Depois que comecei a ler A Afinação do Mundo (Editora Unesp) que ganhei de meus amigos do Rio de Janeiro, Portella e Gaúcho passei a refletir ainda mais sobre música e sons e descobri, possivelmente, a causa de termos tantos hinos com letras bruscas e sem poesia, e músicas difíceis de serem entoadas; travadas, sem uma linha melódica agradável, incoerentes, sem finalle, sem andamento e inconsistentes.
O autor Murray Schaffer passeia por entre os sons do universo investigando os sons da natureza, dos animais, pássaros, bichos, insetos; descobre os sons do vento e a melodia das rajadas invernais ou primaveris, o sonido do gelo se quebrando, da neve caindo, e pareceu-me um Salomão moderno, porque, enquanto o Salomão da Bíblia pesquisava a natureza com as limitações de seu tempo, este pesquisou a natureza com todos os recursos tecnológicos que dispõe.
Ele me fez entender que os sons melodiosos foram dando lugar aos sons contínuos que a humanidade passou a ouvir depois do início da era industrial; a natureza se calou ou deixou de ser ouvida, abafada pelos sons das fábricas, apitos, sirene de ambulâncias; dos ônibus, carros e motos; ruídos contínuos que encobrem ou anulam da mente os sons naturais.
Então, depois de ler os primeiros dois capítulos concluí que os compositores de hoje perderam a graça e a sensibilidade tão comum aos antigos compositores de hinos, óperas e de cantatas, porque passaram a produzir ruídos em vez de melodias e retratam em suas composições o ambiente ou como dizem os americanos, o enviroment em que vivem. Os compositores de antão não tinham a soprar-lhe nos ouvidos os apitos e sons frenéticos da era industrial; com aviões sobre suas cabeças, ruídos de carros e motos – para falar de uns poucos sons. Eles ouviam a natureza e ouvindo-a podiam também ouvir o seu interior. Sim, porque a natureza não perturba o som interior; ao contrário aguça-lhe mais.
Os compositores de hoje precisam aprender a ouvir o interior e a escutar a natureza. Quantos de nossos músicos distinguem o canto do sabiá de uma andorinha? Quantos conseguem ouvir o passaredo identificando cada cântico, o tom em que cantam e a espécie de pássaro que está assobiando na floresta? Mas, conseguem identificar os sons industriais.
Estão retratando em suas músicas os sons que todos os dias ouvem; os sons das cidades cujos ruídos abafam até mesmo a voz de Deus em seu interior. Algumas músicas refletem os sons pesados de máquinas; as baterias mal-tocadas das igrejas refletem o ruído de explosões de fogos, de motos e de dinamites; e a música sem melodia agradável não passa de ruídos vindos da gangorra mal-lubrificada da pracinha, especialmente reproduzidos nas guitarras-solos. A reprodução dos apitos de fábricas e trens parece colorir os cânticos; porque a afinação do mundo industrial se reproduz na afinação dos hinos da igreja.
Músico e cantor: Pare um pouco para refletir e veja se a melodia que você está entoando seria sequer apreciada cinquenta anos atrás! Os sons eletrônicos de nossos cultos refletem os sons eletrônicos do homem interior; sim, porque nos últimos anos fomos assimilando sons industriais e deixamos esmaecer dentro de nós os sons da natureza.
O cântico dos sabiás na árvore em frente de minha casa sequer é notado pelos moradores de minha rua; raramente se vê alguém parando na calçada olhando para ver donde vem tão belíssimo som; porque os carros, os ônibus, as motos, o barulho da moto-serra, das máquinas industriais e o barulho da cidade abafam o lindo som da natureza.
E isso tem acontecido com nossos músicos e compositores. Acostumaram-se ao som eletrônico, ao bate-estaca do carro com som alto; e quando tentam compor uma música sai-lhes de dentro o que assimilaram durante suas vidas.
Músicos e compositores, uma coisa lhes falta: Sair da cidade, viver um mês no campo, passear pelos bosques e flores, para desintoxicar e ouvir novamente a melodia da natureza, porque, ouvindo-a você aprenderá a fazer melodias celestiais! Dormir ao relento, sem luz elétrica, sem celular ou telefone, sem ouvir o plim plim da TV. Desintoxicando seus ouvidos, você aprenderá a distinguir os sons celestiais. Quem sabe esteja aí a razão dos chineses admitirem que em determinado momento conseguiam alcançar o tom celestial. Isto é, o momento em que o interior está tão afinado com o céu que se pode tocar o celestial.
E tudo isso reflete também em nossos cultos, quando temos mais ruído que melodias; mais bate-estacas que sinfonias, e em vez de sairmos dos cultos de alma lavada e de ouvidos limpos, voltamos para casa irritados, desanimados e frustrados com o ruidoso som dos instrumentos musicais e das músicas e canções sem melodia de nossos músicos. O apito contínuo se estabeleceu para sempre em nossos ouvidos.
Músicos e compositores faltam-lhes uma coisa: Ouvir a música do céu para poder entoar as melodias que agradam o ouvido dos homens e de Deus.
Voltarei ao tema.
Graça e paz, Pr. João,
estou fazendo um estudo sobre a interferência do som alto na mente do ser humano, e a cada dia que passa, na medida em que converso com pessoas de igrejas diferentes, eu tenho concluído que uma das formas que o inimigo das nossas almas está usando para nos impedir de ouvir e assimilar a Palavra de Deus é aumentando os sons das caixas de som das igrejas.
Muitas vezes em pregações eu mal consigo entender uma palavra do que pregam, e tenho descoberto que tem igrejas que tem várias pessoas que não vão por que não aguentam o barulho. Eu vi o seu artigo sobre som, e pensei em escrever para lhe pedir sua opinião e se o irmão conhece algum material sobre som que poderia me ajudar nesse estudo que estou fazendo sobre a interferência do som alto na capacidade de assimilação e retenção de conteúdo da mente humana.
Desde já agradeço a sua atenção.
No temor do Senhor,
Maria Aparecida
Cida: No capítulo III do meu livro “Deixem Soar os Tamborins” trato deste tema com alguma profundidade. Envie-me seu endereço para eu lhe enviar uma cópia ou se você quiser posso lhe enviar em separado o que está no livro. Aconselho que você procure no site do http://www.estantevirtual.com.br o livro de DAvid Tame “O Poder Oculto da Música”. É um clássico e apesar de ser minucioso demais e às vezes esotérico contém muitas coisas boas. Essas são as fontes de que disponho.
Olá, a paz! Sou aluna do Portella aqui no rio, ele me falou sobre seu trabalho e visitei seu site, gostei muito das palavras e temas abordados e como sempre estou envolvida com música que e´ algo que amo fazer,este tema me chamou bastante atenção (Músico: Uma coisa faz falta a você…)Tenho percebido que isto tem sido uma realidade nas igrejas e posso ver isto de perto; onde,músicos não tem a sensibilidade ao tocar, não refletem se aquela melodia ou aquela maneira de tocar vai realmente ser apenas um som…ou uma forma de levar as pessoas a adorarem.
Fica na paz !
Angélica Rios