“O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós” (Ec 1.9).
Minha neta de 14 anos me perguntou se eu tinha uma máquina de escrever. Lá num canto sob o depósito da escada eu havia guardado minha velha Remington Rand com a qual produzi dois livros, e escrevi tantos artigos. Eu a abandonei logo que comprei meu primeiro computador, um velho Apple TK 500, com o qual trabalhava no DOS antes de surgirem os modelos 286 que hoje são peças de museu. Eu não guardei a máquina de escrever; eu a abandonei por não me ser mais útil! Meu primeiro livro, O Ministério de Louvor da Igreja escrevi-o ali, e devo ter gastado umas quinhentas folhas de “papel ofício”, porque a cada erro, retirava a folha e punha uma nova no rolo.
Qual não foi minha surpresa minha neta se encantou com a máquina de escrever. Nunca havia datilografado numa máquina assim. Ela nasceu na era da informática em que os computadores mostram tudo na tela e os teclados são silenciosos e macios. Ensinei-a a pôr o papel no rolo, a trocar a fita e a escrever. Eu mesmo tentei datilografar e já não tive a mesma habilidade que tivera anos atrás. Sem a velha Remington escrever se tornou uma arte mais fácil, rápida, limpa e emocionante.
Minha neta passou a tarde mexendo na velha máquina e a levou consigo para a cidade onde reside. Fiquei sabendo que lá, reuniu suas amigas da mesma idade e passaram juntas uma tarde mexendo na velha máquina de escrever. Fiquei surpreso porque não imaginava, nem me passava pela mente que a nova geração desconhecia uma simples máquina de escrever.
Os mais jovens um dia descobrirão o valor das coisas antigas; dos hinos que cantávamos trinta ou quarenta anos atrás; das pregações bíblicas e eloquentes, e do comprometimento de nossos pais com o Evangelho de Jesus Cristo. Assim como não valorizei mais minha máquina de escrever porque a modernidade abriu novos meios de se escrever, da mesma forma, acredito, relegamos como trapos da história tantas coisas que nos foram úteis no passado.
Ah! Velha Remington cujas teclas apertei voraz e ardorosamente escrevendo livros; a modernidade afastou você para os porões da história, mas jamais esquecerei que você fez parte da minha história e da minha vida.
Prometo que vou guardar você, velha Remington com carinho!
Foi então que perguntei à minha neta, por que tanta empolgação com uma velha máquina ultrapassada pelo tempo. Ela me disse: – Meu avô, os adolescentes de hoje vivem tão sobrecarregados com as perspectivas e as demandas do futuro; vivem acossados por metas e conquistas quase impossíveis de serem alcançadas, que muitos deles estão em busca da simplicidade, passando a amar as coisas simples, sem fingimento, e uma máquina de escrever, por ser tão simples, revela o quanto nos envolvemos com o que é novo, perdendo do passado as perspectivas das conquistas. Esta máquina representa a simplicidade e a objetividade. Porque o computador nos remete para tantos campos que perdemos de vista o que tínhamos em mente escrever.
Na velha máquina o escritor dependia apenas de sua criatividade; no computador ele já não é criativo, porque acessa os sites e copia o que os outros escreveram. As pessoas que trabalhavam em máquina de datilografar preocupavam-se em não errar; hoje erramos e nem nos preocupamos porque o programa do computador corrige tudo. A velha máquina de escrever não dizia se a palavra era escrita com z ou com s; a pessoa que escrevia tinha de saber. Por isso vovô, uma máquina de escrever é sincera; o computador não, porque o computador copia enquanto a máquina de datilografar criava a partir nada!
Valeu minha neta!
Faz todo o sentido, hoje em dia buscamos sempre coisas novas e perdemos aquelas raizes que nos era tão importante, as coisas que são mais importantes na vida estão na simplicidade de um sorriso ou de um abraço, o calor humano é e sempre vai ser o melhor meio de comunicação atravez do amor demonstrado olho no olho.
Obrigado César por suas considerações. Escreva sempre!