O livre pensamento e os fariseus

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1 Co 1.10).
Certas pessoas fazem das palavras de Paulo aos irmãos da igreja de Corinto, uma regra utópica. Explico. O autor de Utopia, Thomas More, em livro publicado em 1516 escreveu sobre uma sociedade maravilhosa, em que todos pensam igual e possuem tudo em comum. Thomas More era grande perseguidor da igreja e nele está a raiz do socialismo comunista. Pois parece que Thomas More conseguiu fazer reviver suas teorias em algumas igrejas que não entendem o que Paulo escreveu: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1 Co 1.10).
Ora, Paulo não está condenando quem tenha opinião diferente, até porque escreveu a respeito das opiniões diferenciadas que os irmãos podem ter quanto a certas práticas judaicas em Romanos 14. Paulo está afirmando e ensinando que, com a respeito a Cristo todos devem pensar a mesma coisa, “unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer”. Na igreja de Corinto Cristo estava sendo dividido em pedaços e em opiniões, levando as pessoas a seguirem a Pedro, Paulo, Apolo e Barnabé. É disso que Paulo trata. Todos temos que pensar igual com respeito a Cristo!
Mas, convenhamos, alguns líderes e igrejas exigem uniformidade em tudo, especialmente na maneira de pensar. Qualquer pessoa que pense diferentemente da liderança de algumas igrejas é tratado como rebelde ou excluído do rol de amizades. Líderes dessa estirpe vivem no limiar de condenar as pessoas e assassiná-las pelo que elas pensam, dizem e escrevem. Bem, especialmente quando elas escrevem, porque aí fica registrado o que elas pensam; e por isso passam a ter sua história de vida julgada e sua reputação assassinada.
Esse tipo de comportamento me remete a cinquenta anos atrás quando alguns pastores exigiam que todas as irmãs usassem tranças que caíssem pelos ombros e proibia os coques; outros exigiam que elas usassem cabelos soltos. E, outros, só admitiam que usassem coques. E, tais coisas serviam de condição para tomar a ceia. Mas, aqueles viveram em outros tempos. Hoje, no mundo de pluralidade, as únicas coisas inegociáveis são as doutrinas da fé, mas, aqueles que têm pensamentos sobre política, economia, sobre pessoas e até sobre pastores não podem ser condenados e jogados na fogueira da falsa espiritualidade, no entanto, para alguns líderes, quem pensa diferentemente se torna inimigo cruel de suas igrejas.
Nós, a quem Deus concedeu a capacidade de escrever e de expor ideias pela escrita somos os que mais sofremos – refiro-me a todos os escritores e articulistas – porque temos que ser sinceros com nossa consciência e com os pensamentos. Ora, alguns de nós já levamos nosso pensamento cativo a Cristo, como Paulo afirma em 2 Coríntios 10.5 mas, tal como Cristo era condenado pelo que ensinava, assim também sentimos arder sob nossos pés a fogueira da inquisição moderna.
É próprio dos jovens escritores viverem com medo de expor o que pensam, e o fazem corretamente, porque têm uma senda longa e sinuosa pela frente a percorrer, e podem ir para a fogueira da inquisição evangélica cedo demais, mas, um escritor como eu que beira os setenta anos de idade e que já foi tantas vezes apedrejado por suas opiniões nada tem a temer. Até porque me respalda a longa jornada de cinquenta anos de ministério a serviço de Cristo e de sua igreja. Além de que o Cristo que servimos nos impulsiona a seguir em frente.
Quando se julga uma pessoa pelo que ela pensa, usa-se da espada humana para dividir o corpo de Cristo e nos separar uns dos outros. A contribuição que Deus me permitiu dar ao corpo de Cristo no Brasil, especialmente com os livros de louvor que mudaram radicalmente a liturgia das igrejas; e os livros de guerra espiritual e livros para pastores e líderes formam o leito por onde correm ideias, todas firmadas na Palavra de Deus.

 

6 thoughts on “O livre pensamento e os fariseus

  1. Formidável! Ainda existe muita Verdade sendo encoberta. Sendo usada como freio. Freio de boca de cavalo.
    Gosto muito de ler, estudar e escrever Pastor João. Aliás, quem me ouve ou me vê conversando, não seria capaz de associar meu reportar escrito com o falado.
    Já vivi, e posso dizer que percebo aspectos do que você comentou a respeito de pensar diferente, ou quem sabe, de pensar o certo a respeito dessas Verdades encobertas.
    Se eu que não sou “ninguém” já sofro com tais perseguições, rejeições, e descontentamentos por conta de me expressar, imagina o senhor Pastor João! Sem falar na falta de crédito, porque não possuo divisas!
    Mas a verdade se revela para quem a busca! Fico triste de observar tantos papagaios de igreja!
    Paulo também foi dirigido pelo Espírito Santo não só a escrever, mas como proceder para livrar sua pele, até o momento final de sua existência. Por isso, muitas vezes foi político, parecendo andar em concordância com os costumes firmados na lei dos lugares onde andou.
    “As mulheres não podem falar nas igrejas”! Essa é uma dessas politicagens…
    Por isso a obrigação de estudar, garimpar literatura de apoio. Estudar costumes da época. E até recriar um cenário mesmo que mental, na tentativa de contextualizarmos melhor os textos.
    Corpo nasce se desenvolve e morre. E este corpo de “hoje” esta prestes a morrer! E o próximo grande renovo vira sobre a Igreja a fim de romper com a lei da mordaça. Romper com o legalismo aninhado com tamanha hipocrisia. Romper com os epicureus, em pensamentos e atitudes.
    Jesus é vida! E vida com abundancia. Jesus é libertador.
    Parabéns Pastor João!

    1. Eneias, você se expressa muito bem. Parabéns. Seu texto formidável me deu uma injeção de ânimo nesse árduo ministério em que sou livre-pensador, sempre a reboque das doutrinas bíblicas. Um grande abraço,

      Pastor João

  2. Excelente reflexao pastor! É como nosso Senhor Jesus disse, o caminho é estreito para quem vive o evangelho verdadeiro. Continuemos a marchar (Exodo 14 14 e 15)!

  3. Sensacional reflexão. Ela me remete a um papo entre o Paulo Brabo, Ed René Kivitz, Lourenço Rega e Jung Mo Sung, no lançamento do livro A Bacia das Almas. O Paulo fala contra essa ação uniformizadora da igreja, mostrando que isso não é a essência do Cristianismo. O Jung, por outro lado, fala como isso manteve a igreja em tempos difíceis. Em particular, eu tenho que concordar com ambos. Institucionalmente, é a forma de fazer com que algo perdure. Entre as pessoas, sempre nos será necessário o amor ao próximo que Cristo tanto valoriza. Sem esse amor pela diferença nos outros, inclusive cada um afrontando ao seu próximo em algo, a igreja não tem sentido.

    1. Fabrizio, não precisa me colocar em nível tão alto assim; mas, é a realidade que sofro na carne quando tenho que opinar sobre alguma coisa na Internet. Sou enforcado, esquartejado, dilacerado em palavras. Mas, mantenho-me firme!

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