Precisamos segurar firme o timão. Se não o fizermos o barco irá à deriva, perderemos o rumo e poderemos naufragar em algum lugar remoto. Não me refiro ao Corintians cujo logotipo é um timão, mas ao leme que o timoneiro segura para controlar o rumo do barco. Pois o Brasil parece hoje um grande barco sem rumo, desgovernado, porque o leme – o sistema constitucional da nação, está sem controle, permitindo que o barco dê voltas e siga a lugar algum. Onde reside o problema deste país? Não sou comentarista político, apenas um pastorzinho que vive e trabalha entre o povo, e posso detectar algumas coisas.
1. Riquezas. O Brasil é um país rico. Muito rico, mas as riquezas desta nação não são distribuídas para todos de maneira igualitária. As riquezas são exploradas para fins pessoais desde que o país foi colonizado e ocupado pelos portugueses.
2. Os políticos eleitos pelo povo – pobre povo explorado em currais eleitorais com um quilo de farinha e um chinelo de dedos – vêm sendo denunciados como corruptos. E tudo continua como está. São denúncias e mais denúncias, mas eles são protegidos pelas leis que eles mesmos criaram. São intocáveis. Se houvesse uma campanha para o fechamento do congresso nacional a população votaria maciçamente a favor. Mas, como qualquer campanha deste tipo tem de ser aprovada pelo congresso, nunca poderemos fechar o congresso e fazer uma nova constituinte. O dinheiro gasto mensalmente para manter os políticos poderia ser gasto de maneira mais eficaz em outras áreas.
3. Previdência social. Um país é medido pelo seu grau de justiça. No caso do Brasil, os trabalhadores em empresas privadas se aposentam pela Previdência Social, mas esta criou regras para calcular os reajustes que ninguém entende. Enquanto os que trabalham na ativa ganharam 8% de reajuste, os aposentados receberam 3,5%. Mas, a injustiça social é que os funcionários do governo federal e de suas autarquias se aposentam com salário integral e sempre que o salário de alguém que estiver na ativa for aumentado, o seu também é. Por isso, um funcionário público aposentado graduado chega a ganhar milhares de reais por mês. E mais injusto ainda é que os políticos fizeram leis para si mesmos. Um governador depois que deixa o cargo fica ganhando pelo resto da vida, bem como ministros de Estado. Por que tanta gente quer ser Ministro do governo? Porque continuará recebendo proventos mesmo que deixe aquela pasta. Este é um país injusto!
É o caso dos presidentes, como será o caso de Lula. Ele deixou de ser pobre e foi guinado à elite brasileira que tanto criticava, porque, mesmo deixando a presidência da República terá regalias de ex-presidente enquanto viver. O povo que o elegeu que se rale! Que seja inteligente como ele! Este é o país em que todos querem levar vantagem em tudo! Pobre Gerson que deixou sua lei marcada em nós para sempre!
Mas nem o presidente acredita no Brasil! Dona Marisa, sua esposa, tratou logo de adquirir cidadania italiana. Ora, para quê? Pra poder morar na Europa e viver lá feliz para sempre. Longe da violência, dos pedintes, dos abandonados..
4. Saúde. A perversidade de um país e o seu grau de injustiça podem ser medidos pela assistência à saúde. Um ideólogo, o Dr. Abib Jatene fez lobby no congresso para que se criasse o imposto sobre movimentação bancária cuja finalidade era a saúde do povo. O dinheiro é desviado pelo governo para outras áreas. Um inglês de quem fui intérprete dias atrás me disse que na Inglaterra ricos e pobres têm o mesmo direito na saúde e que as pessoas grávidas de outros países da Europa vão para a Inglaterra porque lá existe um sistema de saúde que atende a todos, inclusive estrangeiros. Qualquer turista que adoeça enquanto estiver naquele país tem atendimento de primeiro mundo. Aqui no Brasil, pessoas como você e eu temos que madrugar e esperar pela boa vontade dos funcionários e médicos para uma consulta de um minuto em que o médico nem levanta a cabeça para olhar na cara do paciente! Aguarda-se na fila de cirurgia até dois anos! Se o dinheiro do CPMF fosse integralmente para a saúde os médicos receberiam um bom salário no sistema público e poderíamos construir vários hospitais por mês. Em pouco tempo teríamos o melhor sistema de saúde rivalizando com o de países como Inglaterra e Suécia.
5. Sistema jurídico falido. Nossos políticos criaram brechas nas leis que possibilitam a um criminoso, comprovadamente criminoso, aguardar em liberdade até que seja julgado, e, mesmo depois de julgado seus advogados entram com um pedido de relaxamento de prisão. Você conhece alguém que seja ladrão da elite brasileira que esteja ainda pagando pena numa cadeia do país? Conhece alguém, que foi pego dirigindo embriagado e foi direto para a cadeia? Por isso as pessoas deste país entendem que não podem esperar que a justiça faça justiça, porque ela mesma, a Justiça brasileira está presa às leis que precisa interpretar. E, como um juiz apenas aplica a lei, a lei por si mesma nunca é aplicada em sua severidade.
Preciso encerrar este artigo devido ao espaço da coluna, mas confesso que ainda deveria falar da violência, das invasões de propriedades, da má distribuição de riquezas e da utopia deste país que engana o povo: o futebol.
Mas quero deixar um recadinho ao Presidente Lula – sei que não chegará nele mesmo. Presidente, você foi eleito como a esperança do povo desta nação. Você era o Saul que o povo esperava – uma alusão ao primeiro rei de Israel. Mas você, como todos os demais está encantado com as benesses do poder, afinal, seu futuro, mesmo depois de deixar a presidência está garantido. Você Lula, dirá que não é possível mudar um sistema de 500 anos em oito de governo. Poderia sim, presidente. Mas, falta vontade política. Nós, presidente, os aposentados como eu, temos que trabalhar até 14 horas por dia para poder compensar as perdas de nossos benefícios durante seu mandato. Só não esqueça de uma coisa: o Deus que colocou Saul para governar, preparou um substituto melhor. Certamente, teremos ainda um presidente melhor que o Lula para fazer justiça social nesta nação, e não engabelar o povo com promessas todos os dias. Bem. Tem gente com saudades do Collor. Pergunte aos funcionários públicos.
O inferno será pequeno para tanta gente que merece ir pra lá.