Ou qual ritmo musical agrada a Deus?
Recentemente assisti pelas redes sociais a discussão de músicos ligados às religiões de origem afro, defendendo que os ritmos usados pelos cantores de religião afro são deles, e não se deve usá-los em canções evangélicas, e que, ao usá-los estarão invocando seus orixás. Quanta falta de conhecimento – pra não dizer, quanta ignorância!
Tais declarações merecem uma análise bíblico/histórica por ser um tema controverso, afinal, a pergunta é: Quem criou a música e pôs nela ritmos? Ora, achar que determinado ritmo pertence a algum segmento religioso é desconhecer a origem da música.
Por parte dos evangélicos, alguns comentaristas usam o texto de Ezequiel 28.13 conforme está na versão corrigida que fala a respeito do anjo de luz caído: “Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados”. A versão King James em inglês diz:
“A obra dos seus timbres e flautas foram preparadas pra ti no dia em que foste criado”, e assim as demais versões. Entenda-se que Deus criou o anjo de luz ao som de música e cores. Mas não foi o diabo quem criou. Foi Deus!
Texto semelhante está em Isaías 14.11-15. Pra se entender esses dois textos usamos a “lei da dupla referência”, conforme nos ensina F. F. Bruce em seus livros. Mas este não é nosso tema.
Qualquer pessoa que tenha um pouco de lucidez se pergunta se os ritmos pertencem ao anjo caído ou se teriam sido criados por Deus. Não apenas os ritmos dos tambores, mas as pedras preciosas também, porque estão todas no mesmo texto.
Não é o ritmo que determina se a música é de Deus ou não, mas o ritmo do coração que tem três compassos: Justiça, misericórdia e humildade! Mais adiante falo sobre isso.
Ora, na construção do tabernáculo e mais tarde no templo todas essas pedras foram usadas para adorno, e até mesmo a cidade Santa de Apocalipse está adornada dessas pedras preciosas. Então, deixemos de lado as pedras preciosas e fiquemos apenas na música.
Ora, se Lúcifer foi criado em meio a cores, pedras preciosas e ritmos, então essas coisas já existiam antes dele ser criado! Portanto, não são propriedades de Lúcifer, mas de Deus!
Qual o ritmo de Deus? E que instrumentos devem ser usados para que expressemos nossa gratidão a ele? Será que é arritmado, isto é, sem, ritmo como os mantras orientais? A resposta deve vir diretamente das Escrituras:
1. Quando o anjo de luz foi criado, já havia pedras afogueadas e sons ritmados, portanto, os ritmos não pertencem ao diabo. Ele acha que são dele, mas não são!
2. Miriam usou tambores (adufes) para glorificar e exaltar a Deus depois da passagem pelo mar Vermelho: “A profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças” (Ex 15.20).
3. Os mesmos tambores e ritmos foram usados para adoração do bezerro de ouro (Ex 32.19). Não duvide que Miriam estivesse batendo seu tambor diante do bezerro de ouro!
Então, a questão é: pra quem estamos tocando os tambores. Pra Deus ou pra Satanás! O som dos tambores não é propriedade de nenhuma religião!
Argumentam alguns que a música foi criada por um descendente de Caim. O texto de Gênesis fala de três descobertas dos filhos de Lameque: Jabal descobriu que poderia fazer tendas do coro dos animais e que não precisaria mais encontrar cavernas para se refugiar. Poderia ser nômade com seu gado! Jubal descobriu que pegando um bambu e fazendo furinhos teria uma flauta e que os tendões dos animais, bem esticados, produziriam sons. Daí vem a flauta e a harpa! Tubalcaim descobriu que poderia fazer flechas, facas e espadas trabalhando o ferro e produzindo instrumentos para arar a terra! (Gn 4.19-21).
O comentarista Mathew Henry diz:
Aqui vemos o pai dos pastores, dos músicos e da indústria, mas não os pais da fidelidade! Aqui temos alguém que ensina a forjar o ferro e o bronze, mas não alguém que ensinasse o conhecimento de Deus. Aqui temos o exemplo dos que querem enriquecer e adquirir poder e em como ficar alegre, mas sem temor algum a Deus. Pessoas que foram destituídas do conhecimento e da graça de Deus podem ser capacitadas com excelentes descobertas que os torna famosos e úteis em sua geração. Os dons naturais são dados também a pessoas comuns, porque Deus escolhe para ele as coisas loucas do mundo!
O que fazer com alguns Salmos que falam de tambores?
“Os cantores iam adiante, atrás, os tocadores de instrumentos de cordas, em meio às donzelas com adufes” (Sl 68.25). “Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas” (Sl 150.4). “Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de Israel! Ainda serás adornada com os teus adufes e sairás com o coro dos que dançam” (Jr 31.14).
O Espírito Santo usa das culturas locais para levar a mensagem do Reino de Deus aos povos, esta é uma das razões por que não existe modelo de culto nem o uso de instrumentos musicais no Novo Testamento, para que nenhuma menção de modelo de culto e de uso de instrumentos musicais fosse institucionalizada na igreja. Eis por que o NT não menciona que hino Jesus cantou em Mateus 26.26 nem por que Paulo não deixou modelos de reuniões em suas epístolas!
Não ficou nenhum modelo de culto a Deus nem o uso de instrumentos musicais para que em cada cultura o Espírito Santo pudesse aproveitar o que nela havia de bom para anunciar o Reino de Deus!
Então, quando os cantores adeptos das religiões africanas defendem que somente eles podem usar aqueles tipos de instrumentos de percussão e de ritmos o fazem na ignorância e desconhecem o imenso campo da música. Seria como afirmar que somente os cristãos podem usar as músicas de Bach e Handel e que usá-las em outros locais seria uma profanação.
Qual o ritmo de Deus? Que ritmo o agrada?
Este é um tema que vem sendo estudado faz mais de dois mil anos, mas, parece que as pessoas não leem a história nem as Escrituras Sagradas! David Tamer em seu livro “O Poder Oculto da Música” aborda que os chineses procuravam saber séculos antes de Cristo qual o tom musical do Céu por isso criaram locais como “Praça da Paz Celestial”; “portão da praça celestial”, e acreditavam que seus instrumentos musicais precisavam estar afinados com o som do Céu!
Na Grécia, Pitágoras estudou o efeito da música sobre a mente das pessoas e seu comportamento social. Yehudi Menuhin explicava que “o indivíduo é capaz de interiorizar a música e esta influenciaria em seu comportamento”.
Davi Tamer relata que o imperador Shun da China passava em revista o seu reino não examinando os livros de contabilidade nem observando o modo de vida da população e sim examinando as notas musicais de seus instrumentos. “Mandava vir à sua presença os oito tipos de instrumentos musicais conhecidos na China e ordenava que fossem tocados por músicos. Em seguida, ouvia as canções populares locais e as árias cantadas na própria corte e verificava se a música estava em conformidade com os cinco tons”.
Por isso, os chineses da antiguidade procuravam conhecer qual o som do Céu! Platão e Aristóteles discutiram os efeitos morais da música em várias de suas obras principais.
Vale aqui a declaração de Andrew Fletcher, escritor e orador no parlamento escocês em 1704: “Conheci um homem muito sábio, o qual acreditava que se a alguém fosse dado compor todas as baladas, ele não se preocuparia em quem faria suas leis”. Talvez se referisse à declaração de John Philip de Souza, o português que criou as principais músicas patrióticas dos Estados Unidos! “Deixem-me fazer as músicas que o povo canta, e não me preocuparei em quem faz suas leis”, porque ele sabia que a música de um povo é mais importante que suas leis.
Então, deixem-nos criar músicas que falem de Deus e de seu Reino e não nos preocuparemos se a música é americana, sueca, africana ou brasileira.
A resposta à pergunta de qual ritmo ou canção Deus gosta está inserida na resposta de Deus em Miquéias seis.
Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei diante do Deus excelso? Virei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Será que o Senhor se agrada com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele já mostrou a você o que é bom; e o que o Senhor pede de você? Que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus (Mq 6.6-8).
Este texto fala do coração do adorador. Se o crente tiver um coração reto, se ele amar a misericórdia e andar em humildade com seu Deus, então quaisquer que sejam as músicas que brotarem de seu coração serão músicas aceitas por Deus. O contrário também é verdadeiro: Se o coração da pessoa estiver inundado de pecado, iniquidades e injustiças, quaisquer músicas que saírem de seus lábios não agradarão a Deus.
Os judeus achavam que sacrificando bois e ovelhas seriam aceitos por Deus, e Deus fala que o coração deles é tão iníquo que os sacrifícios deles estão nulos diante dele.
As pessoas me pediam: Pastor João fale pra gente sobre a música dos hebreus! Mas, como falar da música dos hebreus se nada ficou registrado no AT e no NT? Aquela era uma música da cultura da época; assim como nós temos as canções da cultura de nosso país. Não adianta ensinar numa igreja do interior uma música de Hendel ou de Bach, europeia ou americana, mas se ensinar uma música com ritmo caribenho ou uma salsa colombiana ou uma música sertaneja as pessoas cantarão com alegria!
Quanto ao ritmo é o coração que dita. Conforme a batida do seu coração, assim o ritmo da música. Pense nisso! Quando digo coração refiro-me às emoções e ao gosto de cada pessoa. Cada pessoa tem um gosto musical e não se pode colocar todos na mesma caixinha. Um ritmo pode ser aceito na Europa e não no interior do Brasil. A partir desse detalhe podem-se trabalhar outros aspectos da música cristã.
O Brasil é imenso e cada região tem seu estilo musical preferido. Assim, os cristãos de alguns locais gostam de hinos ao estilo dos gaúchos, outros entoam em suas igrejas hinos com os ritmos nordestinos e ainda outros com melodias sertanejas.
Ora, podem-se usar melodias e ritmos para exaltar a Soberania, a graça e o poder Deus. Se não serve para adorar a Deus, não serve para ser entoado nos cultos das igrejas.
Mesmo assim, há que se respeitar as igrejas históricas que preferem os hinos de sua tradição importados da Europa. Quem do povo entoará músicas de Bach e de Mendelsson? Só os musicalmente instruídos e talentosos!
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