O tema deste artigo surgiu como fruto de um estudo sério e profundo que realizei sobre o mundo espiritual do Rio Grande do Sul, Estado onde tenho passado a maior parte de meu ministério pastoral. Obviamente que o mundo espiritual daqui não difere de outras partes do Brasil, não fosse um quesito especial: a influência do humanismo e do positivismo do francês Augusto Comte na cultura gaúcha, trazida da França e implantada nestes pagos pela histórica figura de um ex-governador, Júlio de Castilhos e de outros políticos de sua época como Borges de Medeiros e Oswaldo Aranha.
O positivismo não aceita nada que seja da área da metafísica ou da teologia. O professor Arnoldo Doberstein que leciona na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre e que fez um levantamento minucioso das estátuas em prédios e praças ao abordar os monumentos de nosso estado, afirma que os “principais líderes do republicanismo positivista rio-grandense eram confessadamente materialistas e ateus” bem como grande parte da intelectualidade e da sociedade em geral. No positivismo a necessidade de expor os feitos humanos é muito forte, e Arnoldo Doberstein afirma que o estado precisava mostrar grandeza e magnificência, o que ocorreu durante os governos de Julio de Castilhos e Borges de Medeiros, e foram eles os que mais se empenharam em modernizar a Cidade de Porto Alegre (DOBERSTEIM, p 26).
Aliado do positivismo, o humanismo é como um grande guarda-chuva que protege e dá cobertura ao pensamento cultural do estado. É o sentimento de que não precisamos da ajuda de ninguém, nem de fora nem mesmo de dentro. E isso é tão forte que respinga sobre a igreja e seus pastores.
Apesar do pensamento positivista dispensar o transcendental e o místico – isto é tudo o que tem a ver com fé e religião – coube a Júlio de Castilhos convidar um refugiado africano a se instalar em Porto Alegre. “Atormentado por dores atrozes na garganta, Castilhos empreendeu a conselho de Oswaldo Aranha uma viagem secreta a Pelotas no ano de 1901, em busca de um negro que produzia curas inacreditáveis… Ao se despedir de seu anfitrião, carregava mais três anos de vida, dois a mais do que os médicos tinham lhe prometido. Meses depois, em 4 de abril de 1901, o príncipe e seu séqüito instalavam sua corte na Rua Lopo Gonçalves (em Porto Alegre)”. (Jornal Zero Hora).
Mas quem é esse homem? Diz a reportagem sobre ele: “Quando o império britânico obrigou Custódio Joaquim de Almeida, rei de Benim, a buscar exílio em terras distantes, ele curvou seus mais de dois metros de altura e jogou os ifás. Os búzios apontaram para o Brasil. Depois de peregrinar em vão pela Bahia e Rio de Janeiro, os ifás indicaram o Rio Grande do Sul como uma espécie de terra prometida, onde o príncipe negro iria cumprir sua grande missão e seria respeitado como o mais forte religioso-político da história. O lugar onde o rei deposto recuperaria o trono”. A reportagem insinua que ele exerceu o poder através da esposa de Borges de Medeiros, Carlinda, e influenciou o ainda jovem Getúlio Vargas.
Ao estudar a história de como um discípulo de Augusto Comte se rendeu ao poder espiritual de um africano, quando no Estado sequer havia seguidores das religiões afro, pude refletir que, o humanismo e o positivismo sempre se renderão ao que é místico e transcendental. Foi assim com os gregos e romanos. A Grécia, apesar de sua intelectualidade e filosofia se rendia aos poderes mágicos do templo de Delfos, para onde se dirigiam imperadores à busca de predições sobre o futuro de seus governos. Os imperadores romanos não apenas se rendiam a Delfos como freqüentavam a montanha de Sibila, de onde saiu o famoso oráculo sibilino. Os oráculos de Delfo e de Sibila eram parte do cardápio espiritual dos governantes daquela época. Da mesma maneira, nossos presidentes e governadores recorrem aqui no Brasil ao prognóstico de seus líderes espirituais, e como não lhes fica bem participarem das reuniões em seus templos, trazem os líderes para o palácio ou para suas residências.
Portanto, se a magia e a capacidade de produzir milagres e de fazer predições convencem o positivista da necessidade de atentar ao que é imaterial e espiritual, temos de recorrer ao evangelho de Cristo, usando do poder e da força que ele nos deu para produzir milagres e levar a sociedade secular e positivista a se render aos pés de nosso Senhor Jesus Cristo.
Como a igreja se intimida e não usa de sua autoridade e dos recursos espirituais que lhe foram concedidos por Jesus, ela abre espaço para que as forças do mal atuem livremente entre nossos governantes.
No Novo Testamento encontramos a presença de quatro elementos que fizeram a diferença na pregação do evangelho dos primeiros dois séculos: Manifestação do poder de Deus, qualidade de vida pela didaquê, prática da justiça social e unidade dos seguidores de Cristo. Precisarei de mais dois ou três artigos para falar da qualidade de vida, ou ensino apostólico e da justiça social, ou prática das boas obras.
Assim, o primeiro e poderoso elemento que encontramos na igreja do primeiro século era a pregação do evangelho com manifestações de milagres e de poder. Se a igreja deixar de usar desta graça concedida por Cristo, facilmente se deixará levar pelo humanismo religioso, aliás, mais pernicioso na igreja que o positivismo, já que este último não tem lugar entre o povo de Deus.
Paulo descobriu que um dos alicerces do evangelho do reino de Deus é o poder de realizar milagres. E foi Jesus quem se referiu aos milagres como manifestação do reino de Deus na terra. “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres” (Mt 11.4-5). Uma igreja não pode, em hipótese alguma, desprezar a manifestação de sinais e prodígios porque através dos milagres as pessoas se voltam para Deus.
Paulo e Barnabé se defrontaram com um milagreiro quando estavam na ilha de Chipre; Barjesus não era apenas milagreiro, era assessor político do procônsul Sérgio Paulo. A típica figura do assessor – figura comum – nesses dias entre os políticos brasileiros que não medem esforços de gastar com seus “guias” ou líderes espirituais, tendo-os como gurus ou guias na política. Afinal, quantos são os políticos que se protegem atrás dessas figuras sombrias do mundo espiritual? Os milagres atraem as pessoas para Deus – quando realizados pelo poder de Deus; e para Satanás quando realizados por seus ministros. Um assessor milagreiro era tudo o que queria o procônsul, da mesma forma como muitos políticos e empresários nos dias atuais.
Um líder romano vergava-se diante de Barjesus e depois, vendo que Paulo era ainda mais poderoso, desprezou o milagreiro e ouviu a Paulo, servo do Senhor. A propósito, os operadores de milagres deveriam sair do seio da igreja, e não de terreiros do ocultismo.
No Novo Testamento uma palavra define essa energia espiritual, é energema, na maioria das vezes traduzida como “poder” ou “eficácia”. O comentarista Strongs afirma que a palavra “energema” refere-se a energia de Deus ou do Diabo! “E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder…” (Ef 1.19).
No caso da igreja a “energia” ou poder de operar milagres vem de Deus! No caso de Barjesus sua capacidade de operar milagres provinha do Diabo! “Ora, o aparecimento do anticristo é segundo a eficácia de Satanás” afirma Paulo (2 Ts 2.9).
Há uma energia espiritual em Deus, mas também em Satanás que se opõe a tudo o que é de Deus. Em todos os confrontos descritos na Bíblia e ao longo da história cristã, Deus sempre vence!
A igreja conta com essa capacidade de operar milagres pelo poder de Deus, uma capacitação concedida a todos os que crêem. Certamente que uma das maneiras do evangelho ser aceito numa sociedade pluralista – em que há tantos deuses e filosofias – é manifestando o poder de Deus. Um evangelho sem operação de milagres, curas e manifestações de poder a ninguém convence. Porque apelará apenas ao intelecto.
Paulo fala deste poder em 1 Coríntios 4.20: “porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder”. E a palavra poder aqui é “dínamo”, algo que vem de dentro para fora. Poder de Deus residente em nós. Por isso, ouso afirmar que a igreja para vencer, seja aqui ou noutro lugar, tem de operar milagres e viver nas manifestações de poder.
As manifestações de poder e de milagres são a resposta de Deus a uma sociedade humanista e positivista que poderá se render a Cristo ao vir as manifestações de Deus na terra. Teoricamente, os humanistas e positivistas não aceitam a metafísica, isto é, nada que seja empírico, que tenha relação de alma e espírito ou espiritual. Apesar disso, vale observar como o humanismo e o positivismo, ao contrário do que pregavam seus filósofos, se rende ao místico. Como aconteceu durante o período de Julio de Castilhos em que ele se rendeu a atuação mística do africano Custódio Joaquim de Almeida, a sociedade se renderá ao poder de Deus.
É inexplicável, por exemplo, o que acontece no governo ateu de Fidel Castro, na ilha de Cuba. A santeria, ou o candomblé de lá é aceito pelo governo como uma espécie de religião nacional. Eu mesmo fiquei surpreso ao descer no aeroporto de Havana e ver que os turistas são recepcionados pelo pessoal da santeria. Enquanto os evangélicos são vítimas de uma perseguição branca em Cuba, com os pastores tendo seus passos cuidadosamente controlados pela polícia, a santeria é livre.
Observe o interesse da sociedade européia – humanista e secular, que despreza a igreja – pelo sobrenatural. Como pode uma sociedade render-se às obras de J.K.Rowling e o menino-bruxo Harry Potter? Na realidade o ser humano não consegue se desvencilhar – por mais que queira – da busca de sua identidade espiritual. Até mesmo os positivistas e humanistas rendem-se diante do sobrenatural. E se renderão ao virem as manifestações do poder de Deus na vida da igreja!
Paulo descobriu que de nada adiantava discutir filosofia com os gregos. Em Atenas, viu seus esforços frustrados, e não deixou ali igreja. Os seguintes textos são importantes:
“Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15.18-19).
“Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (2 Co 12.12).
“Porque o nosso evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas também em poder, no Espírito Santo e em plena convicção. Vocês sabem como procedemos entre vocês, em seu favor” (1 Ts 1.5).
“Deus também deu testemunho dela por meio de sinais, maravilhas, diversos milagres e dons do Espírito Santo distribuídos de acordo com a sua vontade” (Hb 2.4).
“Nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1 Co 1.23-24). Ver ainda 1 Co 2.1-5.
A igreja precisa aprender a dispor dessa grande arma evangelizadora que é o poder de Deus. Os milagres são importantes e são uma obrigatoriedade do povo de Deus numa sociedade humanista. Mas a sociedade aceita bem o milagre se este vir acompanhado de um segundo aspecto: a qualidade de vida do povo de Deus, tema que abordarei em outro artigo.
Estas manifestações do poder de Deus, nem preciso comentar, eram fruto de uma vida de oração constante. Antes de abordar o segundo aspecto, deixe-me dizer que, uma igreja que ora é uma igreja de poder. A igreja do livro de Atos vivia em oração. Os apóstolos também. Pouca oração, afirmam os pregadores, pouco poder; muita oração, mais poder.
GOSTEI. QUERO VER OS OUTROS ELEMENTOS
Enviei para você os demais “elementos” em e-mail separado.
Pr. Joao,
por favor, me envie por email os demais elementos presentes na igreja primitiva. Se possivel, as transparencias que se vê na ministracao.
Graca e Paz do nosso Senhor Jesus Cristo.
Okay. Enviei tudo num e-mail à parte.