Nota: Corrie Tem Boom foi uma holandesa que sobreviveu aos campos de concentração dos nazistas e uma grande missionária, depois que foi liberta. Corrie cria que enfrentaria tribulações. Ela foi uma das muitas pessoas que sofreram dura perseguição nos campos de concentração nazistas, durante a Segunda Grande Guerra. Sua família foi morta diante dela, e, mesmo sob ameaça, Deus a conduziu através daquele duro período de perseguição.
Aqui está uma exortação que ela escreveu em 1974.
O mundo está moribundo. Está à beira da morte. O Grande Médico já assinou seu atestado de óbito. E, contudo, existe muito a ser feito pelos cristãos. Estes deveriam ser como rios de água viva, canais de misericórdia aqueles que ainda vivem no mundo. É possível ajudar, porque esses cristãos são vencedores. Os cristãos são embaixadores de Cristo a um mundo que está morrendo. E, devido a nossa presença as coisas podem mudar.
Minha irmã Betsy e eu fomos levadas para o campo de concentração nazista em Ravensbruck pelo crime de amar os judeus. Setecentas pessoas da Holanda, França, Rússia, Polônia e Bélgica fomos amontoadas num espaço que só cabiam duzentas pessoas. Até onde sei Betsy e eu éramos as únicas duas representantes do Céu naquele galpão. É possível que fossemos as únicas representantes do Senhor naquele galpão dominado pelo ódio, mas, as coisas mudaram. Jesus disse: “No mundo tereis aflições, mas, tenham bom ânimo, eu venci o mundo”. Nós também podemos ser vencedores – trazendo a luz de Jesus num mundo tomado de trevas e ódio.
Muitas vezes fiquei com medo ao ler a Bíblia e ver que as tribulações e perseguições prometidas nas Escrituras eram verdade. Agora posso lhe dizer que, se você também está com medo, eu li as últimas palavras ali proferidas: “Aleluia! Aleluia!”, porque li, que também está escrito: “Ao vencedor farei que herdem todas as coisas, e eu serei o seu Deus e eles serão meus filhos”. Este é o futuro e a esperança para o mundo. Não que o mundo sobrevirá, mas que seremos vencedores no meio de um mundo que está à morte!
Betsy e eu ali no campo de concentração orávamos intensamente para que Deus a curasse. “Sim, o Senhor vai me curar”, dizia Betsy confiadamente. No dia seguinte ela morreu e eu não conseguia entender o por quê! Seu corpo foi deixado sobre o frio concreto juntamente com todos os corpos de mulheres que haviam morrido naquele dia. Eu não conseguia entender que Deus tinha um propósito nisso tudo. Hoje, devido a morte de Betsy viajo pelo mundo todo falando do amor de Jesus.
Alguns de nós ensinamos que não haverá tribulação e que os crentes dela escaparão. Esses são falsos ensinamentos do qual Jesus alertou que haveria nos últimos dias. A maioria desses pregadores não tem ideia do que está ocorrendo em outras partes do mundo. Tenho visitado países onde os cristãos vivem sob severa perseguição. Na China, os cristãos ouviram os pregadores dizer: “Não se preocupem, antes da tribulação Jesus arrebatará seu povo”. Então veio uma terrível perseguição. Milhões de cristãos foram torturados até a morte. Mais tarde ouvi o bispo da China afirmar com tristeza:
“Fracassamos. Deveríamos ter preparado um povo que fosse forte e agüentasse a perseguição, em vez de lhes dizer que Jesus, antes disso viria. Ensine o povo em como ser forte na época da perseguição e de como permanecer firme quando ela chegar – e não desanimar”.
Sinto que tenho a responsabilidade de dizer às pessoas que devem estar preparadas e de serem fortes no Senhor Jesus Cristo. Estamos sendo treinados para a tribulação, no entanto, mais de sessenta por cento do corpo de Cristo no mundo todo já entrou em seu período de tribulação. Não há como escapar. Somos os próximos.
Já que fui aprisionada por amor a Jesus, e desde que me encontrei com o bispo da China, toda vez que leio um lindo versículo da Bíblia eu penso: “Vou usar este texto na época da tribulação”. Então, memorizo aquele texto.
Quando estive no campo de concentração, de onde apenas vinte por cento das mulheres saíram com vida, encorajávamos umas às outras dizendo: “Nada poderá ser pior do que hoje”. E descobríamos que o dia seguinte era pior. Durante aquele tempo um texto bíblico que eu memorizara me enchia de esperança:
“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados” (1 Pe 3.14).
Eu dizia: Aleluia! Através de meu sofrimento Jesus está sendo glorificado.
Na América as igrejas entoam: “livres de qualquer tribulação”, mas na China e na África a tribulação já chegou. No último ano mais de duzentas mil pessoas sofreram martírio na África. Essas notícias nunca saem nos noticiários porque podem prejudicar o relacionamento entre as nações. Mas, eu sei. Eu estive lá. Precisamos ter isso em mente quando nos assentarmos em nossa linda sala de estar, bem vestidos para comer nossas refeições, e saborear um churrasco. Muitos, muitos membros do corpo de Cristo estão sendo torturados neste exato momento, e nós vivemos como se nada estivesse acontecendo e como se a tribulação nunca nos alcançasse.
Anos atrás visitei certo país da África onde um novo governo se apoderou do poder. Na primeira noite em que lá estive alguns cristãos foram levados para a delegacia para serem registrados. Naquela mesma noite foram presos e mortos. No dia seguinte a mesma coisa aconteceu com outros cristãos. No terceiro dia também. Todos os cristãos daquela região estavam sendo sistematicamente executados. No quarto dia eu deveria falar numa pequena igreja. As pessoas vieram cheias de medo e apreensivas. Durante o culto elas se olhavam e se perguntavam: “Será que a pessoa que está ao meu lado será executada esta noite. Serei o próximo a morrer?”.
O ambiente estava sufocado, quente e saturado de insetos que entravam atraídos pela luz e ficavam voando ao redor das lâmpadas, caindo sobre a cabeça das pessoas. Então, contei-lhes uma história de minha infância.
“Quando eu era menina, perguntei ao meu pai: Pai, tenho medo de que eu não seja forte o suficiente para ser um mártir por Jesus Cristo”. Meu pai me respondeu: “Diga-me, quando você toma um trem para Amsterdam, quando é que lhe dou o dinheiro para as passagens? Três semanas antes?”. Respondi: “Não, pai, você me dá o dinheiro quando eu saio para a estação de trem”. “Isto mesmo”, respondeu meu pai. “E assim acontece com a força que vem de Deus. O Pai do céu sabe o momento em que você precisa ser fortalecida para ser uma mártir de Jesus Cristo. Ele a tudo suprirá, bem a tempo”.
Meus irmãos africanos sorriam e concordavam com um movimento da cabeça. De repente um espírito de alegria veio sobre aquela igreja e as pessoas começaram a cantar: “Junto as águas do rio da vida onde a morte não nos alcançará…”. No ano passado metade daquela congregação foi morta pela polícia. Ouvi que a outra metade foi assassinada meses depois. Mas, devo lhe dizer uma coisa: Fiquei tão feliz por Deus ter me usado para encorajar aquelas pessoas, porque eu tinha comigo a palavra de Deus.
Como nos preparar para a perseguição? Primeiramente precisamos nos alimentar da palavra de Deus, digeri-la e torná-la parte de nosso ser. Isto quer dizer que devemos ser disciplinados no estudo da palavra dia a dia tratando de memorizar versículos bíblicos e colocá-los a funcionarem como princípios em nossa vida. Segundo. Precisamos desenvolver um relacionamento pessoal com Jesus Cristo. Não com o Jesus de ontem, o Jesus da história, mas o Jesus transformador de hoje que está vivo e que se assenta ao lado direito de Deus-Pai.
Temos que estar cheios do Espírito Santo. Esta não é uma opção, mas uma necessidade. Aqueles primeiros discípulos não suportariam a dura perseguição de judeus e romanos se não estivessem cheios do Espírito Santo.
Na perseguição que virá devemos estar prontos para ajudar uns aos outros e mutuamente nos encorajar.
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Autora: Corrie Tem Boom
Tradução de João A. de Souza Filho