Pastores Infiéis

“… a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou…” (Nm 16.32).

“Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos!” (Ez 34.2).

“Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará” (1 Co 3.13).

“E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Ap 12.9).

É sempre importante fazer uma reflexão e um auto-exame checando os motivos que nos levam a fazer a obra de Deus. O que nos motiva? Nosso amor a Deus e a seu propósito eterno? Estamos agradando a Deus em vez de homens? Fazemos a obra sob o temor de Deus, ou trabalhamos visando nosso bem-estar pessoal, lucros financeiros e riquezas?

Creio que a pergunta que os discípulos fizeram a Jesus é a chave para entendermos nossa motivação.“Que faremos para realizar as obras de Deus?” (Jo 6.28). Esta pergunta mostra as intenções dos discípulos: eles queriam saber como fazer a obra de Deus. No versículo anterior Jesus repreende o povo que o procurou não porque havia visto sinais, mas porque queriam mais comida, afinal, Jesus havia multiplicado os pães e peixes. “Vocês estão me procurando porque comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres” (v 26 – NTLH).

Ao longo desses anos ministeriais percebo que muitos jovens ministros anelam o ministério porque precisam de um emprego, querem sustento, fama e poder. Olham para os mais velhos e os vêem famosos, viajando, realizando conferências e querem começar pelo fim; esquecem que os pastores antigos estão onde estão porque foram fieis a Cristo desde o início de seu ministério. Quantos de nós, pastores antigos, dormimos em bancos duros de igrejas, viajamos horas e horas de ônibus, à cavalo, à pé, mal-alimentados, em jejuns, sem dinheiro para comer um prato feito e sendo perseguidos por amor a Jesus?

Ouço o Senhor dizer a alguns jovens obreiros: vocês trabalham na minha obra porque querem sustento e não por amor a mim. Exatamente o que Jesus disse aos que o procuravam naquela época: queriam ser alimentados; queriam sustento.

Em certas denominações há uma fila de obreiros esperando que uma igreja grande e importante precise de um novo pastor – chegam a torcer para que o velho oleiro morra logo – enquanto cidades inteiras e bairros pobres e populosos das grandes cidades não têm uma igreja de sua denominação. Mas, muitos jovens obreiros não querem começar uma obra a partir do zero, ganhando pessoas para Cristo e iniciando uma nova congregação: eles querem uma igreja pronta, porque estão no ministério e seguem a Jesus por causa da comida – seu sustento. Por outro lado pastores com mais tempo na obra de Deus loteiam entre si as cidades onde a igreja fica sem pastor, obviamente anelando sempre a maior igreja e se possível, a grande sede na capital do Estado. Também visando seu próprio bem-estar. Jovens e velhos ministros trabalham com ardor à busca de sustento e não do Cristo crucificado.

Quando o Senhor lhes disse a verdade, isto é, de que o procuravam por causa da comida e não por causa dele, os discípulos perguntaram a Jesus: “Que faremos para realizar as obras de Deus?”. Novamente erraram na pergunta. Queriam, então, fazer a obra de Deus. A resposta de Jesus passa despercebida da maioria dos leitores: “Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.29).

Existe uma grande distância entre querer fazer a obra de Deus e a resposta de Jesus. Jesus respondeu que para se fazer a obra de Deus basta nele crer. E a fé em Cristo é suficiente.

Se o leitor estudar atentamente o texto de João 6 perceberá que Jesus passa a falar dele mesmo como pão. E que deveriam procurá-lo não pelo pão que perece, mas pelo pão que é eterno, isto é, o próprio Jesus. Tal qual instrumentista que aperta a cravelha de seu instrumento, o Senhor apertou o torniquete chamando os discípulos a um compromisso com ele; que vivessem dele, que se alimentassem dele, que suas motivações não deveriam ser o sustento nem a comida, mas o próprio Jesus.

No final do capítulo 6 depois de “afinar” e de apertar com o povo sobre a real motivação que os levaram a encontrá-lo, eles foram abandonando a Jesus restando apenas os Doze. À pergunta de Jesus se estes não queriam também abandoná-lo, Pedro respondeu: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna…” (v 68). Linda a resposta de Pedro, mas errada! Pedro declara que Jesus tinha as palavras de vida eterna, quando na realidade a resposta certa seria: tu és a vida eterna!

Muitos pastores trabalham para Jesus em troca da comida diária, quando deveriam trabalhar para ele pelo que ele é. Ele é tudo! Entre os de boa intenção no grupo de discípulos estava Judas que o havia de trair.

Deveríamos sempre fazer uma avaliação de nosso ministério se estamos trabalhando para ele em troca de sustento, se a obra que estamos fazendo tem a aprovação divina ou se é fruto de uma motivação errada.

Em fevereiro de 2009 completarei 45 anos de ministério – parece que foi ontem que Deus me chamou. Era a noite de 24 de fevereiro de 1964, as oito e meia da noite quando eu estava sozinho em meu quarto orando buscando a vontade Deus para minha vida. Eu tinha apenas 17 anos de idade. E optei por fazer um ministério sério, comprometido unicamente com Jesus Cristo. Tive mentores que me apontaram a trilha a seguir, mas ao longo da senda que percorri deparei-me com pastores de diversos matizes. Trabalhei com homens sérios e comprometidos com Cristo, mas tive que suportar líderes que descartavam seus obreiros, como se descarta um objeto; descartavam quaisquer pessoas cujo ministério lhes fizesse sombra. Obreiros que têm como alvo a fama e as riquezas, orgulhosos, traidores, roubadores, alguns adúlteros e outros efeminados. Mas também me deparei com homens sérios.

Percebo que nos dias de hoje, mais que em anos anteriores, o dragão vem seduzindo os pastores, final, ele é o sedutor de todo mundo. Depois de seduzir os servos de Deus, o dragão abre sua boca e os engole. Quase todos os dias um pastor é seduzido e devorado pelas mandíbulas pontiagudas de Satanás que atrai para si pastores e líderes cuja motivação não é mais o Cristo crucificado, nem a santa causa, a igreja, mas o sustento pessoal e a oportunidade de enriquecimento. Não apenas os pastores caíram na armadilha do diabo; suas igrejas também. Os crentes lotam os templos em busca de prosperidade e riqueza  – querem pão; e os pastores trabalham pela prosperidade e riquezas – também querem pão.

O diabo é o sedutor dos pastores. Quantas pessoas foram seduzidas por ele no campo ministerial. Sim, porque o diabo não precisa ir muito longe para seduzir; ele o faz dentro da seara do Mestre. O enriquecimento ilícito, a facilidade de ganhar dinheiro, de ter mulheres e fama fazem parte da sedução do diabo nestes últimos dias. O dragão seduz os servos de Deus apresentando-se como um ser angelical cheio de luz com atrações ministeriais.

A orientação de Jesus continua: Trabalhem não pela comida que perece. Esta declaração de Jesus nos catapulta ou nos arremete para uma vida de comunhão íntima com Cristo que deve ser prioridade do obreiro, antes da obra; antes de se fazer qualquer coisa. Cristo deve ter o primeiro lugar. É a partir desta premissa que a obra de Deus deve ser feita.

Arguto que é o diabo traz para seu redil e fisga com facilidade os que também usam de astúcia no ministério, que são cativados pelo dinheiro, pela política, pelo  sexo e pelo poder. Ínfidos e trucões muitos obreiros fazem da solércia seu estilo de vida.

O assunto não se esgota aqui. Vou continuar a escrever sobre o tema.

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