Apascenta meus cachorrinhos

Nota: Não quero ofender meu leitor, mas é preciso compartilhar idéias. Boa leitura.

O principal cenário. Depois de ressuscitar dos mortos Jesus encontrou seus discípulos pescando no mar da Galiléia, e diante dos cento e cinquenta e três grandes peixes que eles haviam pescado, Jesus pergunta a Pedro: Amas-me mais do que estes? Diante da resposta positiva de Pedro Jesus lhe diz: Apascenta minhas ovelhas.

O cenário mudou. Agora não são peixes, uma necessidade alimentícia de quem vive à beira-mar e precisa se sustentar ou vive da pesca. Agora são cachorros. O prazer de ter um animal de estimação.

No novo cenário Jesus está perguntando a todos os crentes, os que dizem professar seu nome: Amas-me mais do que estes cachorrinhos? Ao lado de Jesus estão crentes de todas as denominações com seus animais de estimação, bem-cuidados, alimentados, penteados e tratados como filhos. Os cachorrinhos vão aos shoppings, ao Pet Shop, ao veterinário e são beijados e beijam na boca de seus donos. Nos supermercados um corredor de alimentos e acessórios só para eles.

Novo cenário. Não distante de Jesus e dos crentes – sim, porque não são discípulos – com cachorrinhos de estimação, separados por um córrego imundo cheio de dejetos, crianças mal-nutridas e mal-vestidas correm serelepes, fazendo de conta que são felizes, que estão alimentadas e bem-cuidadas. Jesus, parece querer dizer alguma coisa, se emociona e pergunta novamente: Amas-me mais do que estes? E olha para as ovelhinhas sem pastor do lado de lá da valeta suja.

Criei esses cenários para apresentar o contraste gritante da vida dos crentes em nossos dias. Existem famílias que gastam muito dinheiro todos os meses com seus animaizinhos de estimação – que poderiam viver soltos no pátio como devem viver os animais – mas são tratados com regalias, enquanto do outro lado do arroio sujo e imundo centenas de crianças mal-nutridas esperam por um pedaço de pão.

Uma coisa é cuidar bem dos animaizinhos – e eu tive meu cachorrinho de estimação, meu amiguinho, que era o guarda do pátio e dava sempre o alerta!

Não estou me referindo aos cães que precisamos ter nos pátios como guardiães e vigilantes atentos, mas daqueles irmãos em Cristo que preferem um cão a uma criança! Estes haverão de prestar contas diante de Deus por amarem e cuidarem mais de cachorrinhos do que de crianças que precisam ser amparadas. Renato Vargens colocou no blog dele a seguinte informação:

“Existem no mundo cerca de 100 milhões de pessoas sem teto; 1 bilhão de analfabetos; 1,1 bilhões de pessoas que vivem na pobreza, destas, 630 milhões são extremamente pobres; 1 bilhão de pessoas passando fome; 150 milhões de crianças subnutridas com menos de 5 anos (uma para cada três no mundo); 12,9 milhões de crianças morrendo a cada ano antes dos seus 5 anos de vida.”

“Em 1987, no Brasil, quase 40% da população (50 milhões de pessoas) vivia em extrema pobreza. Nos dias de hoje, um terço da população é mal nutrida, 9% das crianças morrem antes de completar um ano de vida e 37% do total são trabalhadores rurais sem terras. Em nosso país, a cada cinco minutos, morre uma criança. A maioria de doenças relacionadas à fome. (Cerca de 280 a 290 por dia). É o que corresponderia, de acordo com o Unicef, dois Boeing 737 de crianças mortas por dia.”

Meus amigos, um cachorro, por mais lindo que seja é sempre um cachorro. Meu cachorrinho desapareceu no dia 14 de fevereiro de 1971 e nunca mais o encontrei; mas ele era um cachorro!

Uma pessoa por mais pobre que seja terá sempre em seu interior a imagem de Deus. Quanto custa um cachorrinho bem cuidado, vivendo numa casa ou apartamento com todas as regalias? Esse dinheiro, meu amigo, poderia ser investido numa vida humana. Não estou me posicionando contra alguém que cuida de um cãozinho, só acho que a mesma quantidade de dinheiro deveria ser investida na vida de alguma criança que vive perto de você!

O cachorro vai morrer e desaparecer; a alma humana jamais morrerá! No bairro por onde faço minhas caminhadas diárias me deparo com dezenas de casas para atendimento de cães, e próximo delas crianças mendigam um pedaço de pão. Mulheres e homens descem de seus carros modernos com seus cães e gatos ignorando as criancinhas que precisam de ajuda.

Um bom cão é o cão de guarda, que vigia sua casa, mas nem este deve ser melhor tratado que uma criança ou uma pessoa faminta.

Trabalhei em orfanato na década de 60 e cuidei de 110 crianças de 3 a 16 anos. Hoje não mais existem orfanatos, mas abrigos infantis. Muitos daqueles pupilos vivem ainda hoje. Um deles, que tinha cinco anos de idade é hoje missionário na Itália. Outro, que tinha 13 anos é médico numa cidade do Rio Grande do Sul. E muitos outros se casaram, estabeleceram famílias, são pastores e venceram na vida, porque meu pastor Nils Taranger resolveu investir nas crianças e não nos cachorros!

Os cachorrinhos? Apenas consomem seu tempo e seu dinheiro; mas as vidas são valiosas para Deus.

Ah! Por certo Deus pedirá contas a você e no dia da entrega do galardão alguma coisa será debitada do seu galardão – se é que você terá algum – e este será menor que o das crianças e famílias famintas que comem os restos que caem da tigela de seu cachorrinho de estimação.

Amas-me mais do que estes, pergunta Jesus. Ao lado de Pedro, peixes; ao seu lado um cão! A decisão é sua.

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