O que dizem os poetas?

Estou fazendo a revisão de minha nova obra literária, já concluída. Trata-se de uma pequena enciclopédia de poemas e cânticos da Bíblia, e me deparei com este texto do Antigo Testamento:

“É por isso que os poetas dizem assim: Venham a Hesbom, a cidade do rei Seom!” (Nm 21.27 – NTLH).

Os poetas da antiguidade escreviam sobre as guerras como se escreve sobre uma flor. Os textos hebraicos eram cheios de símiles e de rimas. Observe que neste texto claramente existe a pena e a verve do poeta. Assim como nos registros da guerra do Senhor. Um texto totalmente poético: “Pelo que se diz no Livro das Guerras do SENHOR: Vaebe em Sufa, e os vales do Arnom, e o declive dos vales que se inclina para a sede de Ar e se encosta aos limites de Moabe” (Nm 21.14-15). As Escrituras contêm poesia em abundância, às vezes nas mais simples declarações. É possível deixar um cântico com sentido poético, os hinários tradicionais são exemplos disso.

Nas Escrituras existem cinco livros considerados poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Alguns ainda incluem Lamentações de Jeremias.

Os autores de hoje dispensaram seus passeios por entre os sons do universo e foram terrivelmente afetados pelos sons da indústria, da tecnologia e dos ruídos das cidades. Poucos são os autores modernos que saem a campo e entram nas florestas para ouvir os sons da natureza, dos animais, pássaros, bichos, insetos; poucos são os que descobrem os sons do vento e a melodia das rajadas invernais ou primaveris, o sonido do gelo se quebrando e da neve caindo.

O Salomão da Bíblia era poeta porque investigava o universo e a natureza ao seu redor (Veja Eclesiastes 1). “Ele escreveu três mil provérbios e compôs mais de mil canções. Falou de árvores e plantas, desde os cedros do Líbano até o hissopo, que cresce nos muros; ele falou também dos animais, dos pássaros, dos animais que se arrastam pelo chão e dos peixes” (1 Rs 4.32-33).

O que dizem os poetas? Estes têm mais facilidade para escrever, falar de enigmas, compor versos e cânticos, porque conseguem declarar de maneira simples e sintética, fazendo uso de poucas palavras, o que muitos de nós descreveríamos em textos longos e prolixos. Por exemplo: Jesus e Moisés eram poetas. Os dois escreveram o cântico dos remidos em Apocalipse 15.2-4.

Alegorias, símiles e parábolas fazem parte do conteúdo poético em que o autor encobre o sentido real de uma coisa e deixa a mente do leitor vagar e se deleitar. Por exemplo, na alegoria de Jotão – que os tradutores intitularam de “apólogo” – o autor faz que as árvores falem entre si. E quem ganha o diálogo é o espinheiro (Jz 9.7-15).

O poeta brasileiro Vicente de Carvalho (1866-1924) deu vida a água e a uma folha no poema, A Flor e a Fonte:

“Deixa-me, fonte!” Dizia

A flor, tonta de terror.

E a fonte, sonora e fria,

Cantava, levando a flor.

“Deixa-me, deixa-me, fonte!

“Dizia a flor a chorar:

“Eu fui nascida no monte…

“Não me leves para o mar”.

E a fonte, rápida e fria,

Com um sussurro zombador,

Por sobre a areia corria,

Corria levando a flor.

Pergunto: Que dizem os poetas nos dias de hoje? Pode-se responder: Os poetas desapareceram da igreja. Não se dá valor a poesia; livros de poesias não são vendidos no meio evangélico. Aqui e ali alguém faz uma edição pessoal para presentear seus amigos. Gióia Junior parece ter sido um dos poucos poetas que conseguiu publicar poesias e discos com sua voz grave e retumbante, mas faleceu em 1996. Num de seus poemas, enquanto esperava o filho chegar em casa, ele faz a maçaneta da porta cantar e soar em seus ouvidos como canção de ninar.

Não há mais bela música

que o ruído da maçaneta da porta

quando meu filho volta para casa (…)

Que ele retorne sempre são e salvo,

marinheiro depois da tempestade a sorrir e a cantar.

E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno

que soa para mim como suave cantiga de ninar.

Só assim, só assim meu coração se aquieta,

posso afinal dormir e descansar.

Falta poesia nos cânticos dos novos compositores brasileiros. Estes, parecem seguir o som da tecnologia e não o som da natureza.

Que dizem os poetas sobre a igreja de hoje? Que dizem os poetas sobre a política? Que dizem os poetas nas novas músicas evangélicas? É a pergunta que todos devem responder e pesquisar.

6 thoughts on “O que dizem os poetas?

  1. Pastor João, Jesus Cristo é o senhor.
    Não é só as poesias evangélicas que não são vendidas no meio evangélico, mas estão totalmente fora dos planos das igrejas.
    O cantor cristão e a harpa cristã também são totamente recusados abolidos das igrejas!
    Uma vez estava em um culto, em uma igreja famosa, Batista, e um “pastor disse assim no púlpito: Aqui não cantamos mais as músicas do cantor cristão, porque estas músicas estão ultrapassadas antiquadras, o negôcio é alegria e modernidade.
    As mulecadas da igreja não aceitam este tipo de música.
    O que mais dizer! Sem Comentários!
    É este é o evangelho falido, morto, que vemos hoje nas chamadas igrejas físicas.
    O negôcio das igrejas atuais é puramente dindim, dinheiro e mordomias para seus líderes e família.
    Jesus Cristo está do lado de fora, esperando alguém abrir a porta para ele entrar, mas o homem pastores, líderes evangélicos, não deixa-o entrar, para não atrapalhar seus negôcios lucrativos dentro da igreja.
    Sem mais comentários que está me dando nojo de comentar desses lobos vestidos de ovelhas os chamados joio pastores.

  2. Querido João, como foi bom ler o seu texto sobre poesia, hoje tão distante, principalmente da igreja e dos seus pregadores. Casualmente ontem à noite ouvi uma mensagem do Maestro João Wilson Faustini (hoje com 80 anos, minha geração…)falando sobre música, e música na igreja, incluindo a métrica e a rima, tão necessárias para uma peça bem harmoniosa. Dizia ele, em certa parte do sermão, que na evangelização a música e a poesia falam tão alto quanto a oratória do pregador. Mas me lembrei também de um livrinho precioso, que tive, perdi nas muitas mudanças, mas consegui recuperar num sebo: TRENOS, de autoria de um velho pastor metodista – Rev. José de Azevedo Guerra. Neste livrinho, o Rev.Guerra colocou em português lindo, todo o poema LAMENTAÇÕES de Jeremias, em versos decassílabos. É uma obra de folego, e linda! Se vc conseguir num sebo, vai gostar. Se não, posso xerocar o meu exemplar e lhe mandar. Fique à vontade.
    Continue semeando a Palavra como vc faz, preservando a nossa querida ´língua portuguesa.
    Um abraço, Deus abençoe. Minhas lembranças à Wanda.
    Ourives

    1. Você, meu irmão, com os anos de experiência cristã e grande conhecedor dos cânticos, entendeu bem o que quis dizer com a falta de poesia nos cânticos. Vou tentar conseguir o livreto que você me recomenda.
      Abraços,
      Pastor João

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