Vez que outra é preciso voltar ao polêmico tema da igreja e a política. A arte de se fazer política pode ser exercida por qualquer pessoa, cristã ou não. Meu objetivo é o de alertar, uma vez mais, sobre os perigos que a igreja enfrenta sempre que se posiciona política e ideologicamente ao lado desse ou daquele governo. Fé e política são dois temas permanentemente conflitantes.
O primeiro grande desafio da igreja é diante do nacionalismo – da defesa da pátria – que leva muitos políticos cristãos a abrir mão dos princípios bíblicos em defesa do país. O nacionalismo intransigente conflita com a Fé. Jamais devemos esquecer que, do ponto de vista bíblico os crentes são cidadãos dos céus, e, portanto, aptos a circular entre todos os povos da terra. No momento da perseguição ou por questões de sobrevivência econômica ele encontra refúgio em qualquer nação e faz da nova terra sua nova pátria! O povo de Deus tem características universais, e não pode ser nacionalista.
A igreja não pode perder de vista o conceito de povo peregrino, de cidadão celestial que a autoriza a ser uma voz profética não apenas em sua nação, mas para todos os povos. Quando a igreja se torna uma voz profética de Deus na sociedade, seus membros podem circular pela política, entre o pessoal do governo como voz que clama a favor dos pobres, dos necessitados, do direito e da justiça, sem jamais entrar em conluios sejam de que ordem for!
Quando o pobre, o órfão, a viúva e os aposentados são constantemente desfavorecidos; sempre que a busca da riqueza oprima a classe social mais abaixo e sempre que as leis atentem contra a liberdade cristã, a liberdade de viver e afrontem os princípios bíblicos da lei moral universal, a igreja deve erguer seu palanque, sua torre de vigília e denunciar! Por isso a denúncia contra a prática do aborto, mesmo que este seja aprovado em lei – como nos Estados Unidos – e casamentos de pessoas do mesmo sexo devem tomar a dianteira nos discursos da igreja!
A Igreja não pode estar casada com o Estado nem alienada dele. No momento em que nossos filhos forem doutrinados na ideologia homossexual, ou quando o Estado decidir o que os pastores podem e não podem pregar nos cultos, como reagiremos? Se estivermos alienados sucumbiremos, e se nos posicionarmos pagaremos o preço! Por não querer pagar o preço, a igreja se omite dos grandes temas nacionais!
Quando o governo tem objetivos comuns à igreja, como atendimento aos pobres, aos excluídos, etc., a tentação é ainda maior. O confronto começa quando abrimos mão de nossa liberdade individual, de nossa missão cristã, e nos deixamos envolver com o “espírito” nacionalista, para que a nação seja forte e unida economicamente!
O segundo grande desafio é levar a igreja a caminhar por esse espinhoso terreno da esfera política, como voz profética sem se deixar levar pela adulação do poder. É importante que a igreja se torne uma voz profética, evitando ficar presa (seus candidatos) ao emaranhado das falcatruas ou do enriquecimento ilícito, como tem acontecido nos últimos dias. Daniel passou por vários Impérios sem se deixar influenciar politicamente. Teve coragem de exortar a Nabucodonosor a que deixasse seus caminhos injustos e desse mais atenção aos pobres!
Aliás, alguns partidos são tidos como dos evangélicos – uma lástima – o que leva o mundo a ver a igreja evangélica como um partido político. Uma das razões da igreja ser perseguida em algumas cidades era porque seus políticos defenderam teses como se fossem da igreja, quando eram projetos pessoais ou denominacionais.
Terceiro. O namoro com o poder inebria e deixa os líderes da igreja sem a capacidade de refletir, perdendo seu senso de direção e propósito. Sempre que é favorecida por algum governo a Igreja perde sua autoridade profética e divina.
Como cristãos precisamos ter em mente que Deus utiliza governos democráticos, ou totalitários de esquerda ou de direita para trazer a justiça social. O Brasil precisa ajustar de forma mais bíblica a questão social, e não devemos nos surpreender se, para tanto, Deus utilizar ateus e ideologias não cristãs para atender ao clamor dos pobres! É assim que Deus envergonha a igreja! Esta deve fazer sua parte, parando de construir templos suntuosos em que se gastam milhões com empreendimentos denominacionais, dinheiro que poderia ser usado para construir moradias e gerar renda para os pobres. Procedendo assim, dará testemunho público de sua fé e estará cumprindo sua parte naquilo que ela mesma denuncia. Ela só tem autoridade para denunciar naquilo que ela intensamente vive!
Onde houver injustiça social, a igreja deve estar lá operando. Seu trabalho silencioso é a melhor forma de condenar os corruptos e calar os discursos dos que governam.
Cuidado com o nacionalismo que pode nos levar a pensar que a obediência à esfera política seja um dever tão digno e honroso quanto a obediência a Deus. A Igreja deve ficar atenta às mentiras proferidas em certas campanhas e publicidades dos governos, sejam esses de que partido forem! Hitler afirmava que “a magnitude de uma mentira contém certo fator de credibilidade, visto que as grandes massas caem mais facilmente em uma grande mentira do que em uma pequena”.
Rausas J. Rushdoony afirmou que “por trás de todo sistema legal há um deus. Ao acharmos o deus em qualquer sistema, localizamos a fonte de suas leis”. E afirma mais: “Quando você escolhe quem será sua autoridade, escolhe seu deus, e onde você procura sua lei, lá está seu deus”. 1
Estamos em ano eleitoral. Reexaminar esse tema à luz da Bíblia e da missão da Igreja talvez não traga dividendos financeiros nem muitos amigos, mas, por certo evitará que atropelemos a história, cometendo os mesmos erros que nossos pais fizeram no passado!
(1 RUSHDOONY, Rausas, Law and Librty, Fairfax, Va. Thoburn, 1971 p. 73)