Sempre que se lê os salmos, uma palavrinha misteriosa, “selá”, surge, especialmente em textos mais antigos, como a versão corrigida. No Salmo 3 ela aparece três vezes e fazem toda diferença quando lemos aquele Salmo e identificamos o sentido de “selá”.
Apresento aqui a tradução de um artigo da Companion Bible sobre o tema, um dos melhores artigos a respeito.
Esta palavra pode proceder de duas raízes: sãlãh – pausar ou de sãlal – erguer-se, como erguer os olhos. A palavra deve ser associada ao assunto em questão, e não à música; associada à verdade, e não a um tom musical. Alguns dizem que aparece sempre no começo de uma estrofe; outros, no fim. O fato é que quatro vezes aparece, não entre um versículo e outro, mas no meio do versículo, ou texto, como nos Salmos 55.19; 57.3 e em Habacuque 3.3,9. O que acaba com outras teorias, mas, nos ajuda a concluir que as duas teorias são a metade da mesma verdade. Selá não serve para ligar o fim de uma estrofe com o início de outra. No entanto, em quatro casos Selá conecta o fim de um salmo com o início de outro, unindo, assim, os dois. (Veja os Salmos 3 com o 4; 9 com o 10; 24 com o 25 e o 46 com o 47).
Selá, portanto, não começa nem inicia uma passagem, mas liga as duas passagens onde foram colocadas. Percebe-se isto quando se examina cada ocorrência de Selá. Não é uma pausa do tema, nem a passagem de um tema para outro, mas a ligação ou conexão de dois temas. Por vezes, a estrutura é que está conectada. Às vezes é sintética, e acrescenta o desenvolvimento de um pensamento conectando ou ligando uma oração com o pensamento que forma a base do Salmo. Outras vezes é antitética e acrescenta um contraste. Ou conecta uma causa com o efeito ou o efeito com uma causa.
É uma conexão de pensamento que nos leva a refletir ou a olhar para trás ao que acabou de ser dito, sublinhando a conexão com o que será mencionado, ou a algum ensinamento adicional.
Assim, caso derive de sãlãh – pausar, não são os instrumentos que pausam enquanto continua o cântico, e sim o coração é que pausa para refletir e perceber a ligação entre as verdades.
Caso derive de sãlal – erguer, ou erguer os olhos, não são os instrumentos que devem se erguer num volume mais alto, e sim os corações devem se erguer e considerar solenemente as duas verdades que estão para ser conectadas ou ligadas. Tais conexões, que mostram a importância e o objeto de cada Selá, são dadas nas notas cada vez que a palavra ocorre.
Os fenômenos ligados a Selá podem ser descritos assim:
1. A palavra aparece setenta e quatro vezes na Bíblia, e todas no Antigo Testamento. Destas 71 estão nos Salmos e três no livro de Habacuque.
2. Ocorre em 39 Salmos – dos 150 existentes. Em dezesseis deles aparece apenas uma vez – Salmos 7,20,21,44,47,48,50,54,60,61,75,81,82,83,85 e 143. Destes trinta e nove Salmos, trinta e um Salmos são oferecidos ao “mestre de canto”, ou “chefe dos músicos”. (Veja meu artigo sobre o “mestre de canto” à parte). Em 15 Salmos aparece duas vezes: 4, 9, 24, 39, 52, 55, 57, 59, 62, 67, 76, 84, 87 e 88.
Em sete Salmos aparece Selá três vezes: Salmos 3, 32, 46, 66, 68, 77 e 140. Aparece quatro vezes unicamente no Salmo 89. Selá aparece nos cinco livros dos Salmos (veja meu artigo sobre a estrutura do livro de Salmos).
Que apresenta antítese; contraditório, contrário.