Reflexões de um Pentecostal

Estou com 65 anos de idade. Meu primeiro contato com o movimento pentecostal aconteceu quando eu tinha oito anos de idade. Aos treze anos fui batizado no Espírito Santo sem que ninguém me impusesse as mãos ou soprasse uma língua qualquer em meus ouvidos. Um ano depois desci às águas do batismo.

Pelo fato de começar no ministério aos dezessete anos de idade convivi com alguns dos mais antigos pastores pentecostais do Brasil e com eles muito aprendi. Notoriamente Alcebíades Vasconcelos e Paulo Leivas Macalão, com os quais tive grande amizade, para citar apenas esses dois, e meus dois mentores, João Kolenda Lemos e João de Oliveira, fundador e professor do Instituto Bíblico de Pinda, respectivamente.

Hoje quando olho para o movimento pentecostal cuja maior manifestação aconteceu no seio das Assembléias de Deus fico me perguntando se essa denominação ainda representa o verdadeiro pentecostalismo brasileiro. Os mais esclarecidos sabem que as Assembléias de Deus começaram bem depois do derramamento do Espírito Santo no mundo. A falsa dos historiadores assembleianos é que sempre conectam o movimento pentecostal com os acontecimentos da rua Azuza, e, costumo dizer que o avivamento da rua Azuza foi apenas um dos ápices da manifestação do Espírito Santo. Seis anos antes, no início do século XX houve o derramar do Espírito Santo em Topeka, Kansas, mas, bem antes disso, ainda em 1890 A.B. Simpson, o fundador da missão Aliança Cristã e Missionária já pregava os quatro temas importantes do pentecostalismo: Jesus Cristo salva, cura, batiza no Espírito Santo e voltará outra vez.

Aqui mesmo no Rio Grande do Sul existem dados que indicam a presença do movimento pentecostal no interior do Estado antes de 1911, pelas pregações de um pastor da Igreja Batista a quem Deus usava poderosamente operando milagres, curas e batizando no Espírito Santo.

Antes das Assembléias de Deus existir como fenômeno pentecostal, já existia na América do Norte a Igreja de Deus, bem pentecostal. As Assembléias de Deus surgiram com este nome ao redor de 1914 nos Estados Unidos como resultado da perseguição que as denominações históricas faziam aos pentecostais. Pequenas igrejas de toda a América decidiram se reunir e criar seu próprio Concílio que existe até hoje.

Mas, como surgiu o movimento pentecostal? Ainda no distante tempo de A.B. Simpson o pentecostalismo surgiu como resultado do movimento holiness, ou movimento de santidade. Então, veja: Pentecostes é fruto de santidade, no entanto, parece que ficamos apenas com o movimento, porque faz tempo que a santidade não ocupa mais o púlpito das igrejas como tema central.

Hoje sinto vergonha de dizer que sou pentecostal, porque não apenas os carismáticos, mas também as igrejas pentecostais históricas – e não quero generalizar – abandonaram a pregação da cruz (ah! Sim, durante a páscoa se fala da cruz), deixaram de pregar sobre santidade e separação do mundo. Muitas igrejas pentecostais abandonaram o Cristo da Bíblia e adotaram um novo “Cristo”, que os deixa mais fofos e confortáveis. Um Cristo que não precisa de cruz, apenas de amor. Um Cristo que não exige santidade, mas apenas graça. Um Cristo que não exerce justiça, e apenas abençoa. Na realidade, o movimento pentecostal dos dias de hoje adotou um Cristo que se parece mais com um papai-noel do que o verdadeiro Jesus de Nazaré.

Quisera que os atuais pastores pentecostais, especialmente das Assembléias de Deus imitassem a fé da primeira geração de pastores que não se intimidaram diante das ameaças religiosas e políticas da época. Sim, porque a liderança pentecostal de hoje está mais afinada com os políticos e com Brasília do que com o Espírito Santo e os princípios da Palavra de Deus.

Hoje se celebra um movimento que existiu no passado; sim, porque a atual estrutura denominacional sufoca cada vez o mover do Espírito, e os pregadores que se dizem avivados estão mais interessados em enriquecer do que em cumprir com o propósito de Deus para a humanidade. Dá pena ouvir alguns desses pregadores pentecostais famosos, porque suas pregações se parecem ao som de uma lata velha que soa, soa, e só incomoda. E a igreja está cheia deles.

Celebramos uma data; inserimo-nos na história da igreja, mas perdemos a santidade que era o atrativo principal do mover do Espírito Santo. Imagino como Deus olha com tristeza para essa igreja! No passado o movimento pentecostal era tão santo que a santidade do povo de Deus atraía a Presença ou a glória de Deus.

Hoje, pentecostalismo se tornou apenas uma cultura; uma identidade cultural de um povo, quando deveria ser a marca da presença de Deus na igreja. Restou a cultura; perdeu-se faz tempos, o Espírito do Pentecostes!

Ainda é tempo de arrependimento! É tempo de santidade!

13 thoughts on “Reflexões de um Pentecostal

  1. Obrigada por ser o porta voz de uma pequena parte do povo que não concorda com o modelo de igreja fast food que trocou os valores eternos por praticidade.
    Acredito que um novo Lutero tenha que levantar para trazer a reforma da reforma, pois, aos poucos estamos imitando o Catolicismo Romano: Na política, nas indulgências,na idolatria(a cantores, pastores e curandeiros)e até nas liturgias. Narinha-Cachoeirinha

    1. O movimento pentecostal precisa voltar às suas origens, a santidade do povo. Hoje esse movimento é apenas cultural e comercial. A propósito as Assembléias de Deus sequer convidaram os outros “irmãos” das AD ligadas ao ministério de Madureira a fazer parte dos festejos.

  2. Pastor João, fico feliz pelo esforço que tens feito para comunicar a esta geração o poder de Deus e tentar resgatar o genuíno mover de Deus em nossos dias. É tão raro participarmos de cultos verdadeiramente pentecostais, onde as coisas acontecem na direção de Deus! Que saudade daquele genuíno mover de Deus! Concordo com o senhor quando diz que hoje, pentecostalismo se tornou apenas uma cultura. Realmente o movimento pentecostal sem a ação continua do Espírito não passa de um mero movimento. Não sou tão veterano na fé como o senhor o é…(risos) mas assim como o senhor, tenho vergonha do que chamam hoje de “mover de Deus’. Ótimo artigo!

  3. Pr. não conhecia o seu site, mas agora que o descobri estou maravilhado e dou glória a Deus pela sua vida e ministério. Seus artigos são muito esclarecedores e dosados de muita experiência. Esse acima por exemplo eu concordo com tudo o que o senhor escreveu, realmente se perdeu a noção do que é ser um pentencostal.
    Mas mudando de assunto, gostaria de saber se o senhor conhece um movimento chamado “Os dicipulos”, pessoas que dizem pregar o “Evangelho do Reino” e não adotam o sistema dos templos, mas fazem os seus cultos cada dia na casa de um irmão. Aqui na minha cidade tem esse grupo e grande parte deles saiu das igrejas evangelicas, não concordam com as denominações em muita coisa e por aí vai…
    Aguardo sua resposta.
    A Paz do Senhor!

    1. Luiz. Obrigado por acessar o site. Você me pergunta se eu conheço esse grupo chamados “discípulos” apenas. Claro que sim. Sei a origem deles, como começaram e conheço a liderança. Eles são biblicamente corretos no que fazem, mas ultimamente têm se mostrado radicais condenando as demais igrejas por terem templos e cultos. As pessoas começam bem e depois se perdem no trajeto. Gostaria que fossem como eu que ministra e prega em todas as denominações, menos entre os chamados “discípulos” porque estes não concordam com este discípulo de Jesus de que a Igreja é maior que nosso grupo.

  4. oh pastor como é bom ouvir coisas que penso….tenha tanta saudade do evangelho que se prega a 30 anos atraz …. onde a cruz era o principal tema da pregação…. que saudad

  5. Olá hoje mantive o primeiro contato com seu site, li a profecia da senhora da Noroega e também outros textos. Realmente me agradaram muito, por que penso como o Senhor. Sou pastor de uma pequena Igreja em Curitiba, sou voluntário e não tenhos ganhos no ministpério por que continuo a trabalhar segularmente. Gostaria muito de manter contatos com o Senhor que sabe o Senhor não poderia vir a Curitiba e pregar e nossa igreja.
    Abraços Fraternais em Crsito jesus.
    Antonio Hanauer fones (041) 3252.6235 res.; 3019.4787 escritório 9107-2936 celular

  6. Quero agradecer a Deus, por ainda conservar alguns remanescentes, que nós leva a crer e a buscar o verdadeiro pentecostalismo. Que o Espirito Santo nos ajude a propagar e levar os nossos irmãos em Cristo, a esta verdadeira e genuína verdade.

    Muito obrigado pelas suas considerações;

    Abraço! Fique na Paz do Senhor Jesus.

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