“Pela fé, peregrinou (Abraão) habitando em tendas…” (Hb 11.9).
Quando Abraão habitava em tendas ele carregava apenas o necessário para a sobrevivência. Os tempos modernos, no entanto, nos permitem viver em tendas e ainda carregar coisas além do necessário. Carrega-se, por exemplo, os livros. Acho que era isto o que Paulo fazia: Levava consigo somente o necessário, e entre as necessidades, seus poucos livros. Um dia, quem sabe, fugindo de alguma perseguição os esqueceu! A capa e os livros ficaram na casa de Carpo, em Trôade.
Pois ao longo desses 44 anos de ministério já fixei residência nos Estados Unidos – e deixei os livros lá mesmo. Residi no Rio de Janeiro e os livros ficaram pra trás. Meus primeiros livros que ganhei do Orlando Boyer quando residia em Pindamonhangaba mudaram de mãos. Residi no Paraná e os livros foram ficando porque não cabiam nas tendas. Quando não havia lugar para todos aqueles livros na casa, olhei aquelas prateleiras repletas de livros – tão necessários – e doei metade deles para meus amigos. Ao longo desses anos acumulei tantos livros – e tantos bens – quantos deles me despojei. Mas foi em Porto Alegre que as raízes se fincaram com mais profundidade.
E agora novamente. É preciso levantar acampamento, afrouxar as estacas, dobrar as lonas e seguir adiante. Com alguns livros na bagagem. E todos aqueles sermões, e pastas, cartas de amigos, recortes disso ou daquilo foram dados a amigos ou foram para o arquivo geral: o lixo! Sim, lixo é o arquivo geral! Quem vive em tendas não pode se dar ao luxo de ser colecionador disto ou daquilo. Assim, ao longo dos anos minhas “velharias”, isto é, as antiguidades foram doadas aos amigos. Estão em suas chácaras e casas de campo, mas não mais comigo. A coleção de selos foi vendida. Numismático, ainda conservo notas de dinheiro e moedas antigas, até que algum neto se interesse por elas.
O peregrino não pode se dar ao luxo de levar muita coisa, a não ser o bordão, a capa e alguns livros. Por isso, a biblioteca de milhares de livros, de repente, diminuiu. Agora decidi ficar apenas com os clássicos, com alguns livros importantes, especialmente os de pesquisa. Abraão era peregrino numa terra que era sua pela fé; eu sou peregrino numa terra que não é minha, pois avisto outra terra, mais além, também pela fé.
Como peregrino e profeta até mesmo nossa história – aquilo que documenta nosso trajeto e o que fizemos – é deixada em segundo lugar. Não há espaço na tenda para cartas antigas, recortes de fotos e artigos de jornais, fotografias, fitas de vídeo, fitas cassete, LP’s antigos. Nada. Na mochila só vai o indispensável para a sobrevivência do caminho. Nas mãos, o cajado.
Existe uma coisa que deixa saudades no peregrino. Os familiares. Mas, depois que mamãe se foi para o lar eterno, apeguei-me aos netos. Ah! Os netos! A modernidade, no entanto, permite que a gente os veja todos os dias pela Webcam. Eles também seguem sua própria jornada nesta vida.
Rebeca deixou a casa dos pais, para sempre. Pra lá nunca mais voltou. Os apóstolos de Jesus não foram sepultados nos sepulcros de seus pais. A bela e romântica Galiléia ficou para trás. Os apóstolos morreram longe de seus parentes e de sua terra. Seus corpos foram queimados, jogado às feras. Nenhuma lápide de elogio sobre o sepulcro. Partiram para o lar celestial. Ficaram suas epístolas.
O importante, meus amigos, não é o que se leva daqui; mas o legado que deixamos. Deixo no Rio Grande do Sul um legado de história e de retidão. E agora, Vanda e eu fixamos residência por tempo indeterminado na simpática e progressiva Santa Bárbara do Oeste, ao lado de Americana, São Paulo. É de lá que sairemos por terra e ar para continuar a missão que Deus nos deu por este Brasil a fora!
Mais próximo de alguns de vocês, que verei seguidamente!