Prezado leitor: Compartilho com você, para seu enriquecimento bíblico-cultural essas informações que coligi de James Hastings, do Dictionary of Christ and the Gospels, traduzido e adaptado e de minha responsabilidade. Caso você use em apostilas ou livros, por favor, cite a fonte.
Os comentaristas divergem quanto a origem da palavra saduceu. Pensava-se, anteriormente que provinha da palavra zaddik “justo”, mas não existem comprovações, e os saduceus não foram tidos como pessoas essencialmente justas. Mais recentemente sugeriu-se que é um derivativo do nome próprio Zadok, mas também esta não é uma fonte certa. A questão é quais Zadoque influenciou esse partido político-religioso. Alguns acreditam que o nome procede do sumo sacerdote Zadoque que viveu nos dias de Davi e de Salomão (2 Sm 8.17; 15.24; 1 Rs 1.8; 2.35 etc.), cujos descendentes ministraram no templo até o tempo do exílio, e alguns acham que até depois do exílio, o que também não é aceito por alguns comentaristas (Religion of Israel III p 122). Uma lenda judaica afirma que provém de um discípulo de Antígono de Socho, de nome Zadoque, mas não há fundamento histórico para tal. Ainda outra sugestão é que o nome tem origem persa, ligado ao nome zindik, usado para indicar infidelidade, mas é também pura hipótese.
Apesar de não se ter certeza de onde vem o nome pode-se afirmar seguramente que o nome saduceu tem a ver com o partido político da aristocracia sacerdotal judaica que passou a existir nos tempos dos macabeus até a queda de Jerusalém no ano 70 d.C. As grandes fontes históricas neste sentido são o historiador Flávio Josefo e o Mishná.1 É importante destacar que, enquanto qualquer pessoa podia se tornar membro do partido dos fariseus, para filiar-se ao partido dos saduceus era necessário pertencer à família sacerdotal ou a alta aristocracia judaica. Não bastava ser um levita ou sacerdote, porque havia um abismo entre pertencer a alta aristocracia sacerdotal e a baixa, bem como entre as famílias aristocratas e o povo comum.
Revendo historicamente os saduceus, descobre-se que, desde o começo do domínio grego, e mesmo antes dos gregos dominarem a nação, o povo era governado pela aristocracia sacerdotal. Sob a influência dos helenistas, a classe sacerdotal, de certa forma, gostava da política de Antíoco Epifânio, que deu origem à rebelião dos macabeus. E mesmo tendo perdido sua influência durante o governo dos hasmoneus, recuperaram sua influência nos dias de João Hircano, e é desse período que passamos a conhecê-los como saduceus, como grupo antagônico aos fariseus, ou partido dos escribas. Eles cooperaram com o governo grego, mas logo assumiram novamente a liderança.
Quando os romanos dominaram a região, os saduceus perderam sua influência governamental, e tiveram que se submeter aos fariseus que tinham grande influência sobre o povo. Os sumos sacerdotes do Sinédrio eram saduceus, mas eram uma minoria. Por ser essencialmente um partido político, não eram lá tão independentes e sua influência maior era em Jerusalém e o templo. Com a queda de Jerusalém eles desapareceram da história.
Os saduceus se destacavam doutrinariamente por três coisas:
a) Negavam a ressurreição dos mortos, a imortalidade da alma e a recompensa ou juízo eterno. Eles não achavam que seria necessário a existência da vida eterna, como recompensa às obras praticadas no presente.
b) Negavam a existência dos anjos e espíritos, e nisso discordavam abertamente dos fariseus que criam em anjos e demônios.
c) Negavam que existisse eleição e um destino preordenado para os seres humanos, e acreditavam na liberdade do homem em decidir seu próprio destino, afirmando que ‘o bem ou o mal são escolhas humanas, e que cada um decide de per si’.
Achavam que não precisavam da intervenção divina em seu destino, e acreditavam que tudo o que conseguiam era fruto de seu esforço e trabalho. Contudo, a distância entre eles e os fariseus não era muito grande, porque politicamente se uniam com os fariseus e juntos tinham assentos no sinédrio, traçando planos de destruir a pessoa de Jesus.
Não se tem menção no NT do nome de um saduceu, no entanto, sempre que o chefe dos sacerdotes era mencionado, praticamente este era o nome de um saduceu. Jesus nunca agiu tão duramente contra os saduceus como fez com os fariseus. Os saduceus parece que ignoraram a Jesus, especialmente na primeira parte de seu ministério. Uniram-se aos fariseus para pedir a Jesus um sinal do céu (Mt 16.1), o que levou a Jesus a advertir seus discípulos a terem cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus.
Não gostaram da atitude de Jesus em purificar o templo, e uniram-se aos escribas e anciãos exigindo uma explicação sobre com que dava autoridade fazia aquelas coisas (Mc 11.27 e ss.) e desse dia em diante queriam matá-lo (Mc 11.15-18). Tentaram jogar Jesus contra os romanos, e pediram que ele lhe respondesse se era “lícito pagar tributo a César ou não?” (Lc 20.22). Tentaram por todos os meios desacreditar o que Jesus ensinava apresentando-lhe o caso da mulher que havia sido esposa de sete irmãos, perguntando-lhe qual dos sete seria esposo dela na ressurreição dos mortos, e, com isso acarrearam para si mais um problema: A desaprovação que eles não conheciam as escrituras nem o poder de Deus (Mt 22.23).
Assentaram-se no sinédrio que condenou a Jesus, e juntamente com os demais zombaram dele na cruz. A oposição deles não terminou com a morte de Jesus, pois não temos registro algum de algum saduceu se convertendo a igreja de Cristo, e com o tempo a lembrança deles se esvaiu como fumaça.2
1 É uma das principais obras do judaísmo rabínico, e a primeira grande redação na forma escrita da tradição oral judaica, chamada a Torá Oral. Provém de um debate entre os anos 70 e 200 da Era Cristã por um grupo de sábios rabínicos conhecidos como ‘Tanaim’ e redigida por volta do ano 200 pelo Rabino Judá HaNasi (fonte Wikipédia).
2 Fonte: James Hastings, D.D. em Diccionary of Christ and the Gospels, 1908, Vol. 2 pp 549-550