DIZIMAR E ALTAR

É meu dever, como escritor e pastor tentar corrigir duas palavras ou expressões comumente faladas em nossos púlpitos ou fora dele por nossos irmãos em Cristo. Confesso que meu esforço tem sido em vão, porque os obreiros e até pastores inteligentes e cultos persistem no erro, apesar de admoestados.

A primeira correção é de ordem gramatical e a segunda de ordem escatológica e bíblica. Vejamos primeiramente a expressão “dizimar”. Os pastores dizem:

– Vamos dizimar ao Senhor!

Ora, a palavra dízimo é substantivo e não conjuga e precisa de um verbo auxiliar: Dar o dízimo ou entregar o dízimo. Já a palavra “dizimar” quer dizer originalmente destruir parte de uma lavoura, de uma asa, uma cidade etc. No dicionário Oxford a explicação não deixa dúvidas: “[…], provocar a morte em massa de (grande número de pessoas); exterminar”. Ex: “as duas guerras mundiais dizimaram milhões de pessoas”.

Portanto, prezados pastores parem com a expressão “dizimar” e digam: Vamos ofertar nossos dízimos ou vamos entregar os dízimos. Lamentável é que mais de quarenta milhões de crentes neste país persistem no erro gramatical! E os pastores são os grandes culpados!

O segundo erro grosseiro e imperdoável é chamar o púlpito de altar.Ora, o altar físico deixou de existir desde que o templo dos judeus em Jerusalém foi destruído no ano 70 pelas forças militares romanas. Até mesmo alguns dos hinos que entoamos usam a expressão altar: Deixe tudo no altar! Consagre sua vida no altar, isto é, na frente do púlpito. Ora, altar é uma figura de linguagem que se refere a consagração de nossas vidas no altar de Deus, mas este altar é espiritual, não físico.

Aquele lugar mais alto nos templos e locais de reuniões existe por dois motivos: Primeiro, para que o pregador seja visto por todos; e segundo, para que sua voz tenha maior acústica e seja ouvida pelo povo sentado mais abaixo – especialmente na época em que não havia sonorização, isto é, microfones. Jesus usou o mar como acústica para que seu som chegasse à praia.

Argumentam alguns que Esdras usou um altar.

“Esdras, o escriba, estava num púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; estavam em pé junto a ele, à sua direita, Matitias, Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaséias; e à sua esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão” (Ne 8.4).

Algumas várias versões usam a palavra “plataforma” outras em inglês “estrado”, quer dizer, um lugar mais alto para ser visível por todos. Quando Jesus falava de altar, se referia ao altar de sacrifícios, como em Mateus 5.23,24: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti […]”. Ali o altar era um espaço físico no templo!

Entre os pagãos também havia altares que eram dedicados aos deuses daqueles povos. Paulo fala sobre isto em Atos 17.23: “[…], porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio”.

Quando Paulo fala de altar se refere ao altar existente naqueles dias no templo:

“Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? (1 Co 9.13; 10.18).

E todos os demais textos do NT, se referem a um altar físico, inclusive o “altar” em Apocalipse, algo que está no céu e de onde Moisés fez a cópia para o tabernáculo.

Outro aspecto interessante que devo comentar é que a ideia de “altar” separa os crentes em duas classes: O clero e o laicato. O clero são aqueles que se assentam na plataforma erroneamente chamada de “altar” e os leigos ficam sentados na nave do templo. Deus não gosta dessa ideia, porque separa os irmãos em classes. Os apóstolos cometeram o erro de achar que não deviam se misturar com o povo e decidiram ficar separados em oração e no estudo da palavra. O Espírito Santo não se agradou do que eles fizeram e veio uma perseguição nos dias da morte de Estêvão e espalhou os crentes pela face da terra deixando os apóstolos em seus escritórios em Jerusalém!

Hoje, não existe clero nem laicato, porque todos somos sacerdotes do Altíssimo, isto é, todos temos acesso a Deus e não precisamos de intermediários.

A igreja, ao longo dos séculos recriou a ideia de altar, separando um espaço com uma luz vermelha indicando que aquele espaço foi consagrado a Deus e que ali só o “sacerdote” esta nova figura suba para adorar a Deus.

“Venha à frente, e se ajoelhe diante do altar”. Em outras palavras, os líderes estão sobre o altar e você se prostra diante deles!

Havia em Porto Alegre um templo anglicano no bairro Petrópolis, um templo redondo que a igreja anglicana abandonou e se tornou, na ocasião um antro de prostituição, consumo de drogas etc. O lixo dominava a parte interna e a parte externa. Nós precisávamos de um espaço para que tivéssemos reuniões pequenas nos meios de semana, porque alugávamos um teatro às segundas-feiras para as reuniões da igreja.

Alguns irmãos de origem anglicana falaram com o Bispo Don Arthur Kratz, amigo meu, porque sempre me convidava a pregar nas paróquias anglicanas de Porto Alegre e ele mesmo fora batizado no Espírito Santo, e alugamos aquele espaço. O templo é redondo, os vidros coloridos todos quebrados; os banheiros depredados; o piso era de concreto e o prédio, como um todo estava um caos!

A igreja, então, restaurou o prédio, colocou vidros, um novo piso, ajeitou os banheiros e a cozinha, melhorou o refeitório e passou a se reunir ali alguns dias da semana.

Lembro-me que o Arcebispo, Dom Arthur Kratz inaugurou o “altar” e acendeu a luzinha vermelha que indicava que o local estava “consagrado”. Eu estava ao lado dele, porque preguei neste dia, e, assim, a igreja anglicana passou a ter seu culto dominical aos domingos de manhã, por algum tempo.

Certa ocasião decidimos fazer o almoço mensal de pastores da cidade – à época cada mês uma igreja oferecia um almoço aos pastores da cidade – no templo redondo. Arrumamos as mesas no salão principal até que chegou um pastor anglicano e nos proibiu de comer naquele espaço, porque o local estava consagrado a Deus! A solução foi nos amontoarmos no pequeno refeitório ao lado da cozinha para o almoço.

Respeitamos a decisão dele, e na ocasião me lembrei de um texto do AT em que Moisés, Jetro e os anciãos de Israel “comeram e beberam diante do Senhor” (Ex 18. 12). A igreja primitiva se reunia em espaços e ali faziam a ceia de amor, diante do Senhor!

Depois que nos retiramos do local, ele voltou a ficar abandonado, sujo, porque nem nós nos reunimos mais ali, nem os anglicanos, porque a igreja anglicana de Porto Alegre é hoje um monumento histórico, sem expressão na cidade.

Felizmente, outro grupo liderado pelo pastor Carlos Marques adquiriu o local e se reúne ali com a Igreja Manancial. Aliás, os episcopais de Porto Alegre perderam até mesmo seu instituto teológico e sua escola famosa, o Colégio Cruzeiro do Sul!

Ainda quero comentar em outro texto sobre os títulos que separam os irmãos uns dos outros. Aguarde!

 

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