Trabalhar ajudando colegas de ministérios deveria ser dever de todo pastor. Ao longo dos anos aprendi que o pastor precisa ser também pastoreado, cuidado e compreendido por outros colegas de ministério, sem pretensão alguma; sem interesses pessoais, a exemplo de Barnabé que ajudou a Paulo a se erguer ministerialmente e, mais tarde foi por este incompreendido. Barnabé merece um texto à parte.
Paulo aconselhou os líderes de Mileto e de Éfeso a que se cuidassem mutuamente, isto é, uns aos outros.
“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho que o Espírito Santo entregou aos seus cuidados, como pastores da Igreja de Deus, que ele comprou por meio do sangue do seu próprio Filho” (At 20.28 – NTLH).
Cuidem uns dos outros – aconselha Paulo – isto é, protejam-se mutuamente, unam-se, andem juntos, mas não tem sido assim desde que me tornei pregador do evangelho faz 44 anos. No entanto, na medida do possível procuro zelar por meus colegas de ministério – eles podem testemunhar a este respeito.
Acredito, no entanto, que os líderes que trabalham nos dias de hoje – grupos, organizações e denominações – precisam observar o que Paulo diz:
Pois não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais, para os filhos. Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado? Pois seja assim, eu não vos fui pesado; porém, sendo astuto, vos prendi com dolo. Porventura, vos explorei por intermédio de algum daqueles que vos enviei? Roguei a Tito e enviei com ele outro irmão; porventura, Tito vos explorou? Acaso, não temos andado no mesmo espírito? Não seguimos nas mesmas pisadas?
Percebo, contudo, que muitos líderes e ministros da igreja do século XXI estão sendo influenciados pelo deus deste século, porque passaram a interpretar e a usar as Escrituras com uma ótica diferente da dos primeiros apóstolos. Esquecem que o espírito do anticristo permeia e domina praticamente todos os setores da sociedade, e quiçá alguns ministérios. Além de pregarem um evangelho que oferece vantagens e oportunidades ímpares a quem o aceitar, diferentemente da pregação do evangelho do reino que exigia renúncia das pessoas a favor de Jesus Cristo, os novos líderes aprenderam a usar de sutilezas e argúcia – qualidades próprias do anticristo – com o fim de obterem vantagens pessoais no pastoreio de pastores.
Já me referi em outro artigo como os pregadores incentivam os irmãos, especialmente os jovens a que se tornem ricos e milionários, pregação totalmente oposta aos ensinamentos de Jesus e de seus primeiros apóstolos, e desta vez quero mostrar como alguns ministros e ministérios – líderes apostólicos e ministérios apostólicos – se oferecem para ajudar pastores que sentem a necessidade de proteção e ajuda espiritual, especialmente aqueles que, desesperados os buscam para serem ajudados, quer em sua vida pessoal, familiar ou ministerial.
Não vou entrar no mérito do tema da “cobertura” espiritual, tema que merece abordagem especial; quero, isto sim, falar da prática errada e do enriquecimento ilícito dos que dão a suposta “cobertura”.
O motivo que me leva a escrever é porque pastoreio pastores, como uma prática bíblica, sem pretensão pessoal alguma, às vezes arcando com todas as despesas para viajar e ajudar um obreiro em crise, um contraste com o pastoreio de pastores oferecido pela Internet. Acessei o site de alguns ministérios que eu considerava maduros e sérios e descobri-os ínfidos – infiéis. Ministérios que se aproveitam de pastores ímbeles ou fracos explorando a boa-fé dos irmãos.
Aprendi com os líderes do passado que se você quer testar a grandeza de um homem, teste-o pelas finanças, e veja como ele lida com a questão do dinheiro. Um dos sites que acessei diz com respeito ao custo/benefício da cobertura espiritual (com erros de português que faço questão de manter):
“Tudo o que é recebido gratuitamente é desprezado e não se dá o mérito e o valor adequado. A mensalidade será defenida de acordo com a região. Para alguns casos muito especiais, poderão haver BOLSAS DE ESTUDO. O que nos importa não é o dinheiro, que serve para nos ajudar a pagar despesas, mas sim o ‘espírito’ que hà em nós, de sermos um canal de bençãos para outros Ministérios”.
Você percebe o sofisma e a atitude mendaz deste grupo? Ora, a salvação é de graça, nem por isso devemos desprezá-la. O que quer dizer este líder? Que ele prega uma salvação que requer obras, ofertas ou dinheiro para torná-la eficaz! Assim, ajudar um pastor ou uma igreja em necessidade não se faz mais por amor, porque senão a ajuda não será valorizada. Percebe aí o espírito do mundo?
Ora, nem preciso apresentar aqui a base bíblica da salvação, mas apenas, em relação ao dinheiro mostrar o que afirmou Paulo em 2 Coríntios 8.9. Paulo está falando de ofertas e usa Jesus como exemplo de alguém que se deu totalmente: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”.
Hoje se inverte o texto. Os pregadores usam a pobreza do povo para se tornarem ricos. Que pregador está disposto a abrir mão de todas as suas posses em favor dos necessitados?
O site de um grupo que sempre acreditei ser maduro e confiável, diz:
“Contribuição financeira: Nosso entendimento é que o pastor que é coberto deve abençoar financeiramente aquele que o cobre. Na Bíblia todas as primícias eram depositadas no altar a favor dos sacerdotes; o dízimo dos dízimos dos Levitas eram para os sacerdotes. Abraão entregou os dízimos ao sacerdote Melquizedeque; parte dos dízimos do povo eram entregues aos sacerdotes. A figura do sacerdote no Antigo Testamento é uma projeção profética do ofício pastoral do Novo Testamento e o mesmo princípio está consubstanciado em I Co 9:11 e em Gl 6:6. Muitos ministérios importantes no mundo e alguns no Brasil entendem dessa forma”.
Ops! Existe um sutil engano nesta proposta. Usa-se uma prática do AT para o ministério pastoral do NT. O que o líder desta proposta não aborda é que havia uma tribo sacerdotal que precisava ser sustentada, e hoje não existe tribo sacerdotal na igreja, todos somos levitas e sacerdotes de Cristo (1 Pe 2.9). Ele não aborda que parte dos dízimos era usada para o sustento dos pobres, dos órfãos e viúvas e dos peregrinos, especialmente os dízimos do terceiro ano.
Agora, querer afirmar que os pastores que dão cobertura são “sacerdotes” e que os que ficam debaixo de cobertura são “levitas” e que estes devem dar o dízimo dos dízimos aos sacerdotes é querer afirmar que existe, sim, na igreja alguns que são levitas, outros sacerdotes, e ainda outros sumo sacerdotes a quem se deve dar os dízimos dos dízimos! É a volta do clero em sua mais rude forma. É a vituperação da simplicidade do evangelho e da igreja de Jesus Cristo. Esse tipo de líder que explora não mede esforços para gastar um milhão de reais no casamento de uma filha.
“Na Bíblia todas as primícias eram depositadas no altar a favor dos sacerdotes”, diz o texto, e ele quer dizer com isto que hoje alguns deles são os sacerdotes! Que engano sutil!
“A figura do sacerdote no Antigo Testamento é uma projeção profética do ofício pastoral do Novo Testamento”, diz o autor. Como? Líderes que fazem tal declaração desconhecem a teologia do Novo Testamento; desconhecem o ensinamento de Jesus e de Paulo; desconhecem a nova cultura da igreja, porque afirmam que o pastor, hoje, é uma figura do sacerdote do AT. Esses novos líderes estão trazendo para a igreja a velha teoria do clero e do laicato. Estão fazendo distinção dentro da mesma raça e criando castas na igreja; estão ensinando que Deus tem na terra dois tipos de cristãos, o que é clero e o que é povo.
De onde parte tal declaração? O líder diz que “muitos ministérios importantes no mundo e alguns no Brasil entendem dessa forma”. Meu irmão: imite a Paulo e a Jesus, mas jamais os ministérios existentes ao redor do mundo. Procure ser fiel aos princípios bíblicos e não aos ensinamentos de pastores e apóstolos do mundo capitalista. Não imite os americanos e os brasileiros que pregam um evangelho capitalista. Imitem a Jesus e ao seu evangelho social.
Paulo escreve: “Pois não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros” (2 Co 12.14). Hoje os novos líderes procuram os pastores oferecendo-lhes cobertura porque querem seus bens! O que afirma 1 Coríntios 9.11 e Gálatas 6.6? “Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?” e “Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui”.
“Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais, para os filhos”, afirma Paulo. O que se vê é que hoje os pais querem que os filhos entesourem para eles, quando o contrário é que é verdadeiro: os pais entesouram para os filhos! E pior: como se esses obreiros que se submetem a eles fossem filhos. Filhos são os que geramos em Deus!
Paulo está ensinando aos irmãos de Corinto e da Galácia que o obreiro tem direito de ser abençoado financeiramente, porque ele é como o boi que trabalha, como o soldado contratado, compara-o ao sacerdote que come do altar, mas os obreiros de hoje impõem este princípio como condição para darem ajuda e cobertura espiritual, duas coisas completamente diferentes! Paulo está afirmando que o obreiro precisa comer, sustentar a família e se deslocar em viagens, e, por favor, entenda dentro do contexto bíblico da época que nenhum deles buscava enriquecimento pessoal, mas unicamente o bem da igreja.
E Paulo pergunta: “Tito vos explorou? Acaso, não temos andado no mesmo espírito? Não seguimos nas mesmas pisadas?”. Obviamente que a resposta é: Tito não explorou nenhum de vocês, pedindo dinheiro para si, porque ele e eu temos o mesmo espírito e seguimos as pisadas de Jesus Cristo. Seria interessante o Ministério Público investigar a vida de algumas dessas organizações e de seus líderes.
Realizar um ministério de ajuda a pastores e igrejas sem buscar proveito próprio é um desafio que sempre temos de enfrentar, porque é um ministério que tem de ser feito com ética e critérios bíblicos, ainda que soframos com pastores e igrejas que sequer sabem o que é abençoar o pregador, o que significa dar uma oferta de amor, mesmo assim, nosso procedimento tem de ser o de Jesus e de Paulo. Não buscamos o nosso benefício, mas dos irmãos.
Obviamente que qualquer pregador se sente inferiorizado quando vai a algum lugar ministrar e descobre que o cantor que se apresentou durante a conferência recebeu um cachê elevadíssimo e que ele, como pregador ganhou uma oferta de amor que mal dá para viver durante a semana seguinte! Mesmo assim, deve se manter confiante de que Deus é quem o sustenta, e não homem algum.
Especificamente este articulista não ganha salário de igreja alguma, não tem emprego no mundo secular, nem solicita oferta de seus melhores amigos; apenas crê que o Deus que o chamou é que o sustenta todos os dias.
E olhe mais o que afirma o texto desse líder divulgado na WEB:
“Ter cobertura é ter Proteção Espiritual. É ser pastoreado; é estar perto daquele que lhe cobre, é tomar a iniciativa de comunicar tudo: tudo sobre você e sua família, tudo sobre o seu ministério, tudo sobre as suas relações de trabalho, tudo sobre situações íntimas ou pecados ocultos; andar sob cobertura é fazer confissão e andar em transparência; aquele que cobre não deve ter a atitude de domínio, contudo, quem é coberto, deve aceitar ser corrigido”.
Meu amigo pastor: Cuide-se dos exploradores que querem seus bens, e não seu bem-estar! Eles querem que você compartilhe com eles seus pecados, sua vida de intimidade com a esposa; exigem que você conte tudo, mas eles mesmos mantêm-se silenciosos a respeito de si mesmos, porque querem seus bens! Os lobos estão por toda parte! Eles querem os seus bens e não o seu bem-estar!
Cuide-se!
Observação importante e necessaria a todo ministerio pastoral.
Obrigado, meu amado irmão. Pastoreio e pastores e sou também pastoreado. Isso me mantém equilibrado e prestador de contas.