“Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais. Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos” (2 Co 11.3-5).
Sei que ao escrever este artigo, volto a “chover no molhado”, isto é, a repetir o que tantos outros pastores e escritores falaram e escreveram: Muita coisa mudou na mensagem do evangelho no século XXI. Muitos desses autores, como eu, começaram sua jornada ministerial cinquenta anos atrás e acompanham as tendências sociais e espirituais do povo e da igreja. Todos concordam num ponto: Houve uma variação sutil, quase imperceptível na mensagem do evangelho cujo ápice pode ser observado nesta segunda década do século XXI.
Às vezes ponho-me a meditar tentando entender em que ponto da história recente da igreja minha geração abdicou da mensagem simples e pura do evangelho de Cristo para a mensagem que hoje é pregada. Seria apenas uma mudança cultural, uma mudança espiritual ou as duas coisas juntas? Não acredito que a mudança tenha ocorrido por questões sociais, isto é, pelas mudanças culturais e, sim, por que houve uma mudança no mundo espiritual. A mensagem do evangelho é perene e a mesma ao longo dos séculos apesar das mudanças culturais e sociais.
Explico. As mudanças culturais sempre ocorreram ao longo da história, mas a mensagem do evangelho tem que se manter inalterada, incorrupta e pura. Os pregadores do passado – pelo menos dos últimos dois séculos – enfrentaram o mesmo dilema que enfrentamos hoje que é o de descobrir as tendências sociais que afetam direta e indiretamente a igreja. Assim como tiveram que resolver este dilema mantendo-se fiel à mensagem de Cristo, a geração atual também terá que fazer a sua parte.
A preocupação de Paulo é claramente manifesta na primeira parte do versículo que está no início deste artigo: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo”.
Paulo atribui os acontecimentos daqueles dias e os de hoje como resultados da astúcia do diabo. E a área em que o diabo opera com astúcia é na mente, isto é, na razão, intelecto e vontade, levando as pessoas a agirem diferentemente de Cristo. Ele afirma que a astúcia do diabo leva as pessoas a agirem fora do eixo da simplicidade e da pureza, qualidades inerentes ou próprias de Jesus Cristo.
Procurarei resumir as mudanças na mensagem do evangelho provocadas pelo dedo sujo do diabo em sete concisos pontos. Todos os pontos interagem entre si e quase não diferem em número e grau, mas, por questão didática especifiquei-os da seguinte maneira:
1. Os pregadores deixaram de lado a mensagem do reino, das demandas de Cristo e do compromisso com os ideais e propósito eterno de Deus. Basta ler o que pregou João Batista e entender o cerne da mensagem de Cristo e dos apóstolos para perceber que a mensagem do reino de Deus estava em primeiro lugar. Ninguém pensava em si mesmo, nem nos ganhos pessoais, mas no reino que Deus estabelecerá na terra através de Cristo e de seu povo.
2. A mensagem que se ouve nos cultos, em sua maioria é antropocêntrica, isto é, voltada às necessidades do homem. Um resumo do que Paulo pregava está em 1 Coríntios: “…lembrem do evangelho que eu anunciei a vocês”. E no resumo de Paulo a essência era a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Implica afirmar que Paulo usava estas duas colunas da verdade para apoiar os demais ensinamentos a igreja. Todos os demais ensinamentos estão atrelados à morte e ressurreição de Cristo e seus resultados na vida do homem.
É, portanto, uma mensagem que apena ao arrependimento e à salvação do homem. Mas, hoje a mensagem é o que o homem pode fazer por si mesmo; como ser vitorioso; os alvos de Deus para você etc.
3. A mensagem que se ouve hoje faz que as pessoas olhem para suas conquistas e vitórias aqui na terra, e não para o que é celestial. Diferentemente de Paulo que pregava que devemos buscar as coisas que são do alto: “Pensem nas coisas que são do alto, e não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2). Muitos materializam o texto de 1 Coríntios 2.9: “Mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”, mas Paulo não se refere às conquistas do homem na terra, mas as conquistas que Deus preparou para seus filhos, – as bênçãos espirituais que poderão redundar em bênçãos materiais, e as bênçãos da eternidade futura.
Esquecem os novos pregadores e ‘apóstolos’ que a igreja deve se entregar a favor de Deus e de seu propósito na terra, que não é apenas o enriquecimento dos crentes, mas o conhecimento de Deus em toda a terra. O que se ouve, no entanto, é sobre nossas conquistas pessoais, nossos sonhos e o que Deus sonhou para nós! E esta é uma mensagem frustrante, porque quando nada do que é prometido acontece, o homem se frustra e passa a duvidar de Deus, quando não abandona a fé.
4. Já não se faz chamamentos ao arrependimento e confissão de pecados; mas chamamentos para que as pessoas tomem “posse” do que Deus tem para elas. E esta tem sido a tônica dos cultos: O apelo é feito para que as pessoas tomem posse do que Deus lhes prometeu; raramente se ouvem apelos ao arrependimento e confissão de pecados, que é o começo de tudo. Pecados? O que é isto? As pessoas entram e saem dos cultos com a consciência cauterizada, infidas (infiéis) e o coração é como um torrão em que a semente da palavra de Deus não encontra solo fértil.
5. Um bom número de pregadores pode ser incluído no texto de 2 Coríntios 2.17 em que Paulo os acusa de mercadejarem a palavra de Deus. Este texto é amplo e pode significar que os pregadores corrompem a palavra de Deus, mercadejando ou tirando proveito dela para si mesmos. Ou ainda, adulterando a palavra de Deus. É preciso ter cuidado para não incorrer inconscientemente neste pecado. Quando se usa a palavra de Deus para proveito próprio o pregador está diretamente adulterando a palavra de Deus.
6. A maioria dos pregadores não quer “ofender” as pessoas com a mensagem real e direta de Cristo; preferem ser “agentes da paz” e não agentes da transformação. Existe um “espírito” agindo no mundo espiritual que se impregnou também na mensagem do evangelho a partir da virada do milênio. Este espírito de “não ofensa”, está em todos os segmentos da sociedade; não se pode ofender as pessoas. Deve-se respeitar a crença delas e não se pode interferir na vida delas. Inclusão é a palavra mais usada; todos podem ser incluídos na família de Deus, para tanto, basta frequentar a igreja e participar de suas atividades. Respeito à crença das pessoas.
Em tempos idos para tocar no grupo musical e participar do coral a pessoa tinha de ser batizada – em algumas igrejas não bastava o batismo em águas, e tinha de haver provas de que era batizada no Espírito Santo. Não defendo esta última alternativa, mas a primeira, sim! Hoje basta experimentar da graça de Deus e você estará salvo. Tem gente que canta e prega sem sequer nascer de novo!
7. Falar do inferno ou mesmo do céu não traz benefícios às pessoas nem as supre com uma resposta para os problemas do seu dia-a-dia. Esta tem sido a argumentação de alguns pastores. Mensagens que falam do inferno afastam as pessoas da igreja e não trazem contribuição alguma nem ajuda as pessoas a resolverem seus problemas diários. As pessoas estão à procura de soluções para seus problemas, e este tipo de mensagem não traz contribuição alguma. Ora, Jesus não hesitou em falar do inferno quando foi necessário; e falou do céu aos discípulos quando estes se desesperaram com o anúncio de que seu Mestre iria partir. Uma boa pregação sobre o inferno se faz necessário para sacudir as pessoas de sua inércia espiritual.
Poderia neste artigo expor em detalhes muitos aspectos de como a igreja vem se desviando do foco do evangelho; acredito, no entanto, que estes sete pontos que interagem entre si ajudarão os meus leitores a refletir sobre o tipo de mensagem que ouvimos todos os domingos em nossas igrejas.
A paz, Pr.
Essa chuva é necessária, mesmo que seja no molhado, embora nossa terra evangélica esteja sequíssima.
Não tenho visto muito resultado na nossa igreja, porque enquanto falo de arrependimento e conversão, há algumas igrejas ao lado que falam de vida vitoriosa e milagres.
Resultado, muitos deixam de ir à nossa igreja para irem às igrejas vizinhas, uma vez que o discurso é mais agradável.
Não é fácil ser uma voz que clama no deserto, como o sr. tem sido, Pr.
Pastor Cleison: A voz que clama no deserto é ouvida por poucos. Estamos longe do alvoroço e das pessoas que só querem o seu bem-estar. Continuemos, portanto, a “chover no molhado”. Obrigado por sua participação.
Nos dias de hoje,assim como li,esta muito difícil ouvir uma pregação ou sermão sobre salvação,vida eterna como realmente deve ser o nosso alvo.As igrejas estão cheias de pessoas em busca de curas,milagres,prosperidades e muitos outros bens materiais,esquecendo-se do alvo que é o céu,a salvação da alma.Por isso eu entendo e creio quando vejo na bíblia que muitos são os chamados e poucos os escolhidos.Deus abençoe os que com coragem e amor pregam ainda salvação e vida eterna.Deus seja louvado.
Andando pelas igrejas ou ouvindo o que os pregadores postam na Internet a gente se arrepia todo! Como os pregadores fugiram da simplicidade da Palavra de Deus!
Muito boa a palavra me levou a refletir muito sobre o assunto. prego mensagem simples e não dou muito ibope quantos alguns por aqui na redondeza. mas sei jesus está comigo pois ainda falo de pecado arrependimento e perdão e salvação. Deus continue te usando varão. apaz. Pr oseias barros
Pastor Oseias: Continua pregando a verdadeira Palavra. Ela encontrará algum coração sedento de Deus!
Me desculpe, a voz que clama no deserto não é ouvida por poucos mas muitos, pois vinham ter com João Batista pessoas de todos os lugares em Israel. O pode estar havendo, é que igrejas deixaram de ser Israel e consequentemente depreciam a verdadeira mensagem das escrituras.
Amado Pastor, continue pregando a verdadeira Palavra de Deus, pois como já vimos hoje em dia o comum, o que a maioria gosta de ouvir é: Deus tem promessa na tua vida Deus vai cumprir a sua Palavra,porém não falam do nosso compromisso com Deus, nossos votos quando fomos batizados nas águas, nossos deveres para com Deus, só pregam vito´rias porém não falam das lutas é como se tudo fosse uma mágica.Oremos por esses pregadores para que Deus possa ter misericórdia deles.
Aleluia! Cumpre-nos fazer nossa parte como bons mordomos de Cristo Jesus.
Lucas 17:37 E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as águias.
As águias de Deus só se ajuntam onde estiver o corpo, ou seja a palavra de Deus. Cristãos hoje, são a minoria, mas em Lucas 12:32 Jesus disse: Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. Vamos ficar com a Palavra,Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar. Lucas 21:33. Deus abençoe meus irmãos
Sandro: E poucos são águias! A maioria rasteja como galinhas ou lagartos.
O Problema, meu amado Pr. é que vivemos numa verdadeira vitrine, onde as pessoas vivem em busca de sua própria imagem, porém tateando na escuridão das trevas, como diz o Senhor Jesus em Lc6.39. Procurando serem sábios no afã de suas próprias vaidades, sem querer se submeter ao querer de DEUS, fazendo com isso,dscípulos para o inferno.O presente século tornou-se totalmente denominacional e rico em detalhes, moldados ao ego de cada um,que nunca se submetem ao que diz o Espírito Santo nesses dias:”Arrependei-vos e convertei-vos do seu mau caminho”!
Jurandyr, obrigado por me compreender e entender claramente o que dizem as Escrituras.
Pastor João