“O homem vê o exterior, porém, o Senhor, o coração” (1 Sm 16.10).
Este tem sido o grande problema de nós cristãos e pastores: Costumamos analisar a vida de uma pessoa por aquilo que ela aparenta ser e por aquilo que faz.
Quando Samuel escolheu a Saul como rei de Israel 27 anos antes, por indicação de Deus, observou que Saul era formoso e o mais alto dentre os homens de Israel. “Era o mais alto e sobressaía de todo o povo do ombro para cima” (1 Sm 10.22).
No jantar na casa de Jessé, Samuel se deixou enganar pelas aparências ao observar a beleza e o porte físico de Eliabe, o primogênito dos filhos de Jessé. Os profetas também erram. Mas, não quero falar sobre os erros dos profetas. Poderia citar o “fora” de Gade em 1 Crônicas 17 e poderíamos desestruturar alguns dos profetas do Antigo Testamento.
Quero lhes falar do coração do homem, porque é sobre isto que se refere o Senhor a Samuel. E Deus acentua a maneira como ele vê e como nós vemos: Nós conseguimos avaliar uma pessoa pelo exterior, mas Deus não olha para o homem nem o escolhe para si por ser este alto, forte, musculoso, loiro, negro, moreno, baixo, magro ou gordo. Deus não escolhe uma pessoa porque é rica ou pobre, porque sabe falar bem ou não. Seus critérios de escolha são-nos ocultos, apenas temos um indicativo de que ele vê o coração.
A propósito, como está seu coração? Postei aqui no site o artigo “A Essência da Adoração” baseado em 2 Crônicas 16.9 – “Quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele”. Novamente, o coração.
Deixamo-nos impressionar por pregadores eloquentes; por fazedores de milagres, por tele-evangelistas – com alguns deles que se apresentam com os ternos mais caros da praça, unhas bem feitas, polidas e pintadas, bem maquiados, em que as câmeras trabalham para que o homem apareça bem. Deixamo-nos impressionar por músicos e cantores que tocam bem, que têm boa voz, que choram, riem e se condoem enquanto cantam; deixamo-nos impressionar pela intelectualidade de alguns pregadores, etc.
E Deus, como vê essa gente?
Desculpe-me dizer-lhe, mas às vezes sinto que Deus anda enojado de nós. O pregador que ouvi outro dia contou tanta vantagem sobre si mesmo, falou tanto de sua prosperidade, das riquezas que amealhou em tão pouco tempo que senti que Deus havia fechado os ouvidos para não ouvir tanta baboseira. E disse tantas incoerências bíblicas e teológicas que Paulo deve ter se mexido no sepulcro à procura de sua cabeça que havia rolado no tronco em que foi decepada do corpo.
Deus procura corações sinceros. Esta é a tônica nas Escrituras. Davi sabia disso, por isso dizia em sua oração: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos”.
E ele não procura apenas os corações sinceros: Procura os que têm motivações corretas. Veja como pode ser a motivação do nosso coração:
1. A pessoa dá o dízimo, porque tem medo de ser amaldiçoada. Não o dá de coração.
2. Dá ofertas na igreja porque espera receber em troca alguma dádiva divina. E os pregadores sabem barganhar com isso. Semeie e você colherá. A questão não é a semeadura cujo princípio é natural e bíblico – mas semear para poder lucrar. O coração quer mais. A ganância está dentro do coração. A mesma ganância financeira de obter lucros nos negócios é transferida para as ofertas que são trazidas a Deus.
3. Pergunte a uma pessoa por que ela está jejuando e se consagrando? Ela lhe dirá: Estou jejuando porque quero ter mais poder. Por que você quer ter poder? Ela responderá: Para curar os enfermos e expulsar os demônios. Mas, pra que expulsar demônios e curar os enfermos? Ao fim e ao cabo você descobrirá que a motivação do jejum é para obter poder, para ter um grande ministério, para ter uma igreja e poder se sustentar.
Este é o coração de muitas pessoas que jejuam, oram e se consagram a Deus. O interesse delas é no que poderão realizar como resultado de sua consagração. Não é o que Deus irá obter; mas o que ela obterá.
4. Pergunte a alguém por que quer ser pregador da palavra de Deus; por que quer trabalhar na igreja e verá que a motivação é sempre a própria pessoa, ainda que se oculte sob a capa de santidade e do poder de Deus.
E nesse sentido o cantor grava seu Cd não porque tem uma missão a fazer, mas porque acha que é importante que todos saibam que ele é um bom compositor e que canta bem. Da mesma forma os pregadores. O foco não é Deus, mas eles mesmos.
Como é difícil ser honesto consigo mesmo!
5. Nos dias de Pedro e João havia dois apóstolos e um Simão. Hoje são milhares de Simão e nenhum apóstolo. Quando Pedro e João pregavam em Samaria, Simão, o mago ficou impressionado com os milagres que os dois apóstolos realizavam. “O próprio Simão abraçou a fé”, diz o texto e ficava extasiado “observando os sinais e grandes milagres” que os apóstolos faziam. Ele também queria realizar milagres, e ofereceu dinheiro aos dois para receber o Espírito Santo. Ele queria ter poder para impor as mãos e as pessoas ficarem cheias do Espírito Santo. O que Pedro lhe respondeu? “Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus”.
Hoje pregadores e cantores são abertamente discípulos de Simão, porque seus corações não são retos diante de Deus. Ora, um cantor que cobra a exorbitância de 5 a 35 mil reais para apresentar algumas músicas; e opta por cantar em rodeios e shows mundanos mostra descaradamente que o seu coração não é reto diante de Deus. E canta para igrejas lotadas de pessoas cujos corações não são retos diante de Deus. E o povo que não é reto diante de Deus sustenta essa malignidade gospel em nossa nação.
Pregadores há que cobram a exorbitância de 5 mil a 15 mil reais por pregação, porque seus corações não são retos diante de Deus.
Em vez de a igreja ouvir a João e a Pedro, está ouvindo os discípulos de Simão. Simão deu a volta por cima; ficou famoso. Afinal, tem dinheiro, aparece na mídia, e conseguiu obscurecer os verdadeiros apóstolos.
Deixe-me dizer-lhe esta palavra séria, meu irmão: Às vezes percebo que os membros das igrejas preferem dar ouvidos a Simão, o mágico, que canta e dança bem; que prega e convence, que faz milagres e é eloquente, porque eles também têm um coração como o de Simão. Veem nele o protótipo do cantor e do pregador, do fazedor de milagres que gostariam de ser um dia.
Será que Deus não está ficando enojado disso tudo? “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é que o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”.
Meu irmão. Como está seu coração? O que o motiva a louvar, a contribuir, a adorar e a pregar o evangelho? O que o motiva a ouvir Simão realizar milagres, cantar e pregar?
Sua motivação é Deus ou Deus é apenas a motivação que por fim trará sucesso a você?
E o pior é que, muitos deles não terão tempo sequer de se arrepender de suas práticas erradas.
Pense nisso.