Pluralidade da Fé – Parte II

A teologia da igreja está contaminada pela filosofia; seja esta humanista ou positivista. Vê-se com maior intensidade como o humanismo e o positivismo infiltraram-se na doutrina da igreja como se fossem elementos importantes da fé. Tanto o humanismo quanto o positivismo firmam-se na premissa de que o homem pode conseguir realizar o que quiser sem precisar apelar para Deus ou para a fé. A diferença entre o humanismo é que um humanista pode crer em Deus e em Jesus Cristo, mas pode viver independente deles. Já o positivismo vem firmado no ateísmo. E pode se perceber que também, na teologia infiltraram-se elementos ateus, camuflados de fé.

Posso citar como exemplo algumas coisas que são incompreensíveis ao pensamento ocidental, como o ensinamento da 4ª. Dimensão do coreano Paul Young Cho – cuja igreja visitei duas vezes na Coréia – o poder da mente, antigamente preconizado por Norman Vicent Peale e modernamente aceita na igreja de Cristal do Robert Schüller, mas também adaptado à fé positiva. Seu aspecto mais popular é da teologia da prosperidade em que a pessoa pode “dar ordens” e tomar “posse” do que Deus tem para ela, independentemente da vontade de Deus. A sutileza entre fé e pensamento positivo, tema que abordo em outro artigo vem desviando as pessoas da verdadeira fé em Cristo Jesus para uma fé mais mental, menos transcendental, fé que exige mais “concentração” mental do homem do que relacionamento com  Deus.

Do Pentecoste ao Pluralismo

“No dia de pentecoste as igrejas cristãs de todos os Estados Unidos explorarão e experimentarão outras tradições religiosas… Ficamos perto de Deus, crescemos em compaixão, e entendemos melhor nossa tradição honrando e explorando as religiões mundiais.” (Centro para o progresso do cristianismo in www.tcpc.org).

“Não se trata de tolerância, apenas, mas sim em ir além da tolerância, ao princípio do pluralismo. Os fundamentalistas têm uma visão pessimista do futuro, e possuem esta percepção… de que existe um abismo enorme entre o crente e o descrente… Não cremos assim”, afirmou Richard Cizik da Associação Nacional dos Evangélicos. (Em sua palestra no Clinton Global Initiative: Mitigating Religious and Ethnic Conflict).

“Esta é a nova espiritualidade do falso evangelho da unidade. Somos todos um. Nosso caminho não é o melhor; nosso caminho é meramente um outro caminho” (Tamara Hartzell, In the Name of Purpose – Sacrificing Truth on the Altar of Unity).

Não é mais segredo que o sistema mundial atuante é dirigido pela visão da solidariedade global e pelo pluralismo espiritual. Não conhecemos o cronograma de Deus, mas ele nos advertiu anos atrás a que nos preparemos para uma época de declínio da fé, quando as pessoas sentirão comichão nos ouvidos, negociando a fé e rejeitando a sã doutrina. Fomos advertidos a nos protegermos de todo engano. Esta advertência aponta claramente para os nossos dias. (2 Ts 2.1-4; 2 Tm 4.3; Mt 24.25, 42-44; 25.13; Lc 21.34; 1 Co 16.13).

A escritora cristã Tamara Hartzell cita Alice Bailey o ocultista famoso, cuja fonte de inspiração e informação era o seu guia espiritual, um espírito, Djwhal Khul:

“Chegará o dia quando todas as religiões reputarão ou considerarão que emanam de uma única grande força espiritual; todas serão vistas como uma só unidade, mostrando a mesma raiz de onde a religião universal inevitavelmente emergirá. Então, não haverá cristão nem pagão; judeu ou gentio, mas simplesmente um grande corpo de crentes procedentes de todas as religiões atuais. Elas aceitarão as mesmas verdades, não como conceitos teológicos, mas como algo essencial à vida espiritual… Esta religião mundial já não é um sonho, mas algo que definitivamente está se formando hoje” (Alice Bailey & Djwhal Khul, Problems of Humanity, Chapter V – The Problem of the Churches, III. The Essential Truths, 1947 (www.bernie.cncfamily.com).

Tamara afirma que esta foi uma predição psicografada pelo demônio e mentor de Bailey em 1947 bem antes que acontecessem as grandes transformações sociais. As três décadas seguintes trouxeram mudanças radicais. A psicologia humanística, a educação multicultural e o processo dialético e tantos outros esquemas transformadores foram semeados e começaram a frutificar nos laboratórios educacionais da América. Usando tecnologia de ponta criaram meios para manipular as mentes, mudar os valores e minar as verdades bíblicas.

Seminários e universidades abraçaram a nova maneira de pensar e logo a revolução varreu também as igrejas. O pós-modernismo rejeitou a verdade e os valores que fizeram a América – substituído pelo pluralismo. O impensável se tornou a norma.

A hostilidade contra o cristianismo bíblico inflexível rapidamente cresceu, expondo hoje pessoas de mentes duplas que mudam a verdade para agradar as pessoas e ampliar sua influência. Medite nestas três declarações feitas por importantes líderes cristãos. Eles ensinam a verdade divina ou promovem uma distorção popular da pós-modernidade?

1. Billy Graham fez esta declaração em 1997 numa entrevista a Robert Schüller: “Penso que todos os que amam a Cristo, ou o conhecem, estejam estas pessoas conscientes ou não, elas são membros do corpo de Cristo… Ele está chamando as pessoas deste mundo por seu Nome, venham estas do mundo islâmico, do mundo budista, do mundo cristão ou dentre os que não crêem. Estes são membros do Corpo de Cristo, por haverem sido chamados por Deus. Pode ser que nem conheçam o nome de Jesus, mas sabem em seus corações que precisam de algo que ainda não têm, e voltam-se para a única luz que eles têm; e creio que são salvos, e que se encontrarão conosco nos céus. (Billy Graham entrevistado por Robert Schuller em 1997. Postado no site do pastor John McArthur: Billy Graham Believes Catholic Doctrine of Salvation Without Bible, Gospel, or Name of Christ at http://www.biblebb.com/files/tonyqa/tc00-105.htm). Deus, no entanto, disse: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho” (Mc 16.15). A fé tem de estar alicerçada na verdade, isto é, no Cristo crucificado e ressuscitado (At 4.10-12).

2. Rick Warren disse algo parecido que torce seu compromisso com as Escrituras. Assim se expressou em uma audiência das Nações Unidas e também num programa da CNN: “Você pode ser um católico, protestante, budista, batista, muçulmano, mórmom ou judeu, ou alguém sem religião alguma. Não me interesso por sua religião, porque Deus não criou o universo para quem tivéssemos religião. Veio para que nos relacionássemos com ele. (United Nations, Interfaith Prayer Breakfast, September 2005, transcrito do áudio da mensagem de Rick Warren disponível na Lighthouse Trails Research Project, “The New Missiology — Keep Your Own Religion, Just Add Jesus” no site www. Lighthousetrailsresearch.com/missiology).

“Sei de muitas pessoas que crêem no Messias Jesus, não importando a que religião confessam, porque crêem nele. Trata-se de relacionamento, não de religião”. (Entrevista com Rick Warren, CNN Larry King que foi ao ar em 2 de dezembro de 2005, transcrito de http://transcripts.cnn.com/TRANSCRIPTS/0512/02/lkl.01.html).

3. George W. Bush, presidente dos Estados Unidos. Ele também faz inúmeras declarações e comentários que transforma a verdade de Deus numa proclamação pluralística. Você duvida, como eu, se ele realmente crê no que diz! Ou estaria ele apenas tentando agradar os cristãos que nele votaram sem ofender os demais? “Numa entrevista exclusiva com Charles Gibson da rede ABC, Bush disse crer que tanto os cristãos quanto os muçulmanos adoram o mesmo Deus. ‘Eu penso que sim. Temos rotas diferentes para chegar ao Todo-Poderoso’, afirmou Bush”.(Bush em  Religião e Deus no site: www.biblebb.com/files/tonyqa/tc00-105.htm

4. “O mesmo criador que deu nome às estrelas sabe também os nomes das sete almas que velamos neste dia. A tripulação do Colúmbia não retornou em segurança para a terra, mas podemos orar que eles estão seguros em casa”.  (Palavras confortadoras como coisas de fato em www.washingtonpost.com/ac2/wp-dyn?pagename=article).

“Americanos de fé e tradições diferentes compartilham da crença de que Deus (qual Deus?) ouve as preces de seus filhos e se mostra gracioso a todos os que o buscam… Existe poder nestas orações (a deuses diferentes). Peço que os cidadãos de nossa nação agradeçam, cada um conforme sua fé, que orem pela liberdade e pelas bênçãos recebidas, e pela contínua direção, conforto e proteção de Deus”. (Dia nacional de oração –  National Day of Prayer, 2007: A declaração do Presidente dos Estados Unidos da América em www.ndptf.org/press

Diana Eck fundadora do Projeto Pluralismo em Harvard não é um modelo de cristianismo perfeito e, contudo, ao promover o domingo pluralista explica seus sentimentos: “Descobri que minha fé não está ameaçada, mas ampliada e aprofundada ao estudar o hinduismo, o islamismo, as tradições da fé Sikh. Descobri que somente sendo uma cristã pluralista poderei me manter fiel ao mistério da presença daquele que chamamos de Deus… Creio que Deus não é limitado por nossas tradições, doutrinas, dogmas ou textos de quaisquer tradições religiosas… Através disto conectamo-nos à mesma infinita Fonte e ficamos todos unidos pelo mesmo Espírito inclusivo. Para nós, o domingo de pentecoste será pluralista. (Diana Eck, Pluralism Sunday at http://suncath.org/sunburst/index.htm#bookmark03 acessado em 16/05/2007) e http://allison.zaadz.com/blog/2007/4/celebrate_pluralism_sunday_on_may_27).

É possível que estejamos sacrificando a verdade no altar da unidade. Estamos brincando com uma verdade que pode ceifar a vida de milhões de pessoas levando-as a uma eternidade sem Cristo. Assim, poderemos ter uma verdade, e muitas teologias. Um Deus, e muitos caminhos/ uma igreja, e muitas expressões, e uma vida divina, com diferentes Cristos.

Atribui-se a Rick Warren as seguintes declarações:

“A igreja é maior que qualquer organização mundial. Una-se aos muçulmanos, aos hindus, una-se a diferentes religiões e você pode utilizar aquelas casas de adoração como centros distributivos, não apenas para cuidados espirituais, mas como centros de ajuda na saúde. Poderia levar você a milhões de vilarejos… eles vão a alguma igreja. Ou a uma sinagoga. Eles têm alguma coisa. Possuem um local de adoração. E surgiu o que chamo de plano de paz (P.E.A.C.E em inglês). Quando Jesus enviou seus discípulos disse-lhes para entrarem em todas as casas onde houvesse um homem de paz. Agora, esta pessoa não precisa, necessariamente ser um cristão… Você encontra a pessoa da paz e começa o plano. Por que lhes digo isto? Porque vamos a campo em 2006 para mudar o mundo” (Rick Warren).

Em nome da unidade sacrificamos a verdade, quando:

1. O absolutismo é deixado de lado, e o relativismo o supera.

2. A obediência é deixada de lado e o pragmatismo ocupa seu lugar.

3. O ensino é abandonado e o diálogo entra no lugar dele.

4. O  “assim diz o Senhor” é banido e o consenso e a opinião tomam o lugar da palavra do Senhor.

5. As escrituras como padrão de julgamento do certo e do errado são deixadas de lado e a tolerância e a unidade têm de ser aceitas a qualquer custo.

6. O caminho deixa de ser estreito e é alargado para que todos entrem nele.

Um texto da Wikipédia em inglês define que a fé tem cinco doutrinas ou pliares fundamentais: A veracidade da Bíblia; o nascimento virginal; a ressurreição física; a expiação pelo sacrifício da morte de Jesus Cristo e a segunda vinda de Jesus. E que o pluralismo constitui também uma relação de paz entre as diferentes religiões.

O pluralismo religioso pode ser entendido como o ponto de vista universal de que nenhuma religião pode ser considerada como fonte exclusiva da verdade, reconhecendo que alguns níveis da verdade e de valores existem também nas outras religiões.

O pluralismo religioso é um termo usado como sinônimo de ecumenismo que promove a unidade, trazendo cooperação entre as igrejas ou melhorando o entendimento entre as diferentes religiões ou denominações dentro da mesma religião.

Como sinônimo de tolerância religiosa, que é a condição para uma coexistência pacífica entre os membros das diferentes religiões ou denominações. Esta reconhece que as diferentes religiões fazem declarações de fé diferentes, e que cada religião é verdadeira até certo ponto.

À luz do que disseram esses líderes americanos não é de estranhar também a declaração de Leonardo Boff: “Seria também interessantíssimo identificar a experiência espiritual que atua por trás das religiões afro-brasileiras, participadas por milhões e milhões de pessoas em nosso país. É uma experiência profundamente ecológica, ao redor da realidade do axé, que corresponde mais ou menos ao que é o Shi para os orientais ou o Espírito Santo para a tradição judaico-cristã: uma energia cósmica que penetra todo o universo e impregna toda a realidade, concentrando-se no ser humano, fundamentalmente mais na mulher do que no homem, e fazendo com que toda realidade seja irradiante e viva. O exu não é o demônio que devemos expulsar, mas o portador por excelência do axé, como força de irradiação, como abertura para captar mais energias e colocá-las a serviço dos demais” (Boff, Leonardo, Espiritualidade, Editora Sextante, pp 63-64 edição de 2001).

Discernir a verdade da fé cristã e separá-la das influências filosóficas é tarefa para os profetas e apóstolos de hoje.

Às vezes uma dúvida me assombra como uma nuvem com seu espectro negro estendendo sua sombra em minha mente: Estou tão ignorante das verdades bíblicas que não enxergo o pluralismo como alvo bom e relevante à fé cristã ou realmente estou certo quando defendo a fé simples e objetiva das escrituras sagradas?

Ainda volto ao tema sobre o verdadeiro pluralismo bíblico.

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