Espíritos enganadores

Venho insistindo em vários artigos e livros sobre os perigos do engano ou da atuação de espíritos enganadores no seio da igreja evangélica, especialmente entre carismáticos e pentecostais. Um dos meus livros a ser editado (ando à procura de uma Editora) trato da atuação desses espíritos enganadores na área da música, especialmente os mantras, tão comuns hoje em dia nos cultos.
O engano é sutil. Os apóstolos deixaram advertências nas epístolas sobre a sutileza do diabo e sua atuação no meio da igreja. É possível perceber que alguns ministros de igrejas pentecostais clássicas, sem que o percebam sejam influenciados por espíritos enganadores.

Entre o falso e o verdadeiro

É Jesus quem dá a primeira dica em Mateus 7.22-23. Ele fala sobre os que se apresentarão diante dele com afirmativas como: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.

Don Bashan, escritor e pastor já falecido afirma: “Não é coincidência que o alerta de Jesus sobre os falsos profetas venha precedido do alerta sobre o caminho largo e o estreito. Obviamente, porque muitos que pensam que o caminho em que estão seja o caminho da vida, mas estão sendo enganados pelos falsos profetas ou porque que estão sob o ministério dos falsos profetas!”.1 Este autor, juntamente com Derek Prince trabalharam juntos durante muitos anos e conheceram intimamente alguns dos famosos pregadores, e contam como os espíritos enganadores entraram no ministério de alguns deles. Recomendo a leitura do livro de Derek Prince, Proteção Contra o Engano. 2

O que Jesus queria dizer no texto que acabamos de ler, e que deve nos deixar preocupados?

Primeiro, que os falsos profetas eram bem pentecostais. Nada contra os pentecostais, pois também sou pentecostal, ou contra os carismáticos, porque também sou carismático, ou contra os renovados, porque também sou renovado. O que não devemos esquecer é que esses profetizavam em nome de Jesus! E pergunto: quem de nós quando profetiza, ou proclama uma verdade não o faz em nome de Jesus? O que nos coloca todos sob suspeita.

Segundo, porque eles expulsavam os demônios em nome de Jesus. Você já expulsou demônios? Eu já perdi a conta! Sua igreja tem reuniões de libertação? Parece-nos que esses irmãos mencionados por Jesus tinham cultos de libertação em suas igrejas, mas não é isso que Jesus está condenando. O que deve nos trazer temor é que esses irmãos tinham autoridade sobre os demônios, e no entanto, foram desqualificados para o Reino.

Terceiro, eram pregadores que realizavam milagres. Não apenas milagres de cura, mas milagres no sentido amplo do dom, isto é, que podem curar, mexer com o tempo, com a natureza, fazer crescer órgãos no corpo – entenda, milagre no sentido amplo do dom como Paulo fala em 1 Coríntios 12.  Não apenas pregadores, mas produtores de milagres. Paulo afirma que existe o dom de “operações de milagres”, isto é, operações de poder, porque a palavra é dunamus – a mesma palavra que aparece em Atos 1.8. E se profetizamos, expulsamos demônios e realizamos milagres, é bom avaliar por que Jesus afirma que aqueles eram falsos.

A resposta é tão simples que passa despercebida da maioria dos leitores: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”, ou como diz a NVI “… vocês que praticam o mal”. Então o falso – neste caso o falso pregador – não deve ser julgado pelo ministério que têm, se os milagres são divinos ou não, mas pela vida que tem. O que qualifica um ministério não são os dons de Deus, mas a vida de integridade do pregador. Assim, o que faz que um pregador sincero se torne falso, não é a mensagem, mas seu estilo de vida. Julgue o leitor à luz da Bíblia. Uma pessoa que vive um estilo de vida diferente do que Jesus ensinou entrou para a lista dos falsos.

Aprofundemo-nos um pouco mais, parafraseando o que Jesus quer dizer: “Nunca reconheci a validade de seu ministério. Você foi um canal para meus milagres, mas você se tornou rebelde, sem o fruto do Espírito que identifica o meu servo verdadeiro.” Prática da iniqüidade na aparência do ministério? Não. Jesus está falando de atitude interior e caráter! É no seu interior que aparece a rebelião que tirará a máscara do falso profeta.
A vida cristã é mística e racional. Em espírito e em verdade. Disto não se pode fugir. Os que acreditam que a vida cristã é apenas racional, não conseguem usufruir das bênçãos espirituais – até porque elas estão num nível mais alto que é o espiritual, e se tornam agnósticos, ou descrentes. As grandes conquistas de nossa fé estão nas regiões celestiais em Cristo Jesus. Ele e os apóstolos apontaram para uma vida cristã que se firma nesses dois pontos: espírito e verdade. Tudo que faz parte da fé reside no campo da mística – falar com Deus, orar, crer em Deus, etc. não podem ser entendidos pela razão, portanto, fazem parte da fé. A razão não admite a fé; e este é um legado da árvore do conhecimento do bem e do mal cujo fruto nossos pais comeram no Éden. É o humanismo e o positivismo que levam a pessoa a jamais depender de Deus para qualquer coisa. O humanismo – fruto da razão sem fé – não admite o transcendental, o espiritual, místico, a fé, etc.

Assim, alguns com medo de incorrer na condenação de Jesus não querem nada com milagres e manifestações espirituais, mas podem incorrer noutro tipo de condenação que é a mornidão espiritual.

Além dos espíritos enganadores que operam em muitos ministérios dos quais não vou escrever agora, ultimamente apareceram enganadores sem espíritos, mágicos, enganadores da carne, ilusionistas espirituais que levam o povo a acreditar que um milagre está se realizando diante dos seus olhos. E eles até pedem que você fique de olho aberto para ver! São os mágicos da fé!

Manifestações falsas

E quero fazer aqui uma distinção entre a ação de espíritos enganadores que fazem parte de alguns ministérios – e me refiro a operação de demônios por trás de alguns ministérios – e os mágicos da fé ou ilusionistas que, usando de truques enganam os fieis. Quero citar dois casos, mas declino-lhes o nome. O leitor contemporâneo saberá identificá-los.

Durante vários anos a ADONEP apoiou e convidou um pregador brasileiro que realizava milagres e fascinava o povo retirando o câncer das pessoas. Para surpresa de todos, ele orava e se empolgava levando todos ao êxtase, até que o tumor aparecia em suas mãos. O pregador atraía multidões para os encontros da organização. Além de mostrar o câncer que lhe aparecia na palma das mãos, ele profetizava e tinha revelações sobre as pessoas, chegando a dizer-lhes publicamente o nome, o telefone e a placa do carro para convencer o auditório de que era Deus revelando tudo. Ledo engano. Ele mantinha escondida na manga da camisa fígados de frango. A mágica era fabulosa, e tão perfeita que meus queridos irmãos da ADONEP levaram esse pregador a percorrer o Brasil de Norte a Sul lotando auditórios. As pessoas ficavam atentas, e o telão mostrava o câncer saindo do corpo da pessoa, na sua mão. Sei de um médico cristão que mandou fazer exame do material. Fígado de frango. E quanto às revelações? Ele costumava visitar quadros de aviso da igreja, listagem de pessoas, telefones e observava os carros… Depois era só profetizar! Ganhou fama e muito dinheiro. Fazia sucesso.

Meu sobrinho o convidou pra pregar numa conferência e descobriu a tramóia toda. O então famosos mágico pregador pentecostal tirou do quadro de avisos os nomes dos membros dizimistas com seus endereços e números de telefone e usou para fazer suas predições.

Um segundo caso é o da pregadora brasileira que se tornou famosa nos Estados Unidos, Canadá e Europa, além do Brasil, pois em suas reuniões caía ouro do céu. Muito ouro. Ganhou rios de dinheiro nos Estados Unidos. Amigos meus aqui da cidade tomaram do ouro e fizeram um quadro pequeno e mo deram. Solicitei a um ourives que o examinasse. Era purpurina das mais baratas. Por ser um material extremamente leve, ela iludia as pessoas nas reuniões de “poder” com ouro que vinha do céu. Esta mesma mulher de meia idade seduziu o jovem que lhe servia de intérprete nos Estados Unidos. Moço fiel, comprometido, casado e com dois filhos o jovem intérprete foi por ela seduzido e mantinha relações sexuais com a pregadora. Deixou uma adorável esposa e seus dois filhos pela sedução de dinheiro e poder. Felizmente a falcatrua espiritual foi descoberta e ela foi proibida de pregar em igrejas canadenses, quando os irmãos de lá descobriram que se tratava de purpurina.

Até hoje não entendo porque Deus pediu ao povo de Israel que fizesse doação em ouro para a construção do tabernáculo se ele podia fazer o ouro cair do céu!

Esses dois casos, apenas ilustram o ilusionismo mágico desses manifestantes do poder de Deus. E veja bem. Aqui é safadeza mesmo, e não atuação de espíritos enganadores.

Lamentavelmente o movimento profético dos Estados Unidos e do Brasil se embrenhou à busca de manifestações espirituais e as reuniões passaram a ser preenchidas com profecias horoscopianas, aparecimento de plumagem de anjos, ouro em pó e palavras que só dão coceira aos ouvidos. Aparição de anjos-guias que levam as pessoas aos portais eternos, e muito, muito dinheiro!

E pior ainda é o culto aos anjos!

Dinheiro e riqueza: a sutileza do diabo

Aliado a falsas manifestações – e não apresentei ainda as falsificações espirituais, mas a magia do engano – a maioria dos grandes pregadores pentecostais e carismáticos anda bem de vida. Se não enriqueceu, pelo menos possui todo conforto do mundo e não falta dinheiro a estas pessoas. É que aprenderam a extorquir o povo, a lhes arrancar os bens. É fácil identificá-los. A questão é que os pastores não querem denunciá-los por medo da reação do povo ou porque lucram também financeiramente com a presença desses fanáticos pregadores. Esta última hipótese é a mais correta.

E que mensagem pregam? Vitória. Sucesso. Prosperidade. Ou desandam a falar das experiências celestiais, das visitações ao céu, da glória que imaginaram ter. E o povo adora estas coisas. Eles nunca falam da cruz, nem do quebrantamento, do arrependimento e da necessidade de uma nova vida. Pregam sucesso e prosperidade material.

Pudera! Não vão querer secar a fonte de seu lucro. Assisti a reuniões de alguns que se dizem apóstolos – e não são – solicitando ofertas para o seu ministério, na realidade pra eles mesmos. E vivem no luxo. Parece que o povo gosta de ver esses pregadores contarem suas façanhas financeiras, porque o povo vê nesses pregadores o que ele também gostaria de ser.

Você quer saber se um pregador é verdadeiro ou falso? Olhe seu estilo de vida. O luxo em que vivem! Não estou aqui julgando os ministérios que menciono a seguir, mas eles terão que responder na justiça da terra, antes de responder na justiça do céu onde estão gastando o dinheiro que o povo lhes dá. Refiro-me aos Estados Unidos onde um senador abriu inquérito para investigar a riqueza de seis tele-evangelistas: Benny Hinn, Kenneth e Glória Copeland, David e Joyce Meyer, Randy e Paula White, Creflo e Taffi Dollar e Eddie Long. Essa gente esnoba dinheiro. Tenho um artigo traduzido no meu site sobre o tema. E depois ficam dizendo que é perseguição ao evangelho. Nada disso. O povo quer saber para onde está indo o dinheiro que doa para suas instituições.

Cada pregador recebeu uma carta exigindo comprovantes de despesas e de práticas questionáveis. Entre as exigências o senador Grassley requereu:

1. Recibo de compra do carro conversível Bentley que Randy e Paula White, pregadores televisivo dizem ter dado de presente ao pastor texano T.D. Jakes.

2. Informações da pregadora Joyce Meyer sobre os gastos com a mobília de sua mansão no Missouri que incluem uma caríssima mesa de malaqueta no valor de 30 mil dólares, uma cômoda com tampa de mármore que custou 23 mil dólares, e dois vasos Dresden que custaram 19 mil dólares.

3. Que Benny Hinn lhe envie os documentos e a prova de onde veio o dinheiro para a compra de uma casa no valor de três milhões de dólares em Dana Point, na Califórnia.

4. Recibos e registros que expliquem como Eddie Long conseguiu pagar 1.4 milhões de dólares na compra de 20 hectares na área rural de Atlanta.

5. Registros e notas de viagens ao Havaí e Ilhas Fiji que Kenneth e Glória Copeland fizeram utilizando o avião ministerial.

6. Que o pregador de fé Creflo Dollar explique sua participação no levantamento de 2 milhões de dólares doados a Kenneth Copeland.
Então, onde vamos parar com tudo isto? Eu sei onde eles irão comparecer e onde terão que prestar contas! Não é ao senador americano. É lá no tribunal superior.

Sem falar dos brasileiros. Você sabia que os grandes líderes evangélicos brasileiros vivem na abastança e no luxo e que alguns são os maiores colecionadores de carros antigos – vivendo em mansões holiwodianas?

1 BASHAN, Don, True  & False Prophets, Manna Books, p. 21

2 Publicado pela Worship Produções, Americana, S.P.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*