europa anda séculos à nossa frente.

A Afinação do Mundo é um livro que contém informações técnicas, pesquisas e opiniões de vários autores na área da audição. Veja você mesmo, lendo o livro, como você está ficando surdo! Antes, o mundo vivia e reagia pela audição, pelo que ouvia, hoje o mundo reage pelo que vê, porque poucos são os que ouvem.

E isso reflete, certamente, na vida espiritual dos cristãos, que, por não saberem mais ouvir, não sabem ouvir nem distinguir a voz de Deus.

Na contra capa do livro está escrito: “A afinação do mundo é uma exploração pioneira da paisagem sonora – uma tentativa de descobrir como era ela no passado, de analisar e criticar o modo como é hoje, de imaginar como será o futuro”.

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