O Salmo três em algumas versões, como na corrigida vem acompanhado, como outros salmos do misterioso “selá”. Para que o meu leitor não se prenda a cada Selá deste Salmo, coloquei à parte um artigo sobre o possível sentido desta palavra. Procure-o e leia!
No entanto, o Salmo três à luz da palavra Selá adquire um sentido maravilhoso. O estudante deve observar a forma quase abrupta na transição dos versículos. Nas versões antigas, como a corrigida, o Selá está no fim do versículo dois, do quatro e do oito.
Observe o texto: “Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. (Selá) Mas tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória e o que exalta a minha cabeça” (vv 2-3 – texto da corrigida). O salmista está reclamando de como se multiplicou o número de adversários, que contra ele se levantam e dizem que não há mais esperança. Repentinamente muda o tom e diz: “Mas, tu Senhor, és meu escudo…”. O Selá é uma pausa na poesia – não na música – que leva o poeta a voltar, a pensar e refletir sobre o passado, como a dizer: “Está bem. Querem me matar, mas esquecem que o Senhor é meu escudo…”.
Davi reclama dos adversários, e de repente, ao refletir sobre o que acabara de dizer, se dá conta de que Deus é seu escudo. Portanto, que venham os homens! Estou protegido em Deus!
A mesma reflexão ou pausa ocorre no final do versículo quatro para o cinco: “Com a minha voz clamei ao Senhor; ele ouviu-me desde o seu santo monte. (Selá) Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou” (vv 4-5). Ele reflete e clama a Deus. Depois que clama em oração se dá conta de que pode descansar, e dormir em paz. O Selá serve para isto. Leva o poeta a parar, pausar, refletir, pensar e retomar o tema.
Já no último versículo o poeta faz outra pausa, assinala outro Selá para entrar no Salmo 4. “A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção. (Selá)
Depois que o leitor compreender a importância da pausa na poesia, entenderá com profundidade o pensamento do poeta; penetrará em sua idéia, conhecerá o íntimo do autor e enxergará pela mesma ótica.
Mas, vejamos, como nos salmos anteriores, como fica bem organizado o pensamento se seguirmos o seguinte esboço:
Minorias e Maiorias
I. A maioria sem Deus.
A) A grandeza da maioria. “Como tem crescido o número…” e “São numerosos os que se levantam contra mim” (v 1). “ São muitos…” (v 2). “Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados” (v 6).
B) A ira da maioria. “São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele” (v 2). Davi caíra num abismo profundo de iniqüidade depois de adulterar com Bate-Seba. A rebelião de Absalão era fruto de uma série de acontecimentos que tiveram início lá atrás com aquele pecado. Não havia como escapar de seus inimigos – um deles, seu conselheiro principal, Aitofel, avô de Bate-Seba que se sentiu ultrajado, e que agora apoiou a Absalão na rebelião.
II. A minoria com Deus. O salmista sentia que fazia parte de uma minoria, mas uma minoria com Deus. Ele acentua aqui cinco coisas:
A) Consciência de segurança. “Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça” (v 3). Esta é a tônica: Em Deus faremos proezas; se Deus é por nós, quem será contra nós? Etc.
B) Refúgio na oração. “Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde” (v 4).Davi está longe do santuário e da arca, mas a voz do solitário pode ser ouvida em qualquer lugar. Este era o segredo dos mártires: a sós com Deus.
Daí sua paz interior.”Deito-me e pego no sono” (vv 5-6). Muitos se deitam em camas macias e não conseguem dormir; Davi deitou-se na terra pedregosa do deserto e dormiu.
C) A certeza da vitória. “… feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras os dentes” (v 7). Ele vê seus inimigos como bestas selvagens que têm os dentes quebrados e já não conseguem devorar sua presa. Deus repreenderá a maldição de Simei, confundirá o bom conselho de Aitofel e frustrará a usurpação de Absalão.
D) Seu temperamento generoso. “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (v 8). O poeta pode se deitar tranqüilo de que não será castigado por Deus.
Eis aqui as lições que podemos aprender deste Salmo:
1. Não acredite na decisão da maioria.
2. Não se iluda com a decisão da maioria.
3. Não receie por estar em minoria, com Deus.
4. A maioria será contra, sempre que Deus estiver com você.
5. Conquista-se a maioria pela devoção e oração.