Prezado leitor: Creio que você apreciará esta pesquisa que fiz em James Hasting, Dictionary of Christ and the Gospels, editado em 1908. A Tradução e adaptação é de minha responsabilidade.
Quanto aos fariseus é conveniente tratar neste tópico vários aspectos: Uma retrospectiva histórica; diferenças entre estes e os saduceus; o ambiente farisaico dos dias de Jesus; a teologia dos fariseus quanto a doutrina sobre Deus e a Lei. Também será abordada a esperança religiosa dos fariseus, a oposição dos fariseus a Jesus e a forma como Jesus os confrontou. Isto será feito resumidamente.
Os fariseus são a mais pura manifestação do judaísmo nos tempos de Cristo, e não consegue dimensionar a obra de Cristo sem ver como funcionava este partido político-religioso (Jesu Predigt, 1892 p 32). Os fariseus são frutos do longo conflito dos judeus com o paganismo, a partir do cativeiro da Babilônia. Na realidade o cativeiro permitiu o início de um intenso monoteísmo, o surgimento das sinagogas, a interpretação do AT feita pelos escribas, a guarda do sábado como sinal da aliança com Deus, um ódio frenético ao paganismo e afirmavam que os fariseus deveriam se manter totalmente afastados dos pagãos.
Os reformadores que viveram depois de Esdras e Neemias foram os predecessores dos fariseus, assim como os sacerdotes sob a liderança de Zorobabel foram os antecessores dos saduceus.
Durante a revolução dos macabeus, os fariseus se separam e formaram seu próprio grupo, que foi chamado de hassidim ou puritanos. Esses hassidim se tornaram os fariseus do século anterior ao nascimento de Cristo. O nacionalismo dos judeus se deteriorou sob a cultura dos gregos que influenciou os costumes do povo, e acabou por destruir a paixão nacionalista quando os romanos fincaram o pé sobre Jerusalém. Foram chamados de fariseus ou separados quando se afastaram do partido dos saduceus durante o governo de João Hircano (135-105 a.C), Eram os homens da pureza (2 Macabeus 14.38) que se separavam de tudo que era pagão e impuro. Seu anelo era de ser tão cerimonialmente puro na vida diária como eram os sacerdotes no serviço do templo.
a) Diferenças entre fariseus e saduceus.
As diferenças básicas são: (1) Os fariseus exigiam do povo muitas observâncias da tradição que não constavam da lei de Moisés (Flávio Josefo, Antologia, XIII.x.6). Essas eram coisas que os saduceus rejeitavam.
(2) Os fariseus elaboraram sua declaração de fé a respeito da imortalidade, ressurreição, anjos, demônios, céu e inferno, estado intermediário da alma e reino messiânico. Nessas questões os saduceus eram agnósticos. Não criam.
(3) Os fariseus ensinavam a respeito do livre-arbítrio e da predestinação – parecido com o que Paulo ensinava – enquanto os saduceus mantinham o ensinamento grego do livre-arbítrio absoluto.
(4) Os fariseus tinham uma teoria sobre teocracia, que os tornava opositores de qualquer interferência estrangeira, desde a época da invasão síria até a época dos romanos, e rejeitavam também o governo dos Macabeus como inconsistentes com o sacerdócio.E foi este espírito teocrático que trouxe um nacionalismo judeu pra dentro da igreja.
(5) Eram missionários e faziam muitos prosélitos ou convertidos (Antologia, XX, ii, iv; cf. Mt 23.15). Seguiam a orientação de Hillel: “Ame as pessoas e leve-as ao conhecimento da lei”.
(6) Os fariseus divergiam dos saduceus, pela distância destes da sinagoga e do templo. Os fariseus prescreveram regras para o sacerdócio dos saduceus no templo (Flávio Josefo, Antologia, XIII.x.5) e escreveram orações para serem feitas durante os sacrifícios.
(7) Alguns fariseus formavam uma fraternidade que fazia votos especiais, que os separava dos pagãos, do povo comum e dos saduceus. A maior parte dos judeus eram fariseus, mas apenas seis ou sete mil faziam parte da fraternidade. O escritor Edershein os compara aos jesuítas na igreja romana. Ao entrar na ordem faziam dois votos na presença de três testemunhas, num dos votos prometiam dar o dízimo de tudo o que comiam, compravam ou vendiam; o outro voto é que prometiam não serem hóspedes de nenhum impuro, observando todas as leis da purificação. Acreditavam ser o verdadeiro Israel, ’os santos’ e seus oponentes eram os infiéis, os profanos cf. Lucas 18.9.
(8) Os fariseus eram a força religiosa de Israel nos dias de Cristo. Eles criam representar a autoridade bíblica do lar, da escola, da sinagoga, das cortes e da vida diária. João quase os identifica com “os judeus” (Jo 1.19; 2.18). Apesar de ser fruto da escola dos escribas, eles ofuscavam os mestres. Os fariseus eram negociantes, e possuíam bens por toda parte. Eram unidos, zelosos, dogmáticos, patrióticos, ficavam ao lado do povo contra os governadores e hierarcas, pregavam que a lei tinha que ser observada, e acreditavam num mundo futuro de bênçãos que galardoaria os obedientes, e tentavam moldar as pessoas de acordo com seus princípios.
Diferentemente dos saduceus e dos cidadãos comuns, os fariseus desenvolveram um novo conceito de piedade, ensinando que era algo que podia ser aprendido, e eles eram os mestres. Os sábios eram bons homens, e podia substituir os profetas e sacerdotes. Hillel disse: ‘o analfabeto não teme o pecado, e aquele que adquire o conhecimento obtém a vida eterna’ (Aboth, ii.6,8). Isto os deixava orgulhosos, formais e desprovidos de caridade. Desprezavam as pessoas simples (Jo 7.49) e alcançaram o apogeu de seus ensinamentos e de sua influência nos dias de Jesus.
b) O ambiente farisaico nos dias de Jesus.
O judaísmo farisaico dos dias de Jesus era constituído das melhores e das piores pessoas. Os santos judeus do NT, os pais de João Batista e de nosso Senhor Jesus, Simeão, Ana, e outros bem como Hillel, Gamaliel era típicos nobres de judeus fariseus. Os piedosos fariseus moravam na Galiléia com suas crenças no messianismo e seu estilo de vida ascético. Os zelotes surgiram nesta região, e a revolução contra os romanos teve seu lugar ali. E foi num lugar com forte espírito farisaico, como a Galiléia onde Jesus começou seu ministério. Jesus não denunciou todos os fariseus nem o farisaísmo judaico no meio do qual viveu, já que estes transmitiam a verdadeira religião de Israel, porque esta salvação vinha dos judeus.
Mas Jesus não era um fariseu, e os repreendeu porque mantinham pontos de vista que não eram bíblicos, o que os saduceus faziam por desconhecerem a palavra de Deus (Mc 7.9). Jesus não era um herético, porque os fariseus nunca o expulsaram da sinagoga, ainda que era chamado de samaritano e possuído pelo demônio.
c) O ensinamento teológico dos fariseus e de Jesus.
Tanto os fariseus como Jesus sustentavam a base bíblico-teológica do AT a respeito da vinda do Messias, a única ressalva é que os fariseus não criam que Jesus fosse o Messias de Israel. Outra questão é que os fariseus achavam que o evangelho pregado por Jesus era um judaísmo reformado, no entanto, a melhor forma de ver a relação de Jesus com os fariseus não é pela comparação, mas pelos contrastes.
O aparecimento de Jesus não era o cumprimento das escrituras, mas uma contradição da religião judaica, e a crença de que os judeus eram inclinados à religião cai totalmente por terra. Jesus tinha como base a piedade do AT o que correspondia ao judaísmo da época, e o contraste era porque Jesus se declarava Filho de Deus e o fazia com muita autoridade. Ele sempre usava a expressão, “mas eu lhes digo”, e palavra alguma de profeta, escriba ou fariseu exercia autoridade sobre Jesus (Jo 7.17).
A teologia dos fariseus era rude e anti-científica, eles não aceitavam nada das artes, da filosofia, da ciência, história e cultura.
A ideia de um Deus transcendental, impessoal era por eles ensinada, e, quando Jesus começou a ensinar a respeito de um Pai que ama seus filhos, eles começaram a discordar.
O estudante deve pesquisar a respeito da crença dos fariseus quanto a doutrina de Deus e da lei de Moisés, tema que não será abordado aqui.